Acordei segundos depois próxima à um enorme e colorido coral. A estranha criatura estava quase em cima de mim, me encarando com aquela face enorme "Você é uma sereia?", ele perguntou

Meu corpo deu um salto - ele falava a mesma língua que eu! Isso não era possível, eu esperava ouvir algum idioma conhecido como baleiês ou qualquer um de outro animal. O que seria aquela coisa? Me escondi atrás de uma pedra enquanto o observava.

"Não tenha medo", ele disse "eu sou amigo."E talvez percebendo meu medo ele tirou a coisa que circulava seus olhos: "Pronto, sem máscara, que tal?" como ele havia percebido a comunicação? Como ele conseguia enviar tão bem seus pensamentos para mim?

"Máscara"

"Sim, oras, mas como vou ficar aqui perto da superfície, acho que não precisarei disso tudo."  ele me olhava e se afastava lentamente, como se a qualquer instante eu fosse me desmaterializar em sua frente. "Você fica aqui um segundo enquanto eu me desfaço dos meus equipamentos?" Como ele conseguia direcionar seus pensamentos para mim? Nem falava como nós! Nossa comunicação é geralmente feita pela fala, mas não é impossível nos comunicarmos por pensamento, o direcionando até a outra criatura. Lembro-me claro como o mar, a primeira vez em que descobri em mim esse poder; eu estava na Itiquira, junto de outras sereias novas sendo cuidadas pela Casta 1; na ocasião, uma sereia da 1 resolveu separar-me de Nikaia assim que chegamos, nos deixando em turmas separadas e impedindo nossas interações. Eu mal havia nascido e já me sentia conectada a Nik, já queria a todo custo ficar ao seu lado - e ela demostrava o mesmo que eu. Foi com muita raiva também, que percebi a coroa irritantemente deslumbrante na cabeça da sereia; nervosa, imaginei ofensas sobre aquela coroa, mas nunca imaginaria que a sereia 1 iria me "ouvir". Lembro que ela ficou tão abismada com o meu alto repertório de ofensas que desistiu de me separar de Nik, me levando junto a ela na outra turma, e sair resmungando coisas como "Que absurdo, não sabe nem lutar e já é estúpida desse jeito!".

Do que exatamente ele estava falando? Fiquei apenas observando a criatura. Assim que ele tirou a tal máscara e abriu os olhos pude apreciar um pouco da cor deles - não que eu nunca tivesse visto algo assim nos olhos das sereias, mas no nosso caso é tudo muito expansivo, para ele era algo muito mais... Natural. 

Como eu não lhe respondi, ele fez uma cara parecida com a que Nik faz quando não consegue entender alguma lição complicada de combate. Nadando de costas sem tirar os olhos de mim ele foi se aproximando do barco, até que sumiu. É agora, pensei, posso simplesmente voltar pra casa e dizer para Miriah que nem fui à expedição porquê estava me sentindo mal - claro que eu teria de cumprir 500 horas de punição, mas qualquer coisa é melhor do que ela perceber que eu falhei. Então nadei em disparada até ficar o mais longe possível, estava quase chegando ao local em que me despedi de Nik quando ouvi ele me chamar. "Sereia! Eu prometo que não vou te fazer mal, só quero conversar, eu estou meio perdido!"

Mas auxiliar criaturas perdidas é uma tarefa dos tritões e sereias híbridos - pelo menos foi o que eu aprendi, porque nunca cruzei com nenhum. Dizem que são eles os responsáveis por ajudar baleias em seus partos, peixes presos em "redes" e resolver qualquer problema que envolva outra criatura que não seja sereia. Mas agora era diferente, curiosa como sou não conseguiria impedir-me de nadar até ele e de oferecer ajuda, afinal ele parecia tão sincero! Resolvi voltar, mesmo porquê, era um animal semelhante a mim! E eu era responsável pela segurança e bem estar de todas as sereias.

Porém, uma parte de mim me parava, e falava continuamente para que eu voltasse: "Não Savannah, é muito perigoso, você já arruinou a transformação, quer arruinar mais alguma coisa?". Mas eu queria tanto saber de qual espécie ele é! Outra parte de mim, motivada pelo bater sempre rápido de meu coração, ponderava a questão; mesmo porquê eu teria de fazer um relatório sobre minha primeira expedição - e não poderia simplesmente mentir ou deixar minha folha em branco, muito menos poderia eu, deixar esse encontro de fora relatório por mais que esse pequeno detalhe me rendesse mais umas 600 horas de punição. E além do mais, ele parecia totalmente inofensivo, claro que ainda não vi seus dentes, mas se eu sei conversar com um Tubarão Branco, com esse animal não será tão difícil!

Sociedade das Sereias - Reino de AletheiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora