Pesquisas de tendência

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Levantei da cama decidida a parar de pensar em sacanagens e começar a organizar o trabalho do dia seguinte. Selecionei algumas revistas de moda e espalhei pela cama, tentando decidir qual eu leria primeiro. Decidi pela Vogue italiana, uma das sete Vogues que comprei no aeroporto do Rio para passar o tempo.

Comecei a folhear a revista, procurando por inspiração para o que eu encomendaria para os membros da banda — ou faria eu mesma — enquanto ainda estivéssemos na mansão. Fazer pesquisa de tendência era umas melhores partes de ser estilista. Encaixar o que estava se usando no que as pessoas realmente queriam vestir era divertidíssimo!

Claro: nada daquilo ali era novidade para mim. Em geral, a WGSN, a plataforma de previsão de tendências, mostrava o que seria in ou out no mundo com pelo menos dois anos de antecedência. Por exemplo, em 2017 eu já sabia o que seria moda em 2019 tranquilamente, e isso era habitual no mundo da moda.

Ainda assim, era divertido olhar como as grandes revistas de moda interpretavam as previsões da WSGN e o que elas mesmas ditavam. Encontrei umas combinações de renda preta com estampa floral que ficariam lindas em Aline, principalmente com a saia da Vivienne Westwood que eu ajustara mais cedo. 

Recortei da revista as peças, inspirações, tecidos e ilustrações que mais se assemelhavam à imagem mental que eu criara do estilo da banda. Acrescentei um pouco de Wings, pois não faria mal a ninguém, e comecei a colar os recortes nas folhas.

Em algumas horas, havia separado material suficiente para bolar o início de uma solicitação de peças para a banda, me dei por satisfeita e fui tomar um banho. Naquele dia a temperatura havia caído bastante, então sequei meu cabelo e o alisei, pois estava morta de frio para perder tempo com difusor. 

Com o cabelo trançado e outra Vogue na mão, saí do meu quarto e fui para a sala na ala dos funcionários enquanto cantarolava uma canção qualquer. Meu humor estava ótimo, apesar do clima frio, então decidi aproveitar o tempo para desenhar um pouco.

Munida de meu caderno de desenho surradinho e de algumas colagens, comecei a trabalhar, até que meu celular vibrou. Dei uma olhada e vi duas mensagens, uma antiga de Betty, me passando algumas instruções sobre o figurino da banda e me desejando boa noite, e outra de Gabriel.

Oba! Tomara que seja uma chamada de sacanagem!!

Calma, Lena. Respira fundo. Isso, tranquila.

Oba!! Tomara MUITO que seja uma chamada de sacanagem!!

Sem largar meu caderno, abri a mensagem, sentindo a ansiedade crescer. Uma única linha na mensagem tinha me feito franzir os lábios e rir: “dez horas”. Rápido e direto. Adoro. Meio seco, mas adoro mesmo assim, pois não deixa de ser uma possível chamada de sacanagem.

Eram nove e meia quando ele tinha mandado a mensagem, então decidi não responder. Como ele obrigatoriamente passaria por mim para ir ao seu quarto, achei melhor ficar na minha. Já havia agido como uma louca ninfomaníaca demais nas últimas horas. 

— Foco nos desenhos, Helena Maria! — eu me recriminei e voltei aos croquis.

Minutos depois, ouvi passos pela ala dos funcionários e olhei por cima do ombro, saindo imediatamente dos meus devaneios. Gabriel vinha em minha direção com o rosto relaxado, porém compenetrado. Notei que ele estava usando a mesma roupa de dormir do dia anterior e sorri, achando um detalhe interessante em nossas escolhas de vestuário.

Sentando-se ao meu lado no sofá, mas mantendo uma certa distância, ele me perguntou:

— Qual é a graça?

Coloquei a revista, a caneta e o celular no braço do sofá e apontei para suas roupas.

— Estamos combinando. Camiseta branca e calça xadrez.

Amor nas AlturasWhere stories live. Discover now