Capítulo 1 - O preço da liberdade

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Quando coloquei o primeiro pé no local da festa, eu soube que ela tinha tudo que eu precisava e um pouco mais. A casa era enorme, a música era alta, as pessoas eram animadas e a bebida parecia ser infinita. A grande área externa incentivava as pessoas a fumar e a piscina a ficarem com menos roupa que o normal.

Virei uma dose que literalmente pegava fogo e sorri para o nada.

— Uma garota que não tem medo de brincar com fogo. Ganhou o meu respeito. — Ri para o homem que eu não conhecia e sabia que nunca viria a conhecer.

— Qual a graça da vida se não nos queimarmos de vez em quando? — Tirei o cigarro de sua mão e levei aos lábios. Eu sabia que aquilo era mais do que nicotina e não me importava. Na verdade, era um pouco do que eu procurava.

Minha ação fez o sorriso dele se alargar e me olhar de cima em baixo, em pouco tempo o fez me beijar. Eu poderia não suportar me olhar no espelho mais, mas sabia que minha aparência era agradável aos olhos. Não importava o quão vazia eu estava, eu era bonita. Isso era suficiente para eles.

Por um momento que se misturava entre o breve e o infinito, eu me perdi em seus lábios, seus braços e seu corpo. Dancei ao som do que tocava. Bebi o que era servido pelos garçons. Fumei o que ele colocava ao meu alcance. Naquele momento eu esqueci quem eu era. Eu não sabia mais quem era Alice e não me importava com o que ela tinha feito no seu passado. Eu era apenas mais uma garota no mundo.

Um grito seguido por vários outros me fez ciente de que realmente existia um mundo além de mim e aquele homem que eu não conhecia e não sabia o nome. Os gritos diziam que algo não planejado estava acontecendo, mas apenas as sirenes deixaram claro que o que tinha acontecido não era bom.

Pessoas correram e eu corri com elas. Todo mundo ali sabia que metade da festa era ilegal. E eu era uma dessas coisas proibidas: Uma garota de dezessete anos que estava um pouco além de bêbada.

Quando um policial segurou meu braço, escolhi não resistir. De qualquer forma eu não conseguiria fugir. Estava bêbada de mais para isso. E se fosse fugir, para onde eu ia? Meu salto não deixaria eu ir longe o suficiente, então apenas o acompanhei.

Boa parte das pessoas da festa foi reunida em frente a piscina e enquanto eles verificavam cada documento e separavam quem tinha mais de dezoito e quem não tinha, tudo que eu conseguia fazer era olhar a água a minha frente. Diferente do esperado, a água não estava translúcida e azul, a verdade era que ela estava rubra. E eu apostava todas as minhas fichas no fato daquilo ser sangue.

Quando acordei em uma das celas de uma delegacia, minha boca estava seca e meu corpo dolorido. A maior parte dos adolescentes que tinham ido para lá comigo, já tinham ido embora. Não precisava de muito para saber que eram de classe média alta e seus pais não gostariam do escândalo de ter um filho que passou a noite na cadeia.

Eu por outro lado, tinha uma mãe que adoraria o fato de me deixar lá para sempre. Não importava nossa classe social, nem o fato de que qualquer pessoa do seu ciclo pudesse comentar aquilo. Ela queria que comentassem e me crucificassem como a péssima filha que ela tinha certeza que eu era.

— Alice Blankeburg. — Meu nome. E a voz da minha mãe. Tive vontade de fechar os olhos e fingir que dormia. Mas uma hora eu teria que sair dali, não teria? E não faria isso sem ela, então me coloquei de pé e caminhei até a grade.

— Posso sair? — Perguntei tentando não usar nenhuma emoção em minha voz. Mas precisei usar todo o meu autocontrole para não matá-la quando ela riu.

— Você é presa, me faz mudar minha rotina para vir aqui e tudo que faz é perguntar se pode sair? Onde está o meu "obrigada, mãe e desculpe pelo transtorno"? — Não respondi, responder apenas tornaria aquilo ainda maior — Desculpe, de onde tirei a ideia de que você tem alguma educação, não é? — Ela sorriu seu sorriso de vitória e eu suspirei. Observei enquanto ela tirava um papel da bolsa e esperei. — Quero uma garantia de que não terei esse transtorno em minha vida novamente.

— Por acaso quer meu sangue? — Ri sem poder acreditar naquilo — Iremos fazer um pacto de sangue ou você apenas vai usá-lo para fazer alguma magia negra?

Vi seus olhos fervilharem, mas ela apenas sorriu.

— Não, é um pouco melhor que isso. — Uma caneta acompanhou os papéis em sua mão e aquilo não me agradou — Você irá assinar esse acordo aqui. — Ela os balançou, mas não desviei os olhos dela — E ao fazer isso você irá se comprometer a frequentar todas as aulas da escola, porque eu não quero uma filha marginal. Irá ter um toque de recolher e o mais importante: passará a ter aulas de artes marciais.

— Aulas de artes marciais? — Perguntei, mesmo que não concordasse com nenhuma parte de acordo e não só aquela.

— Sim, você terá um professor especial que lhe ensinará o que é disciplina. Ele educa bárbaros, então creio que você não será assim um grande desafio para ele.

— Não irei assinar. — Falei com a pouca voz que tinha. O pequeno sorriso nos lábios dela deixava claro que eu não deveria aceitar. Roberta nunca sorria para mim e se ela estava sorrindo, aquilo não era um bom sinal.

— Tudo bem, não assine. — Ela fechou a caneta em suas mãos — Espero que goste da estadia na cadeia, porque não a tirarei daí sem esse acordo assinado.

— O que acontece se eu não cumprir o acordo? — Perguntei já vencida.

— Você volta para cá, para a linda cela que está agora. Quem sabe que tipo de processo você pode vir a responder. Posse ilegal de drogas é uma ótima opção. — A fuzilei com os olhos, desejando poder fazer aquilo com uma arma.

Tudo bem, eu sabia que não poderia ser presa. Porque eu não podia, certo? Eu podia ter drogas no meu sangue quando tinha sido presa, mas não carregava nada. E ser usuário não era um crime. Mas por outro lado, o juizado nunca me liberaria sem minha mãe. Então eu poderia assinar, sair de lá e simplesmente não cumprir o acordo, não poderia? Ela não poderia me mandar de volta para a cadeia. Ou podia?

— Eu assino. — Concordei, mesmo não podendo responder minhas próprias perguntas com absoluta certeza. No entanto, eu sabia que Roberta conseguia o que queria e que se ela não me prendesse naquela cela, seria em qualquer outro lugar.

Quem sabe um pior.

Peguei os papéis de sua mão sem pensar mais sobre aquilo. Quanto mais rápido eu saísse dali, melhor eu me sentiria. Assinei minha alforria e fui embora da delegacia.

O Segredo da Rainha - O que você faria por amor?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora