Capítulo 9 - Irmãs

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      No dia seguinte, domingo, acordei com terríveis dores de cabeça e um latejar intenso nas vias respiratórias. Atos simples como inspirar e expirar se tornaram um processo de tortura. Sabia que precisaria lidar com aquele péssimo estado físico por alguns dias, mas era insuportável. Porém, antes estar assim a permanecer por séculos debaixo de sete palmos de terra — morta.

      Sentada à mesa do almoço, comia a refeição com muita dificuldade. Cada pedaço que percorria minha garganta a fazia arder dolorosamente. Meu semblante devia estar péssimo enquanto deglutia o alimento,e o comentário de minha mãe Clara confirmou a suposição:

— Alice, a comida está ruim? Posso pedir para Marlene preparar outra.

— Está ótima, é que só — tossi um pouco — Dói um pouco quando tento engolir alguma coisa.

— Isso é resultado da sua incompetência — resmungou Esther — Tivemos os melhores professores de natação e você ainda é capaz de se afogar?

      Revirei os olhos. Sabia que Esther iria fazer algum tipo de ponderação a respeito do meu "acidente" a qualquer momento. Entretanto, combinei com Dante que não entraria em detalhes a respeito do que realmente me aconteceu. A versão dita a minha família foi de eu não ter conseguido nadar e, por isso,engolira litros de água. Não queria contar a eles o que ocorrera realmente... Não é como se fossemse importar de eu quase ter sido assassinada.

— O importante é que você está bem — disse meu pai, Marcos, abrindo um sorriso. Ele poderia não me compreender tanto, mas parecia a pessoa que mais sentia carinho por mim naquela família.

— Aproveitando que estamos todos aqui, gostaria de discutir uma coisa — falou minha mãe — Todos aqui temos uma carreira formada. Eu e seu pai somos empresários, Esther é uma linda modelo, mas Alice... bem, você não é nada até agora.

— Eu quase morri e você está preocupada agora com minha vida profissional? — bebi um gole de suco — Só pode ser brincadeira. Não quero falar sobre isso.

— Você já está no 3° ano! É claro que precisamos falar sobre isso. Acha que vai ficar para sempre na cola dos seus pais, sem uma carreira? — disse sra. Clara, batendo fortemente a mão sobre a mesa. Ela respirou fundo e continuou — Mas não se preocupe, eu tenho uma ideia.

— Que ideia?

— Pensei em você e Esther saírem juntas hoje. Talvez assim a mídia perceba a sua existência e possamos trabalhar em cima disso.

— Não quero construir uma carreira em cima da fama de Esther! Além do mais, quem disse que quero ser modelo como ela?

— E quem disse que eu quero sair com ela? — interrompeu Esther.

— Não comecem — falou meu pai — Escutem a mãe de vocês, por favor.

— Você não precisa ser necessariamente uma modelo... Quem sabe uma atriz? Uma cantora?

— Cantora? — minha irmã riu — Já ouviram Alice cantando? Fico com dor de cabeça pelo resto da semana quando a ouço.

      Trinquei o maxilar. Minha irmã estava certa, eu não possuía talento algum para a carreira no show business. Ademais, não queria que minha vida fosse ditada pelos projetos mirabolantes criados por minha mãe. Queria encontrar meu caminho por mim mesma, fazendo algo que fosse de meu agrado.

  — Não quero saber disso. Não sou uma marionete para vocês quererem decidir o que devo ou não fazer.

— Dê uma chance a isso. Estamos apenas pensando no seu futuro.

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