A viagem

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— Lena, quantos desses você já tomou? — Aline me perguntou ao me ver colocando um remédio para enjoo na boca e engolir sem auxílio de água.

— Não sei, para ser sincera. Acho que uns quatro. Ou cinco? Ah, espera, essa é a segunda cartela que eu tomo, olha que coisa! — menti enquanto olhava a cartela vazia.

Aline arregalou os olhos comicamente, me fazendo rir.

— Mentira, é o primeiro que eu tomo. Só tinha um nessa cartela.

— Credo, garota, não me assusta assim. Depois você tem uma overdose desse troço no avião e a gente faz o quê?

— Tire fotos para ilustrar palestras motivacionais antidrogas em escolas — brinquei, recebendo uma careta risonha em resposta.

— Não toma demais esse troço. A Betty me contou que você exagerou quando veio para cá e ficou toda bêbada de sono.

— Entre "bêbada de sono" e "em overdose" tem um longo caminho a ser percorrido — respondi enquanto jogava a cartela vazia no lixo da área VIP do aeroporto e me sentava em uma poltrona confortável.

— Você não gosta de voar? — ela perguntou depois de uns segundos em silêncio em que eu fiquei respirando fundo, para ir acostumando meu sistema digestivo.

— Não é que eu não goste, eu até gosto. Quem não gosta é meu estômago. Eu fico enjoada na decolagem e quando tem turbulência, mas fico muito enjoada mesmo. Mais do que em navios, barcos, lanchas, que balançam pra burro, né? E você, voa de boas? — perguntei a Aline e começamos a conversar sobre meios de transporte mais confortáveis.

Betty e Tony chegaram à área VIP dez minutos depois, acompanhados de Erika e Gabriel, que me pegou olhando para ele e me deu uma piscada disfarçada, voltando para a expressão rígida de sempre em seguida.

Gab e eu passamos os últimos dias na mansão tomando café juntos e compartilhando a mesma cama até a meia-noite, mas, fora esses momentos, não nos encontrávamos, já que somente eu estava de folga.

Sorri para ele e abri uma revista de moda comprada na revistaria do aeroporto quando cheguei com Aline, Diego e o segurança particular do guitarrista, que não nos acompanharia na turnê. Somente Gabriel, chefe de segurança da banda, e Erika, segurança particular da vocalista, viajariam conosco. O restante da banda contaria com seguranças contratados em cada cidade, caso houvesse necessidade.

É claro que, se dependesse de Gab, haveria, mesmo com protestos dos membros menos famosos da banda, mas vai discutir com um chefe de segurança.

Li minha revista por uns minutos, até que ouvi Jim chegar com sua família e vi a filha dele, Andrea, vir correndo em minha direção vestida em uma peça que eu havia costurado: um vestidinho preto com caveirinhas.

Ajoelhei no chão e aceitei seu abraço de criança pequena, apontando em seguida para o brinquedo em suas mãos.

— Nossa, que boneca linda, pequena. Deixa eu dar uma olhada nela. Jim, posso dar um chocolate para ela? Eu comprei, mas não vou conseguir comer.

— Sim! — a menina pulou animada ao mesmo tempo que o pai dizia que não.

Jim sorriu para a pequena e me olhou com uma expressão divertida no rosto.

— Você pode até dar, mas vai ter que correr atrás dela pelo aeroporto. Chocolate dá mais energia, e isso ela já tem de sobra.

Ri dele, entreguei meu doce a ela e me sentei no chão para brincar com Andy. Aquele encontro me fez voltar a ser criança e perdi a noção do tempo até Betty vir me chamar para embarcar.

Amor nas AlturasOnde histórias criam vida. Descubra agora