Capítulo 1

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Subi as escadas do palacete no parque Lage às nove da manhã. Odiava me atrasar para qualquer compromisso, mesmo que este não fosse um que eu realmente quisesse.

Na entrada de portas altas, que davam direto no pátio, eu caminhei em direção ao Café e logo pude vê-lo acenar de forma ansiosa para mim.

'Nem pense em desistir. ' Murmurei entre os dentes, mantendo um sorriso simpático para aquele Irlandês. Um baita homem de quase dois metros de altura, cabelos castanhos claros e olhos incrivelmente azuis.

Gael tinha os olhos inocentes como os de uma criança, mas de inocente ele não tinha nada... Aquele malandro já havia tentado me beijar por duas vezes. Uma, na noite em que o conheci em uma festa na casa de um dos meus vizinhos, e em outra, depois de insistir em sairmos para jantar. Não sei o porquê ainda dava tanta esperança para este rapaz.

Na verdade eu sabia.

Eu precisava a todo custo tirar Samael de minha mente, de minha carne, de minha essência.

O carnaval se aproximava... Mais uma vez estava com minha casa lotada de hospedes. Mas agora funcionávamos com uma ajudante de cozinha para Dona Olária, uma camareira fixa, José ainda era o nosso jardineiro/eletricista/faz tudo. Seguíamos em uma harmonia caseira. Tudo funcionava bem, o serviço era divido de forma igual a todos e conseguíamos dar conta de todos os quartos.

Com a procura por mais vagas, deixei meu quarto no segundo andar e me mudei para um pequeno espaço nos fundos do jardim. Fiz uma pequena obra no que antes era um quarto de guardar bugigangas e transformei num aconchegante bangalô, com portas francesas que se abrem para um jardim florido e silencioso.

– Olá Gael! – Eu o cumprimentei com um abraço e um sorriso simpático.

– Olá linda Clarice! – ele correspondeu com o dobro de entusiasmo e um português fajuto. – Sente-se, tomei a liberdade de pedir nosso café.

– Oh, tudo bem. Obrigada.

Naquela manhã, estava tão quente que o suor brotava em minha nuca, entre os seios e descia por minha barriga... Deixando um rastro molhado em meu vestido azul pálido de malha. Fiz um nó em meus cabelos e deixei minha bolsa estilo sacola pendurada em minha cadeira.

– E então, irá para Bahia na próxima semana? – perguntei, com intuito de puxar assunto. Gael tinha uma pousada em Trancoso, mas passava boa parte do ano em Salvador, em meio ao pelourinho.

– Ainda não tenho certeza. – ele respondeu com aquele sorriso arteiro.

– Por quê?

– Ainda não recebi a resposta de minha acompanhante. – ele disse, com aqueles olhos de filhote de cachorro para mim.

– Por favor, não insista nisto Gael. – eu tentei ser delicada e não ferir os sentimentos dele. – Sabe que tenho muitas responsabilidades aqui no Rio.

– Mulher independente... – ele disse, com aquele tom de admiração sempre que falava a respeito de minhas convicções.

Sorri disto. Adora esse jeito maroto nele, acho que por isso insistia em tentar ser seduzida por ele... Ou ao menos flertar com aquele lindo Irlandês.

Gael segurou minha mão esquerda sobre a mesa, acarinhando com cuidado minha pele.

– Você é uma mulher que vale esperar... – Seu sotaque era um charme a parte.

– Obrigada. – me derreti.

Nossos olhos se fixaram por tempo demais... Puta merda! Era àquela hora, o momento em que ele me roubaria um beijo e eu não conseguiria impedir.

Gael aproximou seu rosto do meu, colando sua bochecha na minha, roçando com carinho seus lábios em minha pele. Gostei de sua nova abordagem. Ele não tentou me beijar de imediato como nas outras duas vezes. Preferiu me induzir ao beijo, lentamente preparando-me para aquela pequena entrega.

Nossos lábios se encontraram e eu tentei me manter relaxada, apesar de estranhar o toque.

Intermináveis segundos se passaram enquanto nossos lábios se mexiam um de encontro ao outro... Sem pressa, sem aflição.

Foi então que eu ouvi em minha mente a voz dele: Não se entregue a ele. Você é minha!

Um frio percorreu minha espinha e inesperadamente me afastei de Gael.

– Me perdoa, não consegui evitar... Clarice, eu... – Gael tentava se desculpar quando eu o impedi.

– Não. – estendi minha mão. – Não precisa se desculpar. Está tudo bem.

Durante toda aquela manhã, Gael evitou tocar até mesmo em minhas mãos. Mantemos uma distancia segura e confortável. Conversamos sobre qualquer coisa, visitamos uma pequena exposição de arte dos alunos que estava sendo exposta em uma das salas do Palacete.

Era por volta de onze horas quando ele me deixou em casa e segui em seu taxi para Ipanema, onde estava hospedado.


Apaixonada por um Incubus (Série Incubus - VOLUME 3)Where stories live. Discover now