Capítulo 1

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MAYA

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MAYA

Os espinhos no caminho da corça

Há paz em meio a dor. Minúscula, quase invisível, isto é certo, mas existe um lugar sossegado durante a consternação que, quando o encontramos, nos deparamos com a cura para todas as nossas feridas. Francamente, não é um encargo de fácil compreensão, tampouco, um caminho simples de se peregrinar. Requer, eu diria, uma perspectiva celestial, esta que vai mais adiante do que nossas meras concepções desacertadas. Ali, somente naquele espaço que poucos encontram, existem pensamentos mais altos e caminhos melhores que os nossos. Eles marcam a distância que há entre uma pequena gota no oceano, como nós, e o Deus que rege o universo. Os porquês que permeiam as estradas, as lágrimas sem respostas e as feições cansadas não são absolutamente nada se entendemos o propósito maior para o qual todos fomos chamados.

Era assim que eu decidira pensar desde que pusera os pés fora da cidade de Porto do Céu, há três anos. Conseguia lembrar da angústia que apertava meu coração dilacerado pelas palavras de Caleb, do sentimento de culpa, do medo, da tristeza e da raiva por não compreender o que levou meu noivo a terminar nosso relacionamento daquela maneira tão cruel. Mas, acima disso, eu via algo maior. Por incrível que pareça, foi em meio a dor que eu pude conhecer verdadeiramente o meu Deus.

— O Senhor sempre está no controle — sussurrei baixinho, quando o avião que me trazia de volta à minha terra natal apresentou uma leve turbulência.

— Oi? — A senhora ao meu lado achou que eu estava falando com ela. Levei as mãos à boca para inibir minha risada, mas não consegui.

— Nada, minha flor — tentei me recompor. — às vezes eu falo sozinha. Me desculpe!

Depois disso, contemplei minha rabiscada Bíblia sobre meu colo. Ela estava aberta no Salmos 18, que era meu preferido, e uma das partes que mais me chamavam atenção nele dizia respeito às corças. Durante a faculdade de medicina veterinária, fiz uma pesquisa sobre elas em virtude desse versículo. Com movimentos ágeis, elas conseguem saltar, sem muito esforço, por lugares íngremes e de difícil acesso. Seus pés são como o salmista relata e deseja. Desde então, nos dias mais sinuosos da minha vida — e nos tranquilos também — eu orava ao Senhor para que Ele me desse tal destreza ao passar pelos caminhos espinhosos com fé. E assim vinha sendo, graças à sua misericórdia.

— Como ele está? — Após uma cansativa viagem, quando já havia guardado malas e todos meus pertences em casa, questionei. Minhas irmãs me olharam descrentes após a indagação feita por mim.

— Tanto tempo sem ver sua mãe e a primeira pergunta que faz ao reencontrá-la é sobre um garoto estúpido que estragou sua vida? — Mary mostrou-se horrorizada. Sua aparência mudara durante o período em que eu passei longe. Agora, os cabelos estavam mais loiros que o normal e ela usava lentes verdes.

— Me desculpem! Não foi isso que quis demonstrar — Aproximei-me de mãezinha, dei-lhe um abraço apertado e endireitei suas madeixas acinzentadas. — Como a senhora está?

Até que te ameiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora