Uma semana se passara desde o falecimento de Daniel. Naquele momento, estávamos todos na catedral de Turjitown, parentes, amigos e funcionários do colégio, prestando as condolências à família de nosso colega. Era sua missa de 7° dia, mas esse tempo que se passou não foi capaz de tirar a tristeza do coração dos presentes.
Estávamos desolados com a morte dele, mas com certeza Charlotte era a mais afetada em meio aos companheiros da escola. Eu e Helena estávamos sentadas em um banco do local, abraçadas a nossa amiga, que permanecia com o semblante fechado. Há dias não víamos a vitalidade e o sorriso no rosto da garota. Perder o namorado abalara completamente o emocional dela. Apesar de nossas palavras de conforto, Charlotte não apresentava melhoras em seu estado de espírito.
Ainda sinto reverberar em meus ouvidos o grito histérico que ela deu ao receber a notícia. Nunca vira alguém chorar tanto, a dor estampada em cada lágrima que escorria por seu rosto. Na catedral, já não havia mais lágrimas para se derramar. Elas haviam se esgotado. Restou com ela a expressão devastada, a vontade de querer fugir daquela realidade.
— Eu vou acordar desse pesadelo? — ela sibilou, olhando para o além.
Eu e Helena apertamos o abraço que dávamos na garota. Seu corpo estava gelado e imóvel.
— Isso vai passar — disse Helena.
— Mas... meu namorado... não vai voltar nunca mais — ela disse, trincando os dentes.
— Acidentes acontecem. É duro, mas precisamos aceitar — falei.
Charlotte começou a sacudir a cabeça, em negação.
— Não pode ter sido um acidente. Eu sinto que não foi — ela olhou para nós, desesperada.
— A polícia analisou o local. Ele morreu asfixiado. Não há hematomas nem rastros deixados por outra pessoa — esclareci.
— Não, Alice, não — ela segurou meu pulso — Daniel não é, era, idiota. Ele não cometeria o erro imbecil de trancar a porta das salas e as janelas quando estava manuseando aquelas coisas. Nem sei o nome dessa merda que o matou.
— Também não sei — falou Helena — Tinha um nome, mas não me lembro qual.
— Por favor, pensem comigo, eu não estou louca — sua fala soou como uma súplica — Namoramos por um ano e sete meses. Eu o conhecia suficientemente bem para saber que ele não cometeria um estupidez dessas — ela deu um fungada — E outra: não é muita coincidência ele não ter conseguido abrir nenhuma das janelas e nem a porta? A direção e a coordenação do colégio querem nos fazer de idiotas.
— Então você acha que ele foi assassinado? — perguntei, arregalando os olhos.
Charlotte assentiu com a cabeça.
— Por que alguém o mataria? — indagou Helena.
— Eu não sei... Só sei que essa história de "acidente" não entra na minha cabeça — ela passou as mãos pela saia preta que estava usando — Eu preciso respirar um pouco de ar puro. Vamos lá fora.
Seguimos Charlotte até o portão de madeira que dava para o exterior da catedral. Várias pessoas estavam no local conversando, mas o ar pesaroso não abandonava o ambiente de forma alguma. Enquanto íamos em direção ao muro baixo que circundava a catedral, onde pretendíamos nos sentar, fomo paradas pela figura de um homem alto, com o terno preto marcado pela musculatura definida.
Eu o reconheceria a quilômetros de distância.
— Charlotte, esperamos que consiga superar toda essa situação o quanto antes — Dante falou, segurando as mãos de minha amiga — Conversamos com seus pais. Temos uma equipe de psicólogos na escola, se precisar.
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Escarlate
Mystery / Thriller"Escarlate - a cor do fogo, da paixão, do desejo e do sangue que escorre por minhas mãos". Alice Middleford, integrante de uma poderosa e prestigiada família, é forçada a se mudar para Turjitown, novo local de trabalho da irmã mais velha e mod...