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Talvez pela primeira vez eu tenha conseguido entender a mensagem subliminar na expressão facial de Petrus; ele estava chocado

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Talvez pela primeira vez eu tenha conseguido entender a mensagem subliminar na expressão facial de Petrus; ele estava chocado. Algo me dizia que nem em 1 bilhão de eras ele poderia ter imaginado que a minha resposta seria essa, para ser sincera, nem eu esperava isso. Quando ele me ofereceu o cargo eu só consegui pensar em Nik e em como ela seria afetada por isso. Na minha cabeça a cena já estava montada; eu chegava lhe contando a novidade, ela começaria a chorar e a talvez, jogar coisas em mim, depois sairia aos prantos com a promessa de que nunca mais falaria comigo. Eu realmente tinha um forte motivo para sugerir um torneio, mesmo tendo certeza de que tudo terminaria comigo e Nik lutando, na verdade, talvez tudo começasse e terminasse comigo e Nik na arena.

"Como assim Savannah? Você está sugerindo uma luta entre você e sua irmã?"

"Exato. Você disse que precisa de alguém que tenha vontade se provar, e de fato eu tenho, mas quero que você veja além, e reconheça o potencial em Nik. Acho que ela merece ao menos uma chance de viver a vida dos sonhos."

Ele me encara com um cotovelo apoiado na mesa sustentando seu queixo, e a outra mão junto ao tridente, quase como se fosse a um terceiro braço inseparável. Senti seus olhos perscrutarem minha expressão e medir cada palavra dita por mim. Impassível e rígido era a sua forma de pensar.

"Está bem. Mas eu tenho um condição."

"O que você desejar."

"Se Nikaia vencer, se ela se provar mais leal e perfeita do que você, eu te condeno ao exílio no Mundo de Cima"

"Como? O que seria esse mundo?"

"O território dos humanos. Claro que isso não é comum, nunca arrisco minhas sereias, mas como você me desafiou eu também te desafio."

"Tudo bem, eu aceito o exílio. Mas se ganhar quero todas as respostas que precisar, quero saber de tudo, sem nenhum segredo. Tudo bem essa minha condição?"

Petrus não costuma ser testado, principalmente por uma de suas sereias, mas se ele é capaz de me expulsar do Reino, eu também sou capaz de me impor. Vendo-se sem alternativas, ele aquiesceu com um sorriso frio e me apontou a saída. Levantei-me e já na porta me virei uma última vez, "Quando começaremos o torneio?"

"Você saberá quando. Não quero que tenha chances para se preparar mais do que sua irmã."

Qualquer sereia normal voltaria atras e imploraria por misericórdia e por um pouco de simpatia, mas eu não. Então sem mais nada a dizer, saí de sua sala, pronta para lutar contra um tsunami.

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Antes de mais nada é importante separar as coisas, parar de tentar entender essas diferentes maneiras de falar da mesma coisa. Com as visitas da Patrulha 1 tenho ouvido muito a palavra "amor" e como não devemos tê-lo. Entender que é isto que nos é proibido, é muito mais claro do que a palavra tão vaga: sentimento. Afinal como eu posso mensurar as várias facetas dos inúmeros sentimento que conhecemos? Raiva, mágoa, tristeza, ansiedade, felicidade, ódio... menos o tal amor. Fico me perguntando sem parar qual o real significado disso e por quê ele é tão importante e evitado. Será que ao amar, nós nos doamos tanto ao outro que perdemos o norte e o compromisso de nossas vidas? Ao menos foi isso o que eu vi quando encontrei aquelas duas sereias imersas em sua luz rosa. Seria incrivelmente fácil surpreendê-las com um certeiro golpe do tridente, e matá-las no mesmo instante. Talvez esse tal amor nos deixe rasos e perigosos, tão indefesos e vulneráveis que possamos ser mortos por acidente. Seria essa fraqueza que me fez não aceitar de prontidão a proposta do Rei? Mas como seria possível que eu o desafiasse? Se o amor é o que eu tenho, se ele me faz fraca para aceitar minha nova vida, como pude então, ser forte o suficiente para enfrentar Petrus? Talvez o amor seja ambíguo.

Ao chegar em meus aposentos encontrei Nik arrumando suas coisas. Eis uma tarefa que ela tem feito com muita frequência, principalmente quando eu estou perto. É mais como se ela quisesse arrumar alguma bagunça inexistente.

"Ora, onde você esteve durante todo esse tempo?", ela me lançou um olhar acusador e magoado e como eu não respondi ela continuou. "E a expedição, como foi?"

Fiquei subitamente alerta, com a Rainha sequestrada Nik ainda tinha interesse em saber sobre o meu dia? Está certo que foi um grande acontecimento para mim, mas mesmo assim, a Rainha precisa vir na frente de tudo.

