06. O PRIMEIRO CANDIDATO

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Como a semana de avaliações não havia chegado ao fim porque Luna havia ido mal em química outra vez, a garota teve que aguentar mais dois dias de revisões e exames que a fizeram esquecer do encontro com Jonathan no telhado.

Quando a sexta-feira chegou trazendo consigo um pouco de ânimo depois da realização da última prova do período, Luna foi até o bloco da sala dos professores para procurar a mestra em artes do colégio, a professora Eva, com quem tinha ficado de discutir o roteiro para a peça que seria apresentada pelo grupo de teatro naquele ano.

Ao entrar na sala depois de bater, ela logo localizou a professora em uma das mesas, escrevendo com a cabeça baixa. Além dela, havia apenas outros três professores que passavam o tempo jogando cartas na outra mesa, os quais a cumprimentaram brevemente com acenos.

"Professora Eva?" Luna chamou ao se aproximar da mulher, a fim de não assustá-la, o que não pareceu funcionar muito bem.

Eva ergueu os olhos do livro de forma abrupta e a fitou com os olhos castanhos arregalados por debaixo das lentes quadradas dos óculos.

"Ah, oi, Luana!" Exclamou ela, fazendo valer mais uma vez o costume de nunca acertar o nome da garota, como se Luna fosse um nome difícil de se lembrar. "Eu não te vi chegar. Você já terminou o roteiro?".

"Mais ou menos", Luna encolheu os ombros ao admitir. "Ainda fico pensando se é mesmo necessário a Giselle descobrir que o Diego não é confiável. Quer dizer... A maior parte da peça é um musical romântico! Por que finalizar com a Giselle descobrindo que o Diego está noivo e que os dois não podem ficar juntos?".

"Porque é um drama, ora!" A professora soou óbvia, provavelmente porque aquela não era a primeira vez que a garota a questionava sobre aquilo. "As histórias mais lembradas são sempre aquelas que fogem do que o público espera, Lara. Todo mundo torce pelo final feliz, espera pelo final feliz... Mas são as histórias dramáticas que roubam a mente! Elas nos fazem pensar, nos identificar... Quem nunca se decepcionou amorosamente com alguém, é porque ainda vai".

Ela tinha ótimos argumentos, mas Luna ainda se sentia contrariada por ter que terminar as coisas daquele jeito. Depois de escrever a maior parte daquele projeto como assistente de roteiro da professora, ela sentia que conhecia os personagens muito mais do que a sua criadora original e o Diego jamais seria tão cretino com a Giselle. Mas como fazer Eva entender?

Aparentemente, não tinha jeito. Depois do silêncio de Luna se estender, Eva suspirou.

"Acho que é melhor eu escrever esse final. O nosso prazo está muito apertado", Eva falou. "Por favor, me envie por e-mail o arquivo com tudo o que você escreveu. É provável que na semana que vem o elenco seja anunciado e, logo em seguida, os primeiros ensaios".

"A senhora já sabe quem vai interpretar quem?" Luna não conseguiu evitar demonstrar seu interesse.

Antes focar nisso do que na decepção de ter que entregar o seu trabalho para ela finalizar com aquela ideia estapafúrdia de final trágico para uma história moldada com canções românticas.

"Tenho uma ideia", disse Eva. "Mas, infelizmente, convencer o meu Diego ideal a interpretar o personagem está sendo mais difícil do que o imaginado".

Luna estranhou aquilo. Pelo que lembrava, a maioria dos rapazes do grupo de teatro havia tentado o papel principal, nem que por brincadeira.

"É alguém que prefere trabalhar nos bastidores?".

Como fazer parte de alguma atividade extracurricular era obrigatório na Fernão Moreira, algumas pessoas entravam no grupo de teatro com a intenção de nunca subir em um palco, como era o caso de Luna. Ela havia passado todo o primeiro ano ajudando com cenários antes de tomar coragem para pedir à Eva a chance de ajudá-la com o roteiro da peça daquele ano.

CRUSH - Em Busca Do Garoto PerfeitoWhere stories live. Discover now