Despedida

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Tudo estava como um quadro vazio, um quadro em branco, tudo havia perdido a cor, o sol parecia não brilhar como antes, os pássaros pareciam sem ânimo pra cantar como sempre faziam, e a certeza de um novo dia havia se dissipado para dona Ângela

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Tudo estava como um quadro vazio, um quadro em branco, tudo havia perdido a cor, o sol parecia não brilhar como antes, os pássaros pareciam sem ânimo pra cantar como sempre faziam, e a certeza de um novo dia havia se dissipado para dona Ângela. Depois de 2 semanas intensas, seu corpo padecia a cada dia, a cada hora que passava, Camila e Lauren foram lá em todos esses dias, estiveram presentes pra dar forças, pra conversar e fazê-la rir, e o mais importante, preparar e ajudar Alanis que estava deprimida, então veio o que ela temia, ela não sentiu dor, ela apenas dormiu e não voltou a acordar, as flores chegaram no quarto, Alanis foi até a cama e segurou em sua mão levando até os lábios para beijar como sempre fazia, mas notou a diferença, estava fria, então gritou pelo nome da mãe, sem resposta, seus gritos se tornaram tão altos que os enfermeiros chegaram ao quarto, ela pediu para que a reanimasse, elas tentaram, mas não havia mais jeito, não havia mais vida ali, ela havia partido, fora descansar, a doença não a venceu como alguns médicos achavam, ela apenas chegou no limite e chegou a hora de descansar a alma, estava doloroso demais, os remédios não serviam mais. Lauren se encarregou de preparar tudo para o velório, Alanis não estava em condições, assim que sentiu que sua mãe havia partido teve que ser sedada para o seu próprio bem, não podiam deixar que ela e o bebê sofressem consequências depois, estava consumado, foi o fim da linha, em sua história havia um ponto final, mas ela se foi feliz, ela teve o carinho de pessoas queridas durantes os dias que precederam a seu óbito.

No fim do dia lá estavam elas, os olhos inundados de lágrimas, o caixão posto no meioda grande sala de seu lar, onde havia criado sua filha, onde havia passado tantos momentos bons até a notícia de sua doença. Alanis chorava próxima ao caixão, via a face imóvel de sua mãe e não conseguia lidar com a morte, ninguém consegue, é algo tão brusco, mesmo que ela já soubesse que isso ia acontecer, mesmo que a gente já saiba que um dia vai acontecer pra alguém próximo ou pra nós mesmos, nunca estamos de fato preparados.

-ela não ficaria contente em te ver assim

-isso é um pesadelo, diz pra mim que é Lauren

-eu sinto muito!

-eu estou sozinha!

-não, você tem a mim e a seu filho

-tem a mim também –Camila segurou no ombro dela

-minha mãezinha, minha amada mãezinha, por favor volta pra mim, eu preciso de você

Ela chorava sem parar, foi feito uma pequena cerimônia onde as pessoas que ali estavam rezavam pela alma da mulher que era tão amada por todos por ter sido tão boa, Ângela era uma mulher apegada a sua fé, ela não tinha uma religião certa, mas ela tinha a fé e isso era o que mais importava para si. Enxugou as lágrimas da face e pegou o microfone que seguravam ao fazerem uma pequena homenagem de corpo presente. Ela respirou fundo, ninguém sabia o que ela ia fazer, mas ficaram atentos.

{quem quiser ouvir :( }

Quero me lembrar de você

Como alguém que sempre ousou sonhar

E acreditar nos sonhos de Deus

Quero me lembrar dos verões

Quero me lembrar das canções

E das lições que me ensinou

Ela ia fraquejar mas Lauren a segurou para que continuasse, ela enxugou as lágrimas e prosseguiu

Se eu pudesse eu voltaria atrás

E te beijaria muito mais

Mãe, ouviria mais os teus conselhos

Sinto tanta falta do teu cheiro

De acariciar os teus cabelos

Mas aprouve a Deus te colher

Minha esperança é que na eternidade eu vou te ver

Na eternidade, sem sentir saudade...

Porque lá no céu

Toda hora é hora de ser feliz

Ela abraçou a prima e voltou a chorar, as pessoas podiam imaginar o quão forte era sua dor, o vazio que estava dentro dela, algo que não podia ser preenchido, a realidade dizendo o tempo todo: ela agora estará viva só na sua memória e no seu coração. A realidade de que não teria mais o toque, o som da risada, tudo que ela queria agora era poder voltar no tempo, de quando era criança e sua mãe lhe pediu um favor e ela quis negar, ou fingiu não ouvir, ela daria tudo pra ter só mais um momento, por ter aproveitado mais, mas não pense mal de Alanis, ela foi uma boa filha, mas como toda criança já teve seus momentos de rebeldia. Agora já sendo mulher agradecia por tudo que conseguiu se tornar, seus valores, seu caráter, devia tudo a ela, a sua mãe, a quem a ensinou a ser uma boa pessoa.

Já no cemitério o padre fez todas as preces necessárias, de familiares era apenas Lauren e Alanis, a maioria dos que estavam ali presentes eram amigos. A garota via tudo um pouco embaçado por causa das lágrimas, mas avistou uma figura masculina se aproximando

-eu não acredito nisso! –Lauren disse baixo

Zac vinha segurando algumas flores nas mãos, estava de terno e de óculos escuros, tocou o ombro da moça que se virou e achou que estava vendo coisas, mas não, ele estava mesmo ali.

-o que faz aqui?

-eu sou seu chefe, fiquei sabendo e vim dar os meus pêsames

-eu não o quero aqui! Você não é bem vindo

Ele tirou os óculos, olhou para Camila e depois para Lauren, em seguida voltou a fitar a garota

-carrega um filho meu esqueceu? Fiquei preocupado com o seu bem estar

Ela não sabia como ele conseguia ser tão sínico a esse ponto

-o filho é meu! Apenas meu, respeite a minha dor e saia daqui

-você não ouviu o que ela disse

Lauren segurou na gravata dele

-por favor, briga aqui não –Camila disse

O homem levantou as mãos em rendição

-arrumou um machão hein Camila?

Ele queria provocar a garota mas ela engoliu em seco, serrou o punho e respirou fundo

-ou você sai daqui por livre e espontânea vontade ou eu te coloco pra fora na porrada

Ela sorriu sínico e então se retirou, ainda as encarou de longe antes de entrar no seu carro e ir embora. A pior parte foi quando fecharam a tampa do caixão, foi o último adeus, a última vez que vira o rosto de sua mãe, depois que desceu a cova e veio a areia ela quis ir junto, ela tentou se jogar, estava desesperada mas a seguraram.

-por favor, tente se acalmar, pense no seu filho

-não!! me larga!! Isso não pode estar acontecendo

Chorava e tentava se soltar dos braços de sua prima até o momento que jogaram a última pá de areia e então foi posto a lápide, em memória de Ângela Morgado.

Bad Things - CamrenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora