Prólogo

2.6K 277 31
                                    


Depois de muito tempo sem escrever. Trago neste ano de 2017 uma nova história de amor. Venho convidar a todos para acompanhá-la: Um romance quase de cinema. 

Primeiro capítulo: 01/02/2017 / Após a conclusão do livro, deixarei por 24h na plataforma.


PRÓLOGO

– Eu nunca quis você aqui. – Julia vomitou em sua cara sem dó e sem piedade.

– A culpa não foi minha. Nunca foi... – falei baixinho agarrando a única que pertencia a mim, meu antigo urso de pelúcia, presente talvez da minha mãe. Não saberia jamais.

– Eu não quero saber, Michelle. Aqui eu faço as regras e não será uma novata que vai acabar com o meu reinado. – Reinado? Suas unhas vermelhas e longas faziam jus a uma bruxa de um filme de terceira categoria e naquele momento, ela me destruía.

Seu coração era gelado. Mesmo sabendo de nosso mesmo problema, de ser abandonada, ela só me via como um peso ou uma pessoa pronta para arrancar o único bem deixado para ela. Como se aquele lugar inóspito fosse o seu verdadeiro lar. Era idiotice, obviamente, Mas, durante todos aqueles anos eu preferi ignorar e seguir com a minha vida até eu completar a maioridade.

Eu sempre soube que a raiva dirigida a mim nada mais era que ver a infelicidade de tantas meninas serem jogadas fora como um lixo. Algumas como eu, tentavam pensar no amanhã para quando saíssem não sofrerem tanto com a vida dura que esperaria por trás daqueles muros. Muitas vezes questionei se minha mãe me abandonara por ser viciada, por não ter condições financeiras ou se simplesmente fui uma gravidez indesejada em um casamento fracassado. Eram tantas perguntas sem respostas, que após alguns anos eu simplesmente deixei de imaginar.

Outras moças do orfanato apenas observavam de longe as humilhações que eu recebia de Júlia. Até mesmo alguns funcionários e voluntários assistiam de longe várias situações, ficavam com pena, mas só tomavam partido quando havia agressões físicas.

Apesar disso, o lugar não era de todo ruim, não o último que fiquei, pois apesar de passar longos períodos sem fazer muitas coisas, as freiras que cuidavam o local sempre inventavam teatros e atividades de fim de ano para apresentarmos aos visitantes. Esse fora o meu último orfanato antes de ser jogada para a vida real. Júlia e suas comparsas aterrorizavam as meninas como se todas fossem desprotegidas. Quando eu cheguei, fui apresentada às suas regras e me submeti por desconhecer o terreno, mas após alguns meses, mostrei a minha personalidade.

– Você está no mesmo patamar que eu aqui. – Júlia discutia para dormir na minha cama com o pretexto de estar mais limpa que a sua. Eu não permiti. – Essa cama aqui, no momento, pertence a mim e sou eu quem vai dormir nela.

– Tá querendo criar asinhas? – ela disse com mais duas meninas em seu encalço. – E que palavras bonitas ela usa, gente! – caçoou.

– Eu apenas prefiro ler e estudar ao invés de ficar coçando a bunda como você faz. Quando eu sair daqui, vou correr atrás de um futuro brilhante e não de uma vida medíocre como a que você pretende ter.

– Você deve medir as suas palavras quando falar comigo. – ela se aproximou. – Eu posso quebrar os seus dentes, sua vaca louca.

– Eu não tenho medo de você, Júlia. Eu sinto pena. Sabe o que vai acontecer daqui a dois anos? Assim como fomos abandonados quando crianças, seremos novamente deixados à revelia. Será uma interrupção brusca e o prazo dessa sua pseudo vida terminará quando completarmos 18 anos. E adivinha? Você não terá um teto, não terá comida, não terá nada. Se acha que o Governo com suas fantasiosas políticas públicas vai te dar condições de se sustentar sozinha... Lamento te informar. Procure começar a estudar e a procurar um emprego, pois estamos ficando sem alternativas.

Ela me olhou indignada. Vi um semblante de preocupação passar por seu rosto, mas logo passou transformando-se no que ela conseguia fazer de melhor para esconder o seu medo: a violência. Ela pulou em cima de mim em um rompante derrubando-me no chão, mas quando tentou desferir o primeiro soco, eu desviei o meu rosto empurrando-a com meu joelho. Ela caiu para trás e eu me levantei rapidamente.

