─ Claro.

Dei mais uma olhada no Oli, só para me certificar de que estava bem, seus olhos encontram os meus e ele desviou o olhar. Agarrei os canudos, e pela visão periférica, vi quando Oli agarrou o notebook e o enfiou na bolsa junto com o calhamaço que eu havia lhe dado. Meu coração parecia uma máquina, trabalhando a todo vapor.

─ Você já vai? ─ perguntei num tom chiado, fraco demais até para os meus próprios ouvidos. ─ Ainda nem começamos a fazer o...

─ É. Acabei de lembrar que... Que o dir. Prescott pediu que eu desse uma passada na... É... Na sua sala.

Deixei os desenhos de lado e me aproximei dele, assustada. Oli não parava de suar, suas mãos estavam trêmulas, a voz fraca demais.

─ Você tem certeza que está bem? ─ perguntei, ao tempo que Jason pigarrou, deixando o braço pousar sobre a mesa.

─ Panaca. ─ eu tive a impressão de ouvir Oli chiar antes se virar para mim. ─ Fica fria, está tudo bem. A gente se vê por ai.

Depois disso, ele passou a alça da bolsa pelo pescoço e deixou a biblioteca, quase correndo. Eu pensei em ir atrás dele, mas acho que todo mundo precisa de um pouco de espaço vez ou outra. E enquanto observava, com o coração aos pulos, o Oli se distanciar, senti a mão de Jason enlaçar meus dedos e me puxar para a mesa.

─ Você não quer ver os esboços?

Respirei fundo e sorri. Eu queria ver os esboços, é claro que queria, mas mais do que isso , mais do que qualquer outra coisa no mundo, queria ficar perto do Oli. Queria sentir seus lábios dançando pela minha bochecha, sua respiração de menta açoitando minha boca e seu coração batendo contra o meu.

─ Claro. ─ garanti, me apressando em abrir os canudos. Ele deu uma risada preguiçosa e grudou as costas na cadeira. ─ Uau! ─ foi tudo que consegui dizer diante do enorme lêmure que ele desenhara para mim.

─ Você gostou?

─ Não. ─ disse com um sorriso. ─ Eu adorei. Ficou tão lindo.

Seu sorriso se alargou enquanto seu olho esquerdo abriu e fechou numa rápida piscadela.

─ Fico feliz que tenha gostado. Isso me deu um bocado de trabalho.

Voltei a encarar o desenho do lêmure pendurado no galho de uma árvore, as letras acima de sua cabeça pequena: ADOTE UM LÊMURE RATO PIGMEU! , e quis abraçar Jason por fazer aquilo por mim, por ser tão gentil e tão bom.

─ Obrigada, milhões de vezes, obrigada. Nem sei como agradecer.

─ Eu sei. ─ sua voz saiu mais baixa que o normal quando seu braço se esticou e os dedos longos e morenos se enrolaram nos meus. ─ Posso pensar em mil maneiras.

Paralisada, o vi ficar de pé e passar o braço pela minha cintura num abraço desajeitado. E foi muito estranho. Abraçar o Jason não era como abraçar o Oli, eu não me sentia em casa no seu abraço, não sentia que nos pertencíamos. Meio sem jeito, retribui o abraço e depois o afastei.

Ele ficou parado, me encarando com a sobrancelha arqueada, então riu e voltou a sentar.

Arrumei os óculos, ainda acabrunhada, e ocupei a outa cadeira. Por um momento, enquanto enrolava o canudo para enfiar na mochila, tudo o que eu consegui ouvir foram meus pensamentos, a voz que dizia que aquilo estava estranho, que Jason estava estranho, me olhando daquele jeito, como se perscrutasse a minha alma.

Num movimento preguiçoso sua mão deslizou rumo ao dossiê, os olhos se arregalando diante das palavras na capa, antes que ele pudesse de fato alcançá-lo, arrastei o caderno para longe.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now