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No quarto intervalo livre, o inevitável aconteceu. O menino repetente esbarrou em Peter e começou uma briga verbal chamando a atenção de uma pequena multidão, que os cercaram enquanto gritavam palavras de incentivo à briga. Peter estava o mais assustado que podia, mas tentava fingir naturalidade e, não teria conseguido, não fosse por Rosie que segurava sua mão firmemente doando toda sua coragem a ele. 

— Eu vou te bater porque você é folgado, seu maricas fracote! — gritou a plenos pulmões o Repetente apontando o dedo em direção ao rosto de Peter, tão perto que não o tocava por milésimos de centímetros. — Pode me esperar na hora da saída e nem pense em chamar os papaizinhos boiolas pra te defender!

— Na saída? Que sem graça! — disse Peter, adotando um tom sarcástico nada habitual. — Por que não tenta me bater agora?

Nesse momento, afastou Rosie de si, empurrando a menina para o meio de um aglomerado de crianças que vaiavam e gritavam palavras de desordem.

— Eu não deixava não, hein? — uma voz aloprada surgiu no meio das crianças buliçosas.

O Repetente deu um urro de raiva e, com um único soco, derrubou Peter no chão. Rosie viu aquela cena e começou a se arrepender amargamente do que havia feito. Talvez fosse mesmo melhor que Peter se mantivesse escondido, no fim das contas, pois, se aquela cena a deixava triste, imagine só o que não faria aos pais do garoto... Entretanto, para a surpresa de Rosie — e da pequena plateia agitada —, Peter se levantou com uma cara de bravo e tentou se ajeitar.

— Eu vou acabar com a sua raça! — esbravejou Peter, vendo o Repetente rir como se ele tivesse lhe contado uma piada. — É melhor você correr enquanto pode!

Dito isso, o Repetente correu, se afastando da pequena multidão alvoroçada, fingindo estar com medo de Peter. Rosie estava completamente perdida e intrigada. De onde surgiu essa coragem repentina?, pensava para si mesma enquanto observava atentamente a cena.

Peter correu atrás do Repetente com vontade e pegou impulso para lhe dar uma voadora tão forte quanto podia. De repente, toda a plateia parou de gritar e fizeram cara de espanto enquanto Peter se levantava. O Repetente caiu de quatro ao chão com a pancada certeira que Peter desferiu em suas costas e parecia ter dificuldade em se levantar. Peter encarou Rosie com a melhor cara de socorro que tinha e a garota saiu correndo dali.

Fodeu!, pensou Peter, Ele vai levantar e acabar com a minha vida agora mesmo! E esse pensamento estava prestes a se concretizar. O Repetente parecia ter renovado as forças em segundos e já se levantava grunhindo de ódio. Peter só conseguia pensar em como seria bom poder correr como Forest Gump ou Barry Allen naquele momento, mas o medo o deteve ali, paralisado e em pânico, esperando seu suposto fim.

Quando o Repetente estava quase totalmente de pé e pronto para surrá-lo, Rosie chegou com o Inspetor que testemunhara apenas a parte em que o Repetente, ainda grunhindo de raiva e dor, se impulsionava com toda a sua fúria em direção ao pequeno e indefeso Peter. O Inspetor deteve o Repetente no ato e o levou à diretoria, ordenando Peter que os seguissem. Rosie só conseguia pensar na encrenca em que Peter se meteu por sua causa e sentiu uma vontade imensa de chorar.

A aula já estava quase no fim e nada do Peter voltar para a classe. Rosie estava inquieta, queria mais do que tudo ter notícias de seu amigo. A aula acabou e, ao invés de ir para o portão esperar seus pais como de costume, Rosie seguiu direto para diretoria e espiou em silêncio o que acontecia lá, cuidando para que nenhum professor que passasse pelo corredor a visse. Através da janela, Rosie viu os pais de Peter e eles pareciam preocupados, Peter estava sentado em uma cadeira do outro lado da mesa, com um saquinho de gelo sobre o olho em que tomara o soco. A diretora estava em uma sala menor, bem ao lado, com o Repetente sentado em uma cadeira, ladeado por um homem e uma mulher. "São os pais dele!", concluiu Rosie, voltando a atenção para a sala ocupada pelo amigo. Steve passou os braços em torno do pescoço de Tony e fez carinho em sua nuca tentando acalmá-lo. Peter observava essa cena com um sorriso no rosto e Rosie sentiu paz. Era a segunda vez que via aquele sorriso e, em uma delas, ela fora o motivo. Rosie continuou bisbilhotando as duas salas vizinhas por uns minutos, porém nada parecia acontecer e, a essa altura, estava certa de que seus pais já esperavam por ela. Resolveu sair, mas empacou quando, em uma última olhada, viu Steve dar um beijo casto em Tony. Por que meus pais não trocam carinho assim?, Rosie se perguntou indo embora dali.

Quando Rosie chegou ao portão de saída, deu de cara com John, que já estava entrando na escola a sua procura.

— Aí está você, mocinha! Por que demorou tanto? Eu fiquei preocupado! — disse se inclinando a favor da pequena.

— Desculpa, papai! — disse depois de lhe dar um beijo na bochecha como comprimento. — Foi o Peter... — Rosie resumiu os acontecimentos daquela manhã enquanto caminhavam até o carro. — Papai, por que você não beija o papai Sherl? — Rosie perguntou com toda a sua inocência se lembrando dos pais de Peter.

— Quê? — John entendeu perfeitamente a pergunta, mas precisava de tempo para pensar em uma resposta. Rosie se repetiu, mas esse tempo ainda não foi o suficiente para achar algo a dizer. — E... eu não sei — disse por fim.

— Eu vi os pais do Peter hoje, eles são quase iguais a você e ao papai Sherlock, mas eles se beijam... Fiquei pensando nisso, sabe? Todos os papais se beijam, não?

Eles chegaram no carro e John ainda não tinha uma resposta, mas Rosie não insistiu; fez o que sempre fazia quando um de seus pais não podia ajudá-la: perguntou ao outro.

— Boa tarde, papai! — disse cumprimentando Sherlock, que os aguardava no banco do motorista.

— Boa tarde, meu amor! Como foi o dia hoje? — disse Sherlock, lhe oferecendo um sorriso através do retrovisor.

Rosie repetiu seu pequeno resumo sobre os acontecimentos daquela manhã, acrescentando alguns detalhes importantes que lembrou na hora, até chegar à cena que vira na diretoria e, mais uma vez, interrompeu a si mesma para formular uma pergunta que julgava extremamente importante.

— Papai, por que você nunca beija o papai John?

Sherlock, que já havia saído com o carro, quase perdeu o controle do mesmo quando se virou bruscamente a fim de encarar Rosie nos olhos. A menina parecia esperar ansiosa por uma resposta, mas Holmes também não sabia o que dizer. Os olhos de Sherlock cruzaram com os de John e ele sentiu seu rosto ferver, então se virou, dando partida no carro novamente, e cuidou para não encará-los novamente durante toda a silenciosa viagem de volta a casa.

ROSAMUND & PETER ❪bbc sherlock + marvel❫Where stories live. Discover now