Capítulo 3 - A volta

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Acordar com a voz da minha mãe gritando do outro lado da porta, acabou com o meu dia que mal tinha começado. Lembrei do acordo, da minha nova realidade e acordei arrastada.

— Já acordei! — Gritei para que ela parasse com o escândalo.

Tomei um longo banho na esperança de me sentir mais viva e senti meu estômago embrulhar quando coloquei o uniforme. Arrumei meu cabelo, passei maquiagem e forcei um sorriso ao olhar no espelho. Estava bonita, só queria que aquilo não se estendesse a apenas minha aparência. Mas isso era pedir demais e até eu sabia.

Suspirei quando peguei minha bolsa e os materiais para entrar no carro com minha mãe. Estava mergulhando de cabeça no meu passado e em tudo que tinha me destruído. A viagem foi silenciosa, mas só a presença dela no carro e a felicidade que parecia emanar por me ver sofrer, já me irritava.

— Vou ligar para conferir se realmente entrou. — Escutei sua voz ao sair do carro, mas não me dei ao trabalho de responder. Era óbvio que ela iria ligar.

Mal dei dois passos em direção à escola e escutei meu nome. Respirei fundo e sorri antes de me virar na direção da voz.

— Oi, Marina! — A falsidade em minha voz era quase palpável. Eu odiava aquela garota e todo o prazer que ela tinha em destruir a vida alheia. Ela era a nossa Gossip Girl, mas sem o site ou o anonimato. Mas eu sabia que quando se tem um segredo que quer que permaneça guardado, ela é a última pessoa com quem deve brigar.

— Nossa, quanto tempo que não te vejo! Aconteceu alguma coisa? — Eu quase podia ver o brilho em seu olhar à espera da minha resposta.

— Estava cansada desse lugar, então resolvi tirar umas férias. Nada de mais. — Sorri — E você, o que tem feito nesse tempo? Como andam as coisas por aqui sem mim? — Afinal, quem melhor para te atualizar do que a fofoqueira de plantão?

— O castelo continua em pé sem os seus reis, se é o que quer saber, mas insurgentes sempre existirão. Acho melhor ter cuidado com eles. — Sem esperar minha resposta, ela sorriu e entrou no colégio.

Ótimo! O que ela queria dizer com aquilo?

A mensagem da Paula avisando que já estava na sala fez com que eu deixasse aquilo para depois. Caminhei para a entrada e quase suspirei de alívio quando a vi sentada em uma das últimas cadeiras da sala.

— Pronta? — Neguei com a cabeça enquanto sentava ao seu lado.

— Estou apenas levando um dia de cada vez, como naqueles grupos de ajuda, sabe? Acho que assim vai ser melhor para eu não enlouquecer. — Ela riu e agradeci por ao menos alguém estar se divertindo com aquilo — Bem, encontrei com a Marina, ela parece fervorosa por uma fofoca nova e nós meio que estamos exalando "fofoca", então temos que tomar cuidado. E ela falou algo sobre insurgentes.

— Essa parte ninguém precisou me contar. — Ela apontou para algo atrás de mim e eu segui seu dedo. Do outro lado da sala e sentados como se dominassem tudo ali, estava um grupo de garotos que eu conhecia bem. Se eu era rainha, eles eram os nobres podres que queriam o trono apenas para atormentar a população.

Se eles eram os insurgentes, eu faria questão de clamar meu trono.

O professor entrou na sala antes que eu tivesse tempo de colocar minha indignação em palavras. Ajeitei-me na cadeira e torci para que ninguém percebesse nossa volta antes que eu tivesse um plano para tudo aquilo. Porque eu podia odiar o colégio, podia odiar o fato de ter me transformado na rainha daquele lugar e todas as consequências que aquilo tinha tido para a minha vida, mas eu sabia de onde eu tinha vindo. Eu sabia o que eu tinha sido antes e sabia que eram os garotos daquele grupo os responsáveis por eu me sentir tão mal antes de um certo rei me conhecer.

Eles não infernizariam a vida de mais ninguém se dependesse de mim.

Quando a aula acabou, agradeci a calmaria e também me surpreendi. Parecíamos invisíveis e isso foi bom. Teríamos tempo para nos adaptar antes de tudo realmente começar.

— Nós daremos uma festa. — Falei assim que terminei meu almoço.

— O que quer dizer com isso? — Paula me perguntou surpresa.

— Bem, não quero deixar aqueles meninos assumirem o comando de nada e para que isso aconteça, precisamos mostrar que estamos ali para ficar. Que estávamos de férias, mas nada mudou. E para isso dar certo, temos que marcar presença. Não conheço forma melhor que uma festa.

— Como se nós recepcionássemos eles de volta e não o contrário? — O seu sorriso deixava claro que tinha gostado da ideia e eu assenti — Apoio.

Minha felicidade só durou até eu perceber que horas eram.

— Droga! — Levantei em um pulo, pegando minhas coisas. Paula me imitou mesmo que eu soubesse que ela estava perdida com minha atitude. — Estou atrasada para a minha aula.

Ela olhou seu relógio e parecendo perceber o mesmo, correu comigo em direção ao carro. Seguimos as instruções do GPS e chegamos ao endereço que Roberta tinha me entregado no horário exato que minha aula iria começar.

Mal escutei o seu "boa sorte", enquanto pulava para fora do carro e corria em direção ao que parecia uma mistura de ginásio e galpão.

— Boa sorte, Alice. — Desejei a mim mesma antes de entrar.

\ Son

O Segredo da Rainha - O que você faria por amor?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora