22| Mais Que um Ciclo

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O demônio avançou pelas calçadas e na primeira oportunidade, pulou para cima de uma das caçambas de lixo, agarrou no parapeito de uma janela e escalou agarrando nas grades que circulavam as janelas dos apartamentos.

Rafael correu mais depressa, estava a poucos metros de desvantagem, o suor de seu corpo era refrescado pelo vento gélido da cidade. A respiração estava ofegante e a cada expiração, vapor condensado esvaía de sua boca. Ele forçou os dedos a conduzirem energia, mas nada além de poucas faíscas surgiram. Estava parcialmente fatigado. Em boa parte do tempo, Rafael esquecia-se de que seu corpo era o de um simples mortal.

Ele forçou-se a correr mais rápido. Pulou sobre a caçamba de lixo e fez os mesmos movimentos para escalar o edifício, que deveria ter em estimativa sete metros de altura. Ao chegar ao topo, olhou para baixo.

As pessoas estavam imersas demais em seus próprios celulares para notar que suas realidades eram uma ilusão. Menos uma criança, Rafael notou, um menino, que parecia ter seis anos de idade, puxou o vestido da mãe apontando para cima, a mulher olhou, não via nada de anormal. Balançou a cabeça e voltou a dar atenção ao aparelho telefônico, puxando a criança pelo braço.

A vista do alto era panorâmica, estonteante. Era possível ver diversos edifícios iluminados e alguns dos canais de Amsterdã destacavam-se. Rafael poderia passar horas desenhando tal paisagem.

Ele observou seu inimigo, a poucos metros.

O infernal correu e saltou da ponta do prédio, parando em outro logo em seguida. Rafael acelerou a corrida, o vento frio correu por seu corpo causando mais adrenalina, era quase impossível manter os olhos abertos, fazendo-o se guiar pelos outros sentidos.

Ele colocou impulso nos pés ao chegar na beira e como se não houvesse gravidade, suas pernas balançaram no ar e ele parou, com os joelhos levemente flexionados no chão de concreto do outro edifício.

O demônio olhou para trás com os olhos aterrorizados. Jogou facas de matéria infernal contra Rafael mas o jovem desviou de todas com a agilidade de uma serpente. Rafael não tinha mais energia para usar seu poder celestial e era para situações como aquela que guardava adagas de prata nos coturnos.

Sem parar de correr, ele puxou uma das facas. Estava a menos de um metro de distância do infernal, que estava quase chegando a beirada da outra construção. Rafael parou, cerrou os olhos e jogou a faca. O principado gritou assim que a arma ficou em seu pé, prendendo-o no chão.

Ele curvou-se e segurou a faca, prestes a tirá-la, porém, o metal queimou sua mão.

Prata, uma maldição para os amaldiçoados, pensou Rafael, enquanto se aproximava em passos lentos.

— É triste, não acha? — O ser pronunciou cuidadosamente. A voz soaria horripilante para qualquer mundano. — Estar prestes a matar um irmão.

Rafael riu com desdém, uma das adagas girando na mão direita. Aquilo era tão previsível, nenhum demônio tem interesse em descender.

— Não vou cair no seu jogo. — Ele disse, parando de frente a criatura, a poucos centímetros. Suas cabeças estavam na mesma altura.

O demônio acendeu duas chamas alaranjadas nas duas mãos, e ergueu os braços para frente. O fogo iluminou o rosto de Rafael, que desviou dando um passo para trás.

Os lábios de Rafael curvaram-se em um sorriso e logo, não tinha mais controle de sua língua. Ele sussurrou uma série de palavras em um idioma não reconhecido por humanos.

As chamas nas mãos do principado se esvaíram e este gritou, sangue negro escorreu de seus ouvidos e traçaram uma linha até as clavículas. Era a língua dos anjos.

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerWhere stories live. Discover now