Decido aproximar-me das oito garotas, que estão sentadas nas mesas, segurando fichas. A garota que me chamou fica olhando-me de um jeito questionador, parecendo perguntar algo com seus olhos. Ela está com as mãos inquietas e segura impacientemente uma caneta azul. Voluntariamente, tento lembrar-me de não criar confusão nenhuma. Mas logo recordo de que humanos pertencentes aos Glorificadores visam à bondade acima de tudo e que eles têm bom coração. Ou, pelo menos, deveriam ter.
– Olá, garotinha. Sou Mary Roseanne Vásper – diz ela, já de pé, estendendo a mão direita cheia de joias pretas, com uma voz melosa. – É sempre "bom" ter mais uma Glorificadora de um minúsculo vilarejo conosco. Eu realmente espero que seus pais paguem a Escola Talental. Afinal, se eles não pagarem, você sabe que não irá desfrutar de suas habilidades nem escolher uma subdivisão e... além do mais, nunca pertencerá a uma Elite. – Mary Roseanne segura uma prancheta nas mãos com um papel no qual está escrito "Inscrições Viagem de Busca". – E, ah! A propósito, estamos no terceiro ciclo experimental, vivenciando uma Viagem de Busca. Eu poderia anotar o seu nome na lista de inscrição?
Balanço a cabeça que não.
– Obrigada – respondo, sem ação, ao ouvir tantas informações negativas. – Agradeço seu "convite", Glorificadora. Mas eu não entrarei na Escola Talental.
Ela começa a escarnecer repentinamente.
– Que triste – diz em um tom debochado, prendendo o riso. – É verdadeiramente deprimente uma Classe de Talento ser um desperdício. – Ela desliza suas mãos, colocando-as em seu coração como se estivesse sentindo algum tipo de tristeza. – Causa-me sentimento de pena ver uma menininha que não tem dinheiro para pagar. Como deve ser duro para você... não é?!
Há algo errado. Sinto-me extremamente ofendida. Eu tinha certeza. Eu poderia apostar minhas fitas de seda que uma garota Glorificadora jamais poderia ser arrogante e sem senso de educação. Em minha cabeça, a Classe de Talento de íris esverdeadas deveria ser bondosa, do tipo altruísta. Isso é a sua obrigação. Como ela pode... agir dessa maneira?!
– Mary Roseanne! – diz uma voz. Alguém surge ao lado dela como um susto. – Pare já com isso! – Uma Glorificadora aproxima-se, deve ser a Mestra responsável pelo ciclo experimental das meninas na mesa. – Não azucrine a garota dizendo bobagens! Você também deve respeitar aqueles que não irão entrar! Lembre-se de que isso não entra em nossos propósitos. Apenas estamos aqui para ajudar nas inscrições.
Mary Roseanne queima, revirando seus olhos, respirando de maneira indignada.
– Mas, mestra Felisa – diz a Glorificadora sinistramente, tentando rebatê-la, erguendo seu nariz que contém buracos extremamente grandes –, esta ilha é um completo tédio! É a primeira garota no dia possuinte de uma Classe de Talento neste lugar, mas não se inscreverá por não possuir dinheiro! Como isso pode ser possível?
– Srta. Vásper, modos em primeiro lugar – diz a Mestra, franzindo seus olhos. – Deve ficar mais calma, ou irei dispensá-la das atividades, o que leva horas extras ao seu ciclo devido à grade.
– Mas...
– Mas nada – corta ela. – Não há mais nada a ser dito. Agora torne a rezar cinquenta vezes a oração de "paciência efetiva" ao ar livre. Vá!
Mary Roseanne se cala sem mais, emburrada, cruzando os braços e andando para fora. A Mestra, que parece estar extremamente ocupada, decide aproximar-se mais de mim, colocando algumas fichas na mesa.
– Perdoe-me, garota, pela ação inconveniente de uma de minhas alunas – diz ela, observando-me com curiosidade e um certo receio. – Somente estou aqui para avisar que você está sendo requisitada para entrar na sala do Mestre Glorificador Clérigo.
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A Série Espelho dos Olhos - Livro Íris
Ficção CientíficaE, se por causa de uma revelação, sua vida mudasse? E, se por causa de ser quem você é, as pessoas te julgassem sem ter conhecimento algum? Revelar-se, às vezes, pode não ser uma boa ideia. Mas é preciso. - Querido pessoal, Espelho dos Olhos já está...