Capítulo 2

792 94 83
                                    


Ela não estava acreditando de fato na mensagem que seu amigo lhe enviara. Ela achava que era uma brincadeira, mas quando foi até onde ele estava, percebeu que era mais verdadeiro do que nunca.

— Meu Deus! — Pôs as mãos na boca ainda espantada.

Afonso deixou a moto caída de lado, indo com calma até um gatinho encolhido e visivelmente assustado. O bichano com uma pelagem que um dia já fora branca estava machucado...

— Tadinho... — Allegra choramingou. Seus olhos já estavam se enchendo d'água só de imaginar o quanto ele estava sofrendo. — Pega ele com cuidado, Afonso.

— Ok. — Ele falou entredentes.

O garoto se abaixou na frente do animal. Aproximou as mãos calmamente e quando percebeu ter ganhado um pouco da confiança dele, o segurou no colo.

Allegra não aguentou segurar as lágrimas. Uma dor invadiu seu peito ao ver a carinha do bichano implorando por ajuda. Era em casos assim que ela se perguntava se a faculdade que tanto almejava, era de fato a que devia seguir, pois era demais para o seu coraçãozinho amolecido.

— Acho que ele deve ser novinho...

— Meses? — Ela franziu a testa.

— Por aí. — Ele a encarou. O bichano tremia e permanecia imóvel nos braços de Afonso. — Acho que deve estar com fome...

— Vamos lá para casa. — Ela tocou seu ombro, para logo em seguida tentar levantar a moto jogada no chão. Tentou.

— Acho melhor você pegar algo mais leve. — Afonso entregou o bichano a amiga, que como resposta lhe mostrara a língua. Allegra acariciou a cabeça do animal, e teve vontade de chorar ainda mais quando sentiu um tremor vindo dele. Um ronronar.

— Calma meu amor... — Murmurou enquanto acariciava o bicho. — Pronto?

Seu amigo fez que sim com a cabeça. Apoiou o capacete no guidom da motocicleta, a conduzindo ao lado de Allegra. Sua ideia de passar o resto da manhã se aventurando fora deixada em segundo plano quando aquele pequeno obstáculo foi posto em seu caminho. Literalmente.

Seguiram em silêncio até chegarem a rua onde ela morava. A garota não parava de fungar e quando olhava para o pequeno ser em seus braços, as lágrimas rolavam sem pedir licença.

— Como você quer ser veterinária se não consegue nem controlar as próprias lágrimas? — Debochou.

— Acho que eu amo demais. — Ela franziu a testa. — Aliás, como não se comover com isso? — Seus olhos já estavam marejados novamente.

— Não começa a chorar de novo, Alegria. — Ele abriu um sorrisinho. — Lembre-se que você precisa ficar calma para cuidar do seu primeiro paciente.

— Ok. — Ela soltou todo o ar. — Eu preciso ficar calma. Muito calma! Muito cal... Ai, meu Deus! — Ela se descontrolou ao sentir o gatinho inquieto.

Afonso tomou o gato dos braços dela sem lembrar de sua moto. E só se lembrou dela quando sentiu algo pesado bater em suas pernas. Ele murmurou xingamentos baixinhos, tentando não gritar feito uma criancinha de três anos.

O bichano já devia estar confuso, pois a cada segundo nos braços de algum dos dois, alguma coisa acontecia. Desde uma crise de choro até coisas pesadas caírem nos pés das pessoas.

Sorria Alegria! |✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora