Violino.

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O momento de voltar para o palácio chegou, tudo foi bom enquanto durou. O carro chegou pouco depois das 20:00. Me despedi da minha família e entrei no veículo. Pedi ao motorista para que sintonizasse o rádio na estação em que tocava as músicas que eu gostava. Escutei Lego house, Californication, Open your eyes e muitas outras. Minha música favorita começou a tocar: The scientist. Eu adorava apreciar a letra dessa música.

Come up to meet you, tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are
(Vim para te encontrar, dizer que sinto muito
Você não sabe como é amável)

Avistei um carro vindo na contra mão, ainda estava longe, não me preocupei.

I had to find you, tell you I need you
Tell you I set you apart
(Tenho que lhe achar, dizer que preciso de você, E te dizer que eu escolhi você)

O carro se aproximava mais e mais.

Tell me your secrets, and ask me your questions Oh let's go back to the start
(Conte-me seus segredos, faça-me suas perguntas Oh, vamos voltar pro começo)

O veículo parecia estar desgovernado. O que estava acontecendo?

Running in circles, coming up tails
Heads on a science apart
(Correndo em círculos, perseguindo a cauda, Cabeças numa ciência à parte)

O motorista começou a se desesperar, isso não podia acontecer, não podia.

Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
(Ninguém disse que seria fácil, É uma pena nós nos separarmos)

O momento da batida foi um terrível estrondo, tudo parecia estar em câmera lenta. Cacos de vidro voavam por todo lado. Eu ainda conseguia ouvir a música do rádio, bem distante, falhando devido aos danos causados segundos antes.

Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start
(Ninguém disse que seria fácil, Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim Oh, me leve de volta ao começo... )

Minha visão foi ficando cada vez mais turva e os sons cada vez mais distantes. Tudo se apagou. Eu desmaiei.

De repente comecei a ouvir sons novamente, pareciam estar a quilômetros de distância. Sirenes, pessoas, carros.

Acordei já no hospital. Minha cabeça doía. Abri meus olhos com dificuldade, então ouvi uma voz familiar:

-John, como você se sente? - demorei alguns segundos para identificar quem era que estava ali do meu lado. Era Sherlock.

-O que aconteceu? - minha voz saiu mais rouca do que eu imaginava.

-Um acidente de carro. Você teve muita sorte, sofreu uma pequena fratura no crânio e quebrou duas costelas, mas pela gravidade do acidente, você poderia ter morrido. - apesar do seu tom de voz calmo, ele parecia preocupado.

-Meus pais, e-eles sabem do acidente? - eu tinha dificuldades ao falar.

-Sabem, eu mesmo liguei para eles e informei-os sobre o acidente e sobre o seu estado para os tranquilizar. Eles estão a caminho.

-Por que você está fazendo isso por mim? Quero dizer, você tem milhares de pessoas que podem fazer isso no seu lugar, mas mesmo assim você deixou o palácio e veio cuidar disso pessoalmente. - questionei-o.

-Não sei ao certo, só estou sendo prestativo, tentando ser uma pessoa comum que cuida de suas próprias coisas. - ele sorriu. - Agora trate de descansar, depois de alguns dias aqui no hospital você será encaminhado à enfermaria do palácio, que será equipada para te receber.

Fiquei quatro dias internado no hospital, com visitas frequentes de meus pais, Harriet e Sherlock. Eu raramente ficava sozinho, o que era bom. Depois fui encaminhado ao palácio, que estava muito bem equipado, como dito por Holmes. Eu me recuperava muito bem, porém ainda sentia muitas dores de cabeça.

Ali, sem as visitas de Harry e meus pais, as horas se arrastavam. O príncipe vinha me visitar quase todos os dias, eu adorava sua companhia, mas um dia em especial tinha ficado marcado em minha memória. Era um sábado de manhã e eu estava repousando na enfermaria como sempre, já havia tomado o desjejum, os medicamentos matinais e estava assistindo o canal de notícias na TV. Levantei para esticar as pernas e abri as cortinas, uma pesada chuva caía lá fora, o céu estava cinzento. Sentei na poltrona do quarto e ouvi a porta se abrir.

-Bom dia, John. Como está se sentindo? - Sherlock entrou no quarto timidamente, ele tinha um violino em suas mãos.

-Bom dia sr. Holmes, estou me sentindo bem. Isso é um violino?

-John, já disse que pode me chamar pelo meu primeiro nome, amigos não chamam uns aos outros de senhor. - rimos juntos. Me alegrei de saber que ele me considerava um amigo. - Sim, é um violino. Gostaria de saber se você se importaria se eu tocasse um pouco.

-Na verdade eu adoraria te ouvir tocar.

Sherlock tocava como um anjo, notas imaculadas, harmonia total. A música eu não conhecia muito bem, imaginava que seria de Bach, mas a música não importava, o que importava era o músico que a tocava. Os braços de Holmes faziam movimentos bruscos e repentinos e em seguida movimentos suaves e calmos. Aquilo era definitivamente a melhor coisa que eu tinha ouvido em toda a minha vida, queria que a música nunca acabasse.

-Gostou? - Sherlock perguntou com um sorriso esboçado em seu rosto.

-Adorei! Foi a coisa mais bonita que eu escutei em toda a minha vida.

-De verdade? - suas bochechas coraram levemente.

-Claro! - assegurei.

-Fico feliz que tenha gostado, é uma das minhas favoritas de Bach. - então eu estava certo, era mesmo de Bach.

-Eu gostaria de te ouvir tocar mais vezes, seria possível? -  perguntei, me arrependendo logo em seguida, o príncipe era muito ocupado, talvez nem tivesse tempo para isso.

-Com certeza, geralmente eu toco sozinho, mas adorei tocar para você, isso vai acontecer mais vezes, prometo. - ele disse, enquanto colocava o violino sobre a mesa ainda com a bandeja do café. - O dia está chuvoso, não é mesmo?

-Infelizmente. Prefiro dias ensolarados, mas eles são raridade aqui em Londres. - falei, olhando as gotas de chuva escorrerem pela janela.

E assim, em meio a visitas, ele tocando violino e eu o observando, nos tornamos amigos próximos. Mesmo depois de eu me recuperar e voltar a trabalhar, nós continuamos a nos encontrar para mais violino e chá.

It is what it is - Johnlock Onde as histórias ganham vida. Descobre agora