Capítulo 1 - A vila

24 1 0
                                    

"Sempre viajei muito, por vários países e lugares destes reinos tão longínquos... Achei uma pequena vila para ficar. Um lobo não é mais bem-vindo em qualquer lugar..."

O dia ainda era quente e ensolarado, típico de primavera-verão nesta parte do reino.

O Vilarejo era grande, mas muito espaçoso, com várias ruas de terra batida. Sempre que alguma carroça puxada a cavalo passava, a poeira se levantava e as donas de casa iam a janela reclamar com os mercantes que passavam. Eles nunca ouviam as pobres senhoras, e eu ficava olhando do alto de um muro feito de pedras cinzas, sempre sentado com as pernas balançando para frente e para trás.

Neste dia quente, eu estava usando apenas uma bermuda leve mas um pouco grossa, da cor de meus pelos pretos, sempre gostei de sentir o vento no meu pelo, e nessa época de calor, ele é forte e mais húmido por passar por dentro da floresta que havia em frente ao vilarejo, muito bom de sentir.

Às vezes eu me sentava na ponta olhando os caminhantes que entravam e saiam sempre apressados pelo espaço vazio entre a ponta do muro que eu estava, e a outra para as suas entregas dentro e fora do vilarejo, e outras vezes, mas muito mais raras, alguma criança me via sentado lá e corria assustado para a humilde casa deles, feita de madeira e pedra com vários galhos (alguns poucos de tijolos, para os mais poderosos) e palha amarrada em cima da madeira do teto para dar uma aparência mais leve.

- Olhe mãe! – Voltava o garotinho puxando a mão da mulher, já com alguma idade – ali está o fantasma de lobo que eu lhe falei! – Parava de puxa-la e apontava nitidamente para mim.

- Não vejo nada filho... – respondia a mulher sem me ver sentado no muro – vamos filho... –dizia ela começando a puxa-lo sem muita força - você está a muito tempo no sol brincando. – Terminava ela de falar já levando o filho embora.

Sempre que isso acontecia eu me sentia um pouco mal e acabava suspirando, por seus pais acharem que eles estavam tendo algum problema mas, com o tempo, as crianças começavam a simplesmente não falarem mais nada para ninguém, e a vida de todos continuavam a seguir em frente.

***

O tempo passava de maneira sempre complexa. Dias e noites sempre indo e vindo, rápido e devagar. Não conto os dias, não consigo mais, não posso mais.

Eu sempre ia e voltava pela cidade, de dia e de noite. Até o dia em que eu estava olhando um grupo de pessoas curiosas que estavam saindo de uma taberna, não estavam bêbadas, incrivelmente, mas conversavam eufóricas. Eu podia ouvir a conversa mesmo de cima de uma das casas em que eu estava.

A noite estava bela, com o céu riscado por nuvens (os silfos amam trabalhar nessas épocas para enfeitar o céu assim como as fadas para embelezar os campos com flores) e a lua minguante estava grande e brilhante no céu, mas logo voltei as vozes eufóricas dos homens conversando.

- Você não está sabendo? – Perguntou o mais jovem, estava vestido alguns trapos de roupas e segurando uma enxada na mão e um copo de cerveja na outra.

- Claro que não – respondeu o homem mais velho, com uma barba grossa que parecia não ser tirada a algumas semanas, também com o seu copo na mão e a cerveja dentro.

- Isso é só um boato – emendou o terceiro homem, que também havia um copo de cerveja na mão, mas aparentava ser um homem que podia se cuidar mais que os outros dois – estão dizendo por ai que um grupo de forasteiras estão vindo aqui na vila passar uns dias e fazer algumas apresentações – falou ele e começou a explicar o motivo enquanto eu ouvia atento – parece que estão indo ao centro do reino, e terão que passar por aqui, mas ouvi dizer que eles fazem coisas impressionantes! Nenhum cigano ou bobo da corte consegue fazer! – Terminou ele entusiasmado.

- Nossa! – Exclamou o mais jovem – melhor juntar algumas moedas para vê-los então! Sempre quis ver essas apresentações mas, nunca tive uma chance! – Terminou de beber a cerveja rapidamente e deixou o copo na janela da taberna se despedindo apressado e saiu correndo.

- Ele ficou realmente entusiasmado, não é? – Perguntou o homem mais velho para o outro mais bem vestido.

- De fato... ele é jovem e não passam muitas caravanas pela vila, não é? – Falou ele com um sorriso e começou a andar para longe da taberna com a companhia do outro homem.

- Ô... Verdade... – falou o homem colocando a sua mão grossa na sua barba também grossa – Acho bom ter algum divertimento antes deu ir dessa para melhor, não é? – Falou o homem sorrindo- além dessas bebedeiras minhas – terminou sorrindo e caminhando ao lado do outro homem.

- Você vai ter um bom tempo de vida ainda amigo... – Respondeu-o emendando- vamos para casa, mãe deve estar esperando por nós pai – falou satisfeito colocando o braço que nada segurava ao redor do pescoço do homem mais velho, seu pai e seguindo com ele tranquilamente pelas ruas estreitas, até onde pude ver.

"...Um grupo de forasteiras estão vindo aqui na vila passar uns dias e fazer algumas apresentações..." Essa frase ficou ecoando em minha mente enquanto eu me deitava e espreguiçava em cima do telhado coberto com palha e galhos, olhando a lua minguante e a sua luz azulada que tanto me fascinava.

Rapidamente vi voarem alguns pássaros noturnos, e ouvi uma coruja piar no limite da floresta, seria mais uma boa noite e tranquila para se dormir.

O Guerreiro, O Escritor e O AlquimistaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora