Jess

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16 anos atrás

____O que você fez Jéssica?

A professora estava assustada e brava.

____ Não foi culpa minha tia - tentei me defender. Eles me provocavam sempre, não era justo.

____ Como não foi sua culpa? Você quebrou a perna do João.

O garoto estava caído no chão e gemia. Parecia um gemido falso pra mim, mas a perna dobrada para cima não mentia. Mas ele mereceu, ele ficou me enchendo a paciência me chamando de Mônica e perguntando pelo coelhinho. Mamãe ficaria brava, com sorte meu pai iria me ajudar. E lá estava eles na sala do diretor.

____ O que você fez agora Jéssica? - ela falava isso nesse tom, passei a odiar meu nome. Prefiro que me chamem de Jess.

____ Mamãe... - tentei começar mas a professora me interrompeu.

____ Sua filha quebrou a perna de um amigo da sala...

____ Ele não é meu amigo - acho que isso não me ajudou muito. Todos me olharam com cara fechada.

____ Como eu dizia, ela quebrou a perna do AMIGO de classe dela. Ele está na enfermaria inconciente. Ela sempre arruma brigas diretor. Estou farta. E dessa vez foi porque ele deu um coelhinho de pelúcia pra ela. Estou farta dessas encrencas. Não entendo como uma criança de seis anos possa fazer isso.

Mas uma expulsão. Mamãe dirigia calada, eu precisava me explicar.

____ Eles ficam mechendo comigo mamãe. Dizem que sou um monstro, que sou a Mônica e que sou forte igual a ela, odeio a Mônica. Eles me deram aquele coelhinho pra me chatear. Pra dizer que sou igual a Mônica. Me chamam de dentuça e de chata. - comecei a chorar.

____ Você não pode resolver tudo com violência Jéssica. Estou cansada, em todas as escolas é a mesma coisa. Você não tem que ligar pra essas provocações.

Ela calou, eu não falei mais nada. Ela não entendia. Só papai poderia entender. Chegamos em casa e ele já estava lá.

____ O que houve filha? - ele me abraçou e enxugou minhas lágrimas.

____ Melhor conversar sério com ela Jorge - mamãe disse passando por nós - E se prepare para pagar conta do médico.

Expliquei tudo ao meu pai, ele me ouviu enquanto fazia carinho na minha cabeça.

____ Você não é um monstro filha. Mas mamãe está certa, não pode resolver tudo com violência. A não ser que o garoto dê em cima de você - ele disse esta última parte em um sussurro no meu ouvido. Eu sorri.

***

A situação era ruim. O Baja estava desaparecido e vinha helicópteros por todos os lados e ouvíamos os carros ao longe. Eles vinham aos montes e iam nos ferrar. Olhei para trás e vi os mebros do conselho saindo da sala destruída abaixo. Olhei para Alice, ela encarava os helicópteros com o olhar que eu amava. Significava encrenca. Olhou pra mim e acenou com a cabeça.

____ Vamos destroçar eles - falei sorrindo.

____ Eu sabia! Aquele sanguessuga ia acabar com tudo. E agora estamos cercados - o Calel falava, que garoto irritante. Parecia quase impossível ele ser um membro do concelho. Ele virou pra mim - Você! Você está macumunada com aquele monstro, ele parou quando você falou com ele. Você também é um monstro.

Aquilo não me atingiu. Estava acostumada aquele adjetivo.

____ Quando eu acabar com os psicólogos - disse o encarando - Vou arrancar sua cabeça.

INSANO?Where stories live. Discover now