"Nik, e a Rainha? Você não está preocupada com ela?", seria muito estranho sua calmaria já que os corredores estavam tomados de sereias agitadas nadando frenéticas e se esbarrando umas com as outras. No caminho do escritório de Petrus até meu quarto, tive que apartar duas brigas com gritos de ordem e lembrando-as de que não podemos lutar fora da arena. Todas estão extremamente nervosas, inclusive as sereias que vi no Castelo. Passei por elas e as observei de longe; conversavam aos sussurros mantendo uma pose séria, e pareciam discutir algo muito importante.

"Claro que estou, mas não sei o que fazer. Se ao menos pudéssemos conversar com papai... Eu até tentei, bati na porta de seu escritório, tentei chamá-lo enquanto voltava da Praça de Conferências, mas para ele é como se eu não existisse."

Ela me pareceu tão abatida ao dizer isso, seus olhos ficaram mais opacos e até mesmo seu cabelo afundou mais na água. Eu deveria fazer alguma coisa, não poderia simplesmente assistir  seu sofrimento, guardar esse segredo. Uma hora ou outra ela seria convocada e finalmente saberia que deveria lutar contra mim."Nik, eu estive com Petrus", ela levantou bruscamente o rosto, empinou o peito e me lançou um olhar que exalava incredulidade e raiva, por isso falei tudo de uma vez, expliquei o cargo que me foi oferecido e me defendi, expliquei que a julgava uma sereia melhor para o Rei. Enquanto eu dizia isso sua postura ia ficando um pouco mais amena, até que eu finalmente revelei o torneio mas deixei de fora o meu possível exílio, quando soube ela ficou quieta e séria enquanto me mandava seus pensamentos. Ela me dizia que nunca me machucaria e que eu deveria cancelar isso, afinal eu era a escolhida e que ela viveria a vida dela pacata e feliz.

"Não Nik, você sabe que eu não posso voltar atrás. Além de tudo, tem outra coisa que preciso lhe contar"

Nesse momento um grito estridente cortou nossas mentes. Senti minha cabeça se despedaçar com a intensidade do pensamento projetado. Corri para fora do quarto com o tridente empunhado e imaginando que um humano havia invadido o Reino. Olhei para os lado e todas as sereias nadavam para um canto específico da praça, um canto que eu havia reparado mais cedo enquanto passava. Enquanto nadava eu apenas repetia comigo mesma para que eu estivesse errada, para que isso não estivesse acontecendo de fato. Mas não pude controlar o passado que se revelava; a principal sereia da Patrulha 1 jazia boiando inerte na água. Sua companheira projetava seus gritos mais e mais, ela queria que todas nós sentíssemos o que ela sentia; era um mistura de ódio e dor, algo poderoso que faria facilmente o leito oceânico se abrir e nos lançar aos deuses. Várias sereias se acumularam ao redor do corpo, me aproximei horrorizada, querendo nadar velozmente, mas sem forças para me mexer. Até que ela me viu e seus olhos estavam enormes e ferozes, em um bater de cauda, ela já estava em cima de mim me prendendo contra um pilar do Casarão e gritando em minha mente. Seus gritos me paralisavam, impediam que cada célula se movesse como deveria, eu sentia em mim o que ela sentia. Consegui com todas as forças retomar a consciência e largar meu tridente para a abraçar. Fiz exatamente o que tinha feito com Nik, a envolvi enquanto ela me enviava sua dor. Minha mente estava completamente preenchida com sofrimento e ódio, mas eu arranjei espaço para controlar essa sereia que tentava me destruir. Nunca conseguiria fazer mal a ela, sempre em mim haveria espaço para alguma coisa boa, para aquele sentimento que eu tentei nomear.

Quando ela se acalmou e eu voltei a mim, percebi todas as sereias paradas nos olhando, estáticas como se tivessem acabado de promover uma chacina junto a um tubarão.

"Savannah", era a voz de Petrus atrás de mim, " Solte a sereia Surya", como continuei imóvel ele acrescentou: "Imediatamente"

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Para este capítulo contei com a participação da leitora Carol Borges ( @carolinasrrlsm ) <3 Vejam que linda essa foto! Pensei na Surya como sendo ela, essa personagem vai aparecer mais vezes tá? ;)

E ai? O que vocês acharam desse capítulo? Quais são suas apostas para o que virá a seguir? Será que Savannah vai ser punida? E Surya? Aguardem os próximos capítulos ;) E me sigam no Instagram também!! Ai vocês podem ver tudo da minha vida de escritora/blogueira/estudante de letras/modelo/mãe de pet e pagadora de boletos! haushaushaush

Super beijo sereias!

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