A Mansão

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Entrei no banheiro do aeroporto totalmente enjoada, pensando que talvez eu realmente não tivesse nascido para viajar de avião. Já tinha tomado alguns comprimidos de Dramin antes do voo, mas, mesmo sabendo que o remédio não funcionava quando a pessoa já está enjoada, engoli mais um, por via das dúvidas.

Ajoelhei na frente do vaso sanitário e implorei ao meu estômago que não me mostrasse o café da manhã ingerido horas antes. Tentei me distrair das ânsias que começaram a surgir respirando fundo várias vezes enquanto pensava em coisas boas, como orquídeas, suco de manga, filhotes de gatos, cheiro de grama recém-cortada e de café encorpado feito em prensa francesa. Foram alguns minutos tensos, mas aos poucos, o estômago rebelde se acalmou, e eu pude deixar de abraçar o vaso.

Nem cogitei passar uma maquiagem. Sephora nenhuma ia tirar a cara de defunto que me encarava no espelho. Deixei o banheiro beliscando as bochechas, entretanto, torcendo para conseguir um pouquinho de cor.

Agradeci à senhora que ficou cuidando das minhas malas enquanto eu estava flertando com a privada e fui em busca da pessoa que vinha me buscar, torcendo para que fosse Gabriel, ainda que eu soubesse que ele era chefe de segurança da Sissy Walker, não motorista.

Mal comecei a procurá-lo, meu celular vibrou com uma mensagem do chefão da gravadora avisando que um homem chamado Ferdinand estava à minha espera havia longas horas.

— Droga, dei chá de cadeira para o pobre funcionário...

Ainda trôpega, voltei para a área do desembarque, dei uma olhada ao redor e imediatamente encontrei um homem segurando uma placa com meu nome. Era o homem mais britânico que já eu já tinha visto pessoalmente. Nem sei explicar direito o que isso significa.

Fui até ele já pedindo mil desculpas pelo atraso. Não somente o voo não chegou no horário previsto, como o enjoo acabou por piorar a situação. Gentilmente, ele conteve a bateria de desculpas que eu soltei em poucos segundos e pegou minhas malas, me levando diretamente para a mansão, onde eu ficaria hospedada até o início da turnê da banda.

Ficar lá tinha sido uma decisão em conjunto, minha, de Betty e de Tony por alguns motivos. Primeiro porque faltavam poucos dias para a viagem para a Espanha, ponto de partida da turnê. Segundo porque o apartamento que a gravadora ficou de alugar para mim não ficou pronto a tempo, então cancelaram o contrato faltando dias para eu chegar em Londres.

Também tinha o fato de a mansão ser gigantesca, e todo mundo — literalmente todo mundo — da banda estar hospedado lá, para aquecerem os motores. E isso também incluía minha amiga linda, Tony, a mais nova vocalista da SW na turnê. Fazia sentido que eu ficasse junto de todos. Seria bom conhecer mais a banda.

A viagem felizmente foi rápida, e eu não contive um suspiro quando vi a enorme residência. De dentro do carro, já dava para ver que era muito grande e imponente.

— Nossa, Ferdinand! A Betty mora na mansão da Adele? — disse, rompendo o silêncio que havia permanecido em boa parte da viagem.

Pela primeira vez desde que eu vira o motorista, quase uma hora antes, pude ver um esboço de humor.

— Não, senhorita, a mansão da senhorita Adele fica em Sussex. Mas são parecidas, é verdade.

Assim que estacionamos, o motorista abriu a porta do carro, todo educado, e eu saí meio trôpega de enjoo — e de remédio contra enjoo.

Segurei no braço de Ferdinand quando a tontura veio. Ele me apoiou no caminho até o interior da casa, o que se mostrou necessário: um pequeno deslize seria o suficiente para que eu me estatelasse naquele lindo gramado.

Se a casa já parecia exuberante por fora, foi só dar os primeiros passos por aquela sala digna das melhores revistas de decoração que imediatamente minha cabeça pareceu esquecer a tontura e se concentrou somente em como tudo ali era parecia moderno, elegante, rotativo... Opa, espera, rotativo?

Amor nas AlturasWhere stories live. Discover now