– Não tente isso novamente, Júlia. Eu não quero brigar. – suas amigas não se meteram. Acho que se assustaram com a raiva que eu emanei pelo corpo. Estava ficando extremamente irritada.

– Eu vou te ferrar! – ela se levantou pronta para continuar, mas dessa vez eu não seria tão pacífica. Júlia novamente se jogou sobre mim. Eu a segurei com os braços e dei uma joelhada em seu estômago. Quando ela arfou de dor, não pensei duas vezes em atingi-la com uma direita bem dada no meio de seu nariz. Ela gritou e vi o sangramento molhar a sua roupa.

– A discussão acabou. – eu disse. – Meninas, chamem a madre. – elas ficaram atônitas. – CHAMEM a madre. – gritei tirando-as da inércia. Elas correram como loucas e eu fiquei assistindo ao sofrimento de Júlia. – Essa dor que você sente agora não será comparada ao seu futuro se você não começar a me escutar, Júlia. Eu quero que todas aqui tenham uma vida digna. Inclusive você. Ninguém aqui é culpada por seu abandono, ninguém.

– Eu te odeio. – ela disse com os olhos lacrimejados com mão no nariz. Eu ignorei aquele discurso vazio e cheio de raiva que constantemente era pronunciado por ela. Virei-me e sentei sobre a minha cama esperando a ajuda chegar.

O tempo passou. E a minha vida tomou um rumo promissor. Eu estudei bastante, prestei o vestibular e consegui passar no curso que eu queria para uma federal. Foram longas horas sem dormir, sem descansar. Mediante a avaliação de minhas condições socioeconômicas, as portas foram abertas e eu pude morar nos alojamentos da faculdade.

Consegui uma bolsa-estágio e me mantive focada nos estudos. Formei com honra e agradeci às inúmeras pessoas que me incentivaram. Elas jamais saberiam o quanto foram importantes porque meu contato com elas era apenas por meio da leitura de cada matéria publicada em revistas e jornais. Eram histórias de superação desde a de um morador de rua que dera a volta por cima, ou uma pessoa sofrida que alcançou os seus sonhos com muita perseverança... Essas notícias eram as que me envolviam e me davam ânimo quando eu me sentia para baixo. Quando as datas festivas chegavam, eu nunca deixara a tristeza me dominar. Natal? Minha ceia era um pacote de panetone e uma boa caminhada pela praia contemplando a natureza nessas horas. Ano novo, nada era melhor que ver a queima de fogos na praia de Copacabana.

Sobre amizades... Eu cultivei diversas. Pessoas de todas as classes sociais gostavam da minha companhia, talvez fosse pela energia positiva que tentava transmitir a todo o tempo. O que impressionava a todos era a minha honestidade. Nunca neguei o meu pedaço como órfã e era até engraçado quando eu contava, pois muitos acreditavam que eu, forte como era, havia nascido em berço de ouro. Quem me dera... Não sou pretensiosa em dizer que gostaria de ter a mesma vida. Se tivesse a chance de mudar o meu passado dando lugar a uma família que me protegesse e amasse, não pensaria duas vezes em fazê-lo. Mas não existe gênio da lâmpada, muito menos fada madrinha. O que é necessário é persistir e nunca desanimar quando uma porta se fecha.

O que adiantaria eu culpar as pessoas? Minha realidade não mudaria em nada. Pelo contrário, eu alimentaria aquele sentimento escondido no fundo da minha alma que, se sobrepujassem aos valores que eu escolhi como certos, poderiam envenenar a minha alma e me tornar uma criminosa. Não. Esse não era o meu objetivo. Passei muitos anos trancada em diversos orfanatos e não queria ter o resto da minha da mesma forma caso retirassem a minha liberdade por causa de um delito qualquer.

Júlia tampouco soubera, mas sua forma de ver a vida me ensinou muito. A convivência insuportável, sua imposição de regras e humilhações deram-me forças, não o contrário. Agora, eu estava trabalhando em uma das melhores empresas do ramo de Marketing e eventos, bem-sucedida e com um futuro brilhante. Apesar da minha breve história, eu acreditei ser dona do meu próprio caminho crendo que jamais sofreria novamente qualquer desventura, pois trabalhara para não sofrer mais. Porém, o destino me brindou com mais surpresas e nem todas foram agradáveis e tudo mudou quando esbarrei com o suposto amor da minha vida. Eu só não sabia que sofreria tantos abusos nas mãos de alguém que seria livre de qualquer suspeita. 

Um romance quase de cinema DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora