Capítulo 2

45 10 9
                                    

Decido aproximar-me das oito garotas, que estão sentadas nas mesas, segurando fichas. A garota que me chamou fica olhando-me de um jeito questionador, parecendo perguntar algo com seus olhos. Ela está com as mãos inquietas e segura impacientemente uma caneta azul. Voluntariamente, tento lembrar-me de não criar confusão nenhuma. Mas logo recordo de que humanos pertencentes aos Glorificadores visam à bondade acima de tudo e que eles têm bom coração. Ou, pelo menos, deveriam ter.

– Olá, garotinha. Sou Mary Roseanne Vásper – diz ela, já de pé, estendendo a mão direita cheia de joias pretas, com uma voz melosa. – É sempre "bom" ter mais uma Glorificadora de um minúsculo vilarejo conosco. Eu realmente espero que seus pais paguem a Escola Talental. Afinal, se eles não pagarem, você sabe que não irá desfrutar de suas habilidades nem escolher uma subdivisão e... além do mais, nunca pertencerá a uma Elite. – Mary Roseanne segura uma prancheta nas mãos com um papel no qual está escrito "Inscrições Viagem de Busca". – E, ah! A propósito, estamos no terceiro ciclo experimental, vivenciando uma Viagem de Busca. Eu poderia anotar o seu nome na lista de inscrição?

Balanço a cabeça que não.

– Obrigada – respondo, sem ação, ao ouvir tantas informações negativas. – Agradeço seu "convite", Glorificadora. Mas eu não entrarei na Escola Talental.

Ela começa a escarnecer repentinamente.

– Que triste – diz em um tom debochado, prendendo o riso. – É verdadeiramente deprimente uma Classe de Talento ser um desperdício. – Ela desliza suas mãos, colocando-as em seu coração como se estivesse sentindo algum tipo de tristeza. – Causa-me sentimento de pena ver uma menininha que não tem dinheiro para pagar. Como deve ser duro para você... não é?!

Há algo errado. Sinto-me extremamente ofendida. Eu tinha certeza. Eu poderia apostar minhas fitas de seda que uma garota Glorificadora jamais poderia ser arrogante e sem senso de educação. Em minha cabeça, a Classe de Talento de íris esverdeadas deveria ser bondosa, do tipo altruísta. Isso é a sua obrigação. Como ela pode... agir dessa maneira?!

– Mary Roseanne! – diz uma voz. Alguém surge ao lado dela como um susto. – Pare já com isso! – Uma Glorificadora aproxima-se, deve ser a Mestra responsável pelo ciclo experimental das meninas na mesa. – Não azucrine a garota dizendo bobagens! Você também deve respeitar aqueles que não irão entrar! Lembre-se de que isso não entra em nossos propósitos. Apenas estamos aqui para ajudar nas inscrições.

Mary Roseanne queima, revirando seus olhos, respirando de maneira indignada.

– Mas, mestra Felisa – diz a Glorificadora sinistramente, tentando rebatê-la, erguendo seu nariz que contém buracos extremamente grandes –, esta ilha é um completo tédio! É a primeira garota no dia possuinte de uma Classe de Talento neste lugar, mas não se inscreverá por não possuir dinheiro! Como isso pode ser possível?

– Srta. Vásper, modos em primeiro lugar – diz a Mestra, franzindo seus olhos. – Deve ficar mais calma, ou irei dispensá-la das atividades, o que leva horas extras ao seu ciclo devido à grade.

– Mas...

– Mas nada – corta ela. – Não há mais nada a ser dito. Agora torne a rezar cinquenta vezes a oração de "paciência efetiva" ao ar livre. Vá!

Mary Roseanne se cala sem mais, emburrada, cruzando os braços e andando para fora. A Mestra, que parece estar extremamente ocupada, decide aproximar-se mais de mim, colocando algumas fichas na mesa.

– Perdoe-me, garota, pela ação inconveniente de uma de minhas alunas – diz ela, observando-me com curiosidade e um certo receio. – Somente estou aqui para avisar que você está sendo requisitada para entrar na sala do Mestre Glorificador Clérigo.

A Série Espelho dos Olhos - Livro ÍrisOnde histórias criam vida. Descubra agora