Natal, sorvete e música

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Fiz o que ele disse, levei o prato até a pia da cozinha e me arrastei escada acima.

Antigamente, meus pais nunca discutiam; corrigindo, às vezes acontecia uma discussão ou outra, a maior parte por causa do Liam, fora isso eles costumavam ser unidos e apaixonados, o tipo de casal que você só vê nos comercias de TV.

Com a cabeça cheia, acendi a luz do quarto e me arrumei na cama voltando aos adesivos, aquilo me ajudava a ficar calma, e calma era o que eu mais precisava no momento, com o clima tenso entre meus pais e a apresentação do coro se aproximando, isso sem falar no Oli e na conversa que ouvi mais cedo, me sentia um pouco apreensiva.

Eu não conseguia parar de me perguntar qual era o problema com o Dementador e o porquê dele está chorando, não exatamente, mas era como se estivesse. Mas, mais do que nele, eu pensava na Sra. Stantford. Ela caiu no banheiro, foi o que ele disse para justificar o hematoma, acontece que esse geralmente é o tipo de desculpa esfarrapa que se dá para esconder problemas mais sérios, como a agressão domestica. Eu me perguntava se seria esse o caso, se o Dementador era um desses monstros que agride a própria esposa. Esperava que não.

Cerca de uma hora depois eu ouvi a porta do quarto ranger, e ao levantar os olhos avistei a mamãe recostada no batente, ela abriu um sorriso triste e andou até mim, se sentando à minha frente na cama abarrotada de recortes.

Suas mãos deslizaram pelos adesivos ao passo que seu sorriso se alargava.

─ Adoro estas coisas. Para quem são desta vez?

─ Para um amigo. ─ respondi, contornando um desenho com a tesoura. ─ É um presente de Natarsário.

─ E o que seria um Natarsário?

Suas sobrancelhas baixaram em confusão enquanto ela ria. Acho que já sabia a resposta.

─ Uma mistura de Natal e aniversário. Ele faz aniversário daqui alguns dias e estou preparando algo especial.

─ É o filho do Maximilian Stantford, não é?

─ Ah, não, o presente é para o Dean.

─ O filho da Laura? ─ perguntou.

Eu não gosto de mentir para a mamãe, acontece que ela já tem problemas suficientes com que se preocupar, não queria arranjar mais um.

─ É. ─ ela me observou em silêncio, então pegou uma tesoura e começou a me ajudar com os adesivos.

─ Você e o papai brigaram?

─ Não. Conversamos e resolvemos as coisas civilizadamente, é assim que os adultos fazem.

Assenti.

─ Mamãe. ─ chamei depois de um tempo. Se existia uma pessoa que podia me mostrar uma luz, era ela. Seus olhos azuis pararam nos meus, e respirei fundo antes de continuar. ─ Eu ouvi uma conversa hoje mais cedo na igreja.

─ Como assim ouviu uma conversa? Não estava bisbilhotando, estava?

─ Foi sem querer. Eu fui procurar o padre Cadence na sacristia e acabei ouvindo uma conversa entre ele e o Sr. Stantford.

─ Tudo bem, eu não quero saber o que você ouviu. Bisbilhotar a vida alheia é errado e a senhorita está de castigo.

─ Mas...

─ Nada de livros novos por um mês.

─ Eu não fiz nada demais. ─ minha voz subiu um pouco. Ficar sem livros novos? Por que ela não me tirava também o oxigênio? ─ Você está cometendo uma injustiça enorme.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now