Tive muita sorte em conseguir uma bolsa de estudos, oferecida pela escola onde estudava, graças ao meu ótimo desempenho acadêmico. Estava realizando meu sonho com muito esforço e não somente da minha parte, minha mãe contribuiu muito para que eu tivesse a oportunidade de estar no Canadá.

Atravessei a escola toda ao lado de Tamara até chegarmos ao alojamento feminino, que era praticamente grudado ao campus principal. Tamara disse que o masculino ficava no lado oposto e que era idêntico ao nosso. Empurrei a porta e entramos no local, onde havia escadas em caracol e um belo hall com uma mesa de mogno ao centro e poltronas combinando. Subimos as escadas e procuramos pelo meu quarto, o 099.

Assim que abri a porta, vi uma garota de cabelos loiros deitada na cama. Ouvia música tão alto que eu conseguia ouvir de longe. Pedi licença para entrar, mas ela não ouviu, e entrei assim mesmo. Tamara me ajudou a colocar as bagagens no quarto, e agradeci. Disse que era melhor eu descansar da longa viagem e que depois voltaria ao meu quarto para me buscar. Entregou-me a chave e, antes de sair, apresentou-me à minha colega de quarto – que estava tão distraída com a sua música que ainda não havia notado a minha presença. Seu nome era Elisa Elliot.

Deitei, aconchegando-me naquela cama tão confortável. Imaginei como dormiria bem. Era maior e mais espaçosa que a da minha casa, e o quarto também era maior que o meu. Decidi levantar e explorá-lo. No banheiro havia uma enorme banheira e também um pequeno chuveiro para que me ensaboasse. Faria algo inédito em minha vida: todos os dias tomaria banho naquela banheira. Ainda andando pelo quarto, descobri que tínhamos uma pequena cozinha ali. Um frigobar no canto superior e alguns bonitos armários brancos decorando o local.

Voltei para minha cama e, enfim, a garota reparou em mim pela primeira vez. Olhou-me da cabeça aos pés e, logo após, para meu rosto, dizendo suas primeiras palavras desde que cheguei:

— Olá! Sou a Elisa. Seja bem-vinda ao Canadá. – Esbanjou um belo sorriso, que parecia sincero, e entendeu sua mão para que eu apertasse. Elisa era alta, com cabelos longos e lisos, e seus olhos eram muito azuis. — Desculpe não ter me apresentado antes, estava distraída com a música. Serei sua colega de quarto e, se precisar de ajuda para qualquer coisa, conte comigo. Posso mostrar a escola, se quiser.

— Oi. Sou a Marina. Ficaria muito agradecida se me mostrasse a escola, aqui parece ser muito grande, e acho que vou me perder facilmente. – Sorri e apertei sua mão.

Conversamos um pouco e descobri que minha colega de quarto era muito simpática, por sinal, apesar de ter aparentado o contrário no início. Fiquei sabendo também que Elisa era muito popular na escola. Ela me contou sobre suas amizades e sobre sua vida.

Elisa estudava no colégio desde que seus pais faleceram e teve que ir morar com os tios, quando tinha dez anos. Eles queriam que sua educação fosse a melhor e, desde então, ela estava no Canadian Academy Boarding School.

Contei sobre minha vida no Brasil, sobre minha antiga escola, e também sobre meu pai que faleceu há três anos por conta de uma doença neurodegenerativa chamada Esclerose Lateral Amiotrófica. Aproveitei para falar da minha mãe e da minha irmã mais nova, a Melissa, narrei as aventuras daquela danada que dava muito trabalho mesmo com quatro anos. Como podia ser bem desobediente quando queria, mas era grudada em mim, eu tinha um carinho muito grande por ela. Minha irmã gosta de tomar suas próprias decisões, mesmo tão nova, sempre querendo escolher suas roupas... Uma mandona! Sentiria muita falta dela.

Depois de falarmos bastante, pedi licença para descansar um pouco. Estava um pouco desnorteada por conta do fuso horário, parecia que estávamos no meio da tarde, mas não tinha certeza. Tirei um cochilo e acordei com algumas batidas na porta. Elisa abriu a porta e fui apresentada a sua melhor amiga, Tiffany. Foi simpática comigo.

A AcusadaWhere stories live. Discover now