V

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A noite cai pesada sobre o acampamento. Nivlek tinha o sono leve por causa dos últimos incidentes, logo qualquer barulho que não fosse o da cachoeira o fazia acordar tenso.

Foi num desses momentos de sono leve que Nivlek ouviu um barulho de unhas raspando no chão de pedra. A lua minguante lançava uma luz fraca na formação, e as estrelas ainda se faziam ver apesar do brilho da lua. Nivlek olhou para o lado para ver se Lobì ainda dormia.

Nada. Lobì não estava alí. 

Por um breve segundo imaginou que estava tendo uma alucinação e que tudo aquilo era um sonho, que havia morrido ou sido contaminado pelos Clones e aquilo era tudo coisa de sua cabeça, até ele olhar mais atentamente e ver apenas a calça de Lobì dobrada na pedra. Estranhou. Nivlek olhou para a cachoeira e viu apenas um vulto cinzento tatuado correndo para a água. Provavelmente Lobì resolveu se refrescar um pouco, a noite estava meio quente. Voltou a dormir.

Mais uma raspada. Ao abrir os olhos, Nivlek dá de cara com Lobì se deitando ainda molhado, perto da parede do outro lado da fogueira. Voltou a dormir.

-Nívlek.- Lobì o acorda logo depois. -Já ia esquecendo, é a sua vez de guardar a fogueira. Não a deixe se apagar.

-Certo... Mas... Er...- Nivlek começou a gaguejar.

-Que foi, raposo?- Lobì inclina a cabeça pro lado, curioso. -O lagarto comeu sua língua?

-Não... é que...- Nivlek apenas aponta para as pernas de Lobì. Ele estava apenas com o couro do corpo ao invés da calça que ele sempre usa.

-Ah...- Lobì pega sua calça do outro lado do abrigo e começa a vestir. -Desculpa. Força do hábito, de vez em quando eu vou na cachoeira de noite. Ainda mais quando o céu está claro assim.

-Ok, mas... Peludo?- disse com uma certa cara de horror.

-É.Assim não preciso me preocupar em ficar secando as roupas depois.- Apesar de soar absurdo, quase censurável aos ouvidos de Nivlek, Lobì disse de uma forma tão natural que parecia estar falando que ia ali beber água. -Peraí... Você toma banho de roupa???- Lobí faz uma cara de horror fingido.

-Claro que não né, mas sempre que tomo banho eu não fico mostrando meus pêlos pra todo mundo!

-Porque você fica trancado dentro de um banheiro. Isso explica o cheiro de raposo mofado que foi guardado numa caixa.

-Ei!

Lobì ri da indignação  de Nivlek. Ele não tinha culpa de ter vivido a vida inteira dentro de uma cidade e nunca ter tido a oportunidade de ir acampar. Pelo menos, não acampar de verdade.

-Calma raposo. Se quiser ir lá, fique a vontade. Eu fico e cuido da fogueira.

-Mas eu nunca fiz isso!

-O quê, tomar banho? Se acha que vou esfregar o seu corpo, pode esquecer!- Lobì dava risada do horrorzinho de Nivlek. Este também deixou escapar um riso.

-Não, besta! Tomar banho... Numa cachoeira... Sem...

-Roupa?- Lobì completa. -É fácil. É só imaginar que este é o maior chuveiro da sua vida.

-Sim, mas... Tenho vergonha....

-Estamos no interior de um planalto no meio do nada, cercado de criaturas repetidas que não pensam em nada além de se replicar e você não tem nada que eu não tenha. Fora que o que você tem não me interessa nem um pouco. -Retrucou rindo.

-Você tá parecendo uma hiena de tanto que ri de mim!

-E você uma filhotinha cheia de vergoínhas... Ain, tenhu nojinhu di cumê issu, tenhu vergoínha de fazê aquilu, mimimi mimimi mimimi... kkkkkk

DuplicattaWhere stories live. Discover now