22| Mais Que um Ciclo

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Colocou a palma da mão direita sobre a ferida e fechou os olhos, os cílios tocando as maçãs do rosto, que estava ruborizado. Deixou a mente voar por entre nuvens densas da consciência, levantou as pálpebras e retirou a mão de cima da queimadura, logo após, não se achava hematoma algum, sem levar em conta as ondas bem desenhadas da tatuagem.

Ele mirou seu olhar para os dois lados e correu para a direita, batendo nos ombros dos jovens dançantes, avistando sua próxima presa. Conforme se aproximava, uma dor contundente dominou seus tímpanos. A cada passo ouvia com mais clareza a língua demoníaca entoada e lutava para permanecer firme.

É psicológico, ele repetia em pensamento. Você consegue controlar.

Um infernal traçava letras em língua demoníaca, com as garras das unhas, nas paredes da boate, ao mesmo tempo que entoava um cântico na mesma língua. Os olhos vagantes evidenciavam que o demônio estava alucinado pelos próprios atos.

Rafael puxou o principado pelo colarinho do sobretudo e prensou-o contra a parede. Fechou os dedos das mãos no pescoço do ser e apertou-os. Um manancial de fogo celeste fluía de sua mão, as veias de seu pescoço demonstravam querer estourar e carregava no olhar uma aversão voraz.

De súbito, o demônio empurrou Rafael e ergueu o punho para lhe dar um soco, mas Rafael, rápido como um vulto, bloqueou o soco com os dois antebraços e revidou com um chute no estômago.

Rafael tinha uma força descomunal, aliás, o anjo dentro dele. Deu dois socos seguidos na face da criatura à sua frente e o principado infernal, cambaleou, tonteado, porém, ainda tinha forças demoníacas em si e conjurou dois punhais nas mãos, forjados do fogo alaranjado.

Rafael desviou para o lado no momento que o demônio avançou para cima dele. Sem se importar com a dor, Rafael segurou na ponta dos dois punhais com as duas mãos, sangue escorreu por dentre os dedos, mas o fogo que jorrou das mãos foi capaz de desfazer as armas, de modo instantâneo, e queimar as mãos do demônio, deixando-as em carne viva. O mesmo recuou, com um grito demoníaco ecoando.

A fumaça da boate deixava a visão de Rafael meio enevoada. Ele fechou os olhos por um instante e quando abriu-os, deu passos para trás com uma expressão atordoada, perguntando-se como tudo ao seu redor havia desaparecido e dado lugar a escuridão. De repente, uma forma surgiu a sua frente como se formada de uma fumaça passageira. Uma garota pálida se aproximou dele.

Ele encarou-a perplexo.

— Arya?

A jovem tinha cabelos longos, negro e lisos e algumas sardas próximas ao nariz. Os olhos castanhos ressaltados pelas sobrancelhas arqueadas.

— É uma ilusão. — ela sussurrou em inglês. Parecia falar de muito longe.

Não é real, acorde. Disse a si mesmo e comprimiu os olhos com muita força, uma ruga formou acima do nariz. Quando abriu-os, estava novamente submetido as luzes coloridas da boate.

Ele pode ver de relance o demônio, com quem acabara de lutar, escapando pela porta dos fundos.

— Covarde. — ele disse entredentes e correu ao encontro do adversário.

Rafael chutou a porta pela qual havia entrado. Na saída do beco, o infernal estava com os joelhos flexionados e a parte de trás do sobretudo se rasgou a medida que as asas negras cresciam.

Rafael concretizou uma adaga entre os dedos, deu um passo a frente, inspirou e lançou-a. A lâmina celeste seguiu em linha reta, cortando o ar como um relâmpago, e acertou exatamente no meio das omoplatas do principado.

O infernal rangeu os dentes e gritou, sua voz era como o rugido de um leão. As asas voltaram ao lugar de origem e sem perder tempo, ele correu em direção a rua. Rafael avançou logo atrás. As ruas estavam movimentadas, mas, qualquer mundano com as barreiras da visão intactas via no máximo, apenas vultos.

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerWhere stories live. Discover now