19. Consequências

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- O QUE? Como eu fico sabendo disso só agora? - Kaya me olhava com fúria e com um sorriso ao mesmo tempo.

- Foi a algum tempo e com essa loucura toda talvez eu tenha esquecido de mencionar! - disse rindo da reação dela.

- DUAS SEMANAS. Duas semanas desde que vocês estão juntos, e o que, vai culpar a quebradinha aqui? Até ela sabia! - disse apontando para Hanna fazendo todas nós rimos. 

- Eu sofri um acidente, então tenho total prioridade nas fofocas. - ela disse, se reconfortando em sua cama gigante, em meio a sete travesseiros. 

Desde o acidente parecia que o mundo tinha virado de cabeça para baixo. Hanna havia recebido alta á seis dias, e desde então, vinhamos quase todas as tardes lhe fazer companhia, seja atualizando dos assuntos escolares ou apenas a distraindo de toda loucura. 

- Não existe prioridades em quesito fofoca. Ou conta para todas, ou para nenhuma! - Sophi disse, tacando uma pipoca no rosto de Hanna e outra em mim.

- Ok ok. Vocês tem direito a três perguntas, entrem em concesso e decidam quais. Serei totalmente sincera. - disse.

- Ele beija bem??? - Sophi logo sentou-se e me olhou com certo entusiasmo. 

- Nós não vamos desperdiçar uma pergunta com isso! - Kaya olhou para ela como se fosse um ET. - É claro que beija, ou ele não seria o Logan. 

Não dava para não divertir com toda a situação. 

- Ok, ok. Hm, já sei! Essa é boa. - ela lançou um olhar questionativo para Kaya que apenas sorriu como aprovação. - Vocês estão namorando?

Houve um pequeno silêncio no ar, dessa vez até Hanna me olhou com curiosidade. 

- Não, eu acho que não. - uma explosão de indagação ocorreu. "Como assim?", "Vocês tem que ficarem juntos!", "É claro que eles estão". Mas eu realmente não sabia. 

Tinha se formado um circulo nossa relação, preenchida pelas bordas, marcadas e bem definidas, porém vazias. Estávamos nos falando normalmente, saímos algumas vezes para ver o por do sol na praia, até nos beijamos mais vezes, mas ao por os pés em casa, era como se todos os sentimentos se dissipassem. E eu até entendia, nós eramos hosts-brotheres e isso era meio assustador. Então no final, nunca realmente conversávamos, e as coisas só aconteciam, e isso enlouquecia qualquer um.

- Isso deve ser só da sua cabeça. Vocês se amam. - Sophi olhou com certa piedade para mim.

- Amor é uma palavra tão forte. - sorri para ela - Mas eu estou bem. Aliás, eu tenho que ir, prometi ajudar Liza com as compras pro thanksgiven. 

Por mais que seja uma desculpa para fugir de todo assunto, era uma verdade disfarçada. Prometi ajudar a Liza, mas ainda faltava quarenta minutos para o horário marcado no supermercado, por isso resolvi fazer uma visita ao Seth. 

A primeira vez que o vi desde o acidente foi estranhamente não-estranha. Era como se nos conhecíamos a anos e todo constrangimento foi largado nos primeiros cinco minutos. Dai em diante comecei a visita-lo mais vezes, sentia como se fosse o minimo que eu poderia fazer. 

Seth Becker me lembrava um velho amigo, João. Eles tinham a estatura semelhante, mas o que realmente era parecido era a personalidade. Ambos adoravam cantarolar e sabiam de tudo, eram esportistas e também artistas. João eram uma das poucas pessoas que havia mantido contato, ao que parece, a distancia é sim um empecilho para algumas amizades. Mesmo não contando na historia que minha vida havia se tornado, são as pessoas que deixei para trás que mais importavam, pois eram elas que me conheciam por inteiro, eram elas que haviam me ajudo a ser quem sou, e isso era devastante. 

- Está um lindo dia para você ficar trancafiado nesse quarto. - eu sorri abrindo levemente a porta já escorada. 

- Prefiro a indolente solidão do meu mundo que a complicada realidade da vida. - ele disse, sem tirar os olhos do velho exemplar de Romeu e Julieta em suas mãos. 

- Não sabia que era fan do romance agora, talvez um dia leia Nicholas Sparks. Tenho certeza que vai cair nas lágrimas em todos os livros lançados. - disse, me sentando na cadeira que havia numa escrivania de estudos. 

- Se você não sabe, minha cara, Romeu e Julieta é uma história de ódio entre duas famílias, de brigas, e sobre a morte. - ele abaixou os olhos e olhou para mim. - Acho que é você quem deveria ler. 

Eu sorri para ele, mesmo ele me olhando sério.

- Tudo na vida é uma batalha sobre o amor, meu caro. Você já devia saber. 

- Neste caso, ele não ganhou. - ele deu uma risadinha, como se fosse contra os finais felizes. Segundo Logan, ele estava assim desde o acidente. Sua situação na área médica podia ser julgada boa, dependendo de qual quesito olhasse. Sua cirurgia foi perfeita, e ele não teve nenhuma complicação pós operatoria e nenhum órgão interno foi afetado. Apenas sua parna, que não pode ser salva. 

- Será que não? Eles ficaram juntos, por toda a eternidade. - disse. 

- Mas não vão poder desfrutar. Porque morreram. - ele se sentou na cama. - Como você não pode ver isso? Vocês meninas acreditam muito no amorzinho. Aposto que vai querer que eu veja A Culpa é das Estrelas também. 

- Qual o problema do filme? - fingi uma reação de perplexidade, mas no fundo estava mesmo. 

- Ah, vai procurar o que fazer. - ele atirou uma almofada sobre mim e depois suspirou fundo olhando para o teto.

Andei até sua cama e me sentei ao seu lado, mantendo os olhos na mesma direção dos seus. Por um momento, só ficamos assim. Fazendo nada, pensando em tudo.

- Você sabe que estamos preocupados com você. - eu disse, em uma voz mais suave. 

- Eu sei. E também estou, pra falar a verdade. - sua voz soava falha e pouco triste. - Mas eu estou bem.

- Você tem certeza? Por que eu tenho a sensação que você está mentindo para nós. E para você. - ao dizer, olhei para seu rosto, esperando alguma reação. 

- Não é fácil. Ninguém disse que ia ser. - ele suspirou e virou o seu rosto para mim. - E nese exato momento, eu tenho total direito de estar puto da vida. Revoltado. Sem razões para seguir em frente. E para ser sincero, estou um pouco. Mas o que mais me dá raiva, Ceci, é não sentir nada disso. Eu perdi metade de uma perna, minha bolsa para a universidade, o poder de fazer o que mais amava, e tudo que penso em como eu sou um sortudo bastardo de ter sobrevivido. - ele olhou nos meus olhos e soltou uma risada comida, beirada ao desespero. 

- Você é a única pessoa que conheço que fica mal por ficar bem. - eu disse, tentando levantar o clima.

- Loucura, não é? - voltamos a encarar o teto. 

- Na verdade, não. Não estamos preparados para as loucuras que o universo nos propaga. Digo, nos conhecemos a duas semanas e eu já vim parar na sua cama. E você nem me pagou um cineminha. 

Ele me deu uma cutucada e rimos da situação. Se você pensasse um pouco, era meio inusitada mesmo. 

- Ok, eu tenho que ir. Mas não vai ao mais profundo posso da infelicidade por estar feliz sem mim ok? - um aperto no coração me veio, mesmo sendo uma piada. - E não faça loucuras. 

- Eu não vou. - ele olhou nos meus olhos e deu um sorriso fraco. - Hey, Ceci. Você pode me acompanhar na minha próxima seção de fisioterapia na segunda?  - Sorri com o pedido e assenti. 

Andando ao supermercado muitas coisas passaram a minha cabeça. A saudade da minha familia apertava meu coração, e lembrar de João me deixou com certa nostalgia. O acidente, o dia em venice e também o dia do jogo na escola me vieram na cabeça. Três messes já tinham se passado, e muita coisa ainda estava para acontecer. 

Bastava eu saber se  estava pronta para o que quer que vier. 

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 10, 2017 ⏰

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