Amados Contrastes

06. Venice

Uma das grandes vantagens de se morar em Los Angeles é a paisagem. Sempre que podia, juntava alguns amigos para fazer trilhas em Minas Gerais, e o que mais me encantava era chegar ao topo e observar a simples natureza... não era atoa que o céu de Minas era conhecido como o mais bonito de todo o Brasil, afinal, nosso mar ficava na parte de cima. Nós poderíamos muito bem não ter praias e não ter a vista de Noronha, mas em quesito natureza, sempre arrasamos. Um dos lugares favoritos que já conheci em Minas é o Topo do Mundo, na Serra da Moeda. Sabe aquela vista que você simplesmente não tem como descrever? Então. Ou então Inhotim, que valia a fama boa que tinha. Escarpas do lago era a ostentação. Mas cada parte dessa natureza arrepiante, era do tamanho do amor que sentia pela paisagem de Los Angeles.

Na manhã de domingo, acordei mais cedo que previa. Eram sete horas e meu sono já havia me traído. Depois de levantar sem fazer muito barulho, estava aflita de ir a cozinha, afinal, não sabia como funcionava as coisas por completo aqui. Já não conseguindo ficar naquele quarto, junto com uma blusa de frio de moletom, sentei-me na pequena varanda de madeira no jardim observando o nascer por completo do sol, me lembrando de cada traço e cada momento vivido até ali.

Depois de ouvir um movimento da parte de cima da casa, resolvi entrar e fazer uns downloads de videos do jogo que tinha gravando junto a amiga, e algumas fotos. Não se passando mais que vinte minutos desde a entrada, ouviu duas leves batidas na porta - o que era meio estranho devido que eles nunca tinham ido lá nem para acorda-lá em dia de aula.

- Hey, good morning! - o bom humor de Lisa era honroso, ligado ao fato dela sempre acordar querendo matar um. - Hoje iremos a praia, então se prepare para seu primeiro passeio em família. Iremos para Venice Beach, e você vai adorar! Mas antes venha tomar o seu café.

Era dificil negar um pedido tão... em forma de uma ordem. Mas aquilo me deixou animada por conhecer a tão famosa praia, mas apreensiva por motivos que não entendia bem.

Chegando na cozinha, peguei alguns itens que a host-mother pediu e coloquei-os na mesa, juntamente com leite, cereal, e... ovos com bacon. Ok. Era super comum para eles comerem coisas do tipo mesmos sendo oito horas da manhã. Entendido.

- Algum problema? - Lisa perguntou ao mesmo momento em que Logan e Jimmy entravam na cozinha sentando-se a mesa e Blue Ivy já estava sentada. - Você esta encarando o bacon, se quiser é só se servir querida.

- Ah, não muito obrigada. Para mim ainda é meio estranho comer bacon no café da manhã. -disse com um sorriso fraco, pondo um pedaço de torrada sobre a boca.

- WHAT?? Vocês não comem bacon no Brasil?? - Blue Ivy estava de boca aberta e olhos arregalados como se tivesse falado uma grande baboseira. Todos da cozinha riram da cara da pequena garota.

-Bem, não no café da manhã.

- E o que vocês comem? - Jimmy casualmente colocou um pouco de suco de laranja sobre o seu copo.

- Hm, isso vareia de estado. De onde eu venho, comemos pão de sal (pão francês), manteiga, presunto, queijo, ah, e bolos de fubá, farinha de trigo, laranja... e pão de queijo. - disse dando um sorriso ao lembrar do pão de queijo que minha vó costuma fazer.

- Vocês são estranhos. - disse Lisa de um jeito leve e mudando o assunto para o quanto de gente louca tinha em Venice.

Depois de colocar todos os itens necessários dentro de uma bolsa, revisei pela decima vez se tudo estava ali: Uma toalha (Check); Protetor solar (Check); Uma roupa reserva (Check); Necessaire (Check); Celular e Fones (Check); Meu exemplar original das Cronicas de Narnia (Check); Coloquei uma blusa grandinha mais leve, e um short simples com rasgadinhos e uma sandália para ser leve e agradeci mentalmente meus biquínis nunca serem cavados demais para os States.

Não demorou muito para chegarmos ao lugar que estava repleto de pessoas. Aparentemente Lisa amava tanto quanto eu os pontos turísticos de Los Angeles e por isso sempre arrastava a família junto a ela. A primeira sensação que tive ao por meus pés sobre a areia foi... estranha. Já tinha viajado muitas vezes para a praia para reconhecer a sensação fofinha que a areia lhe trazia e essa era menos branca e não era nem um pouco fofa. Os ventos eram mais fortes, mas em compensação havia muitos esportistas pelo local. Eram garotas e garotos surfando, andando de skate pela calçada, ciclismo e muitas pessoas correndo. Depois de ver, nunca mais você tem aquela impressão de americano ser sempre gordo.

Blue Ivy já estava com seu maiô rosa da Barbie e com o rosto coberto de protetor solar enquanto ia fazendo castelos de areia. Lisa e Jimmy estavam em cadeiras de sol e tinham encontrado amigos, então estavam ocupados de mais. E Logan, bem, estava indo surfar. E cara, agora entendia perfeitamente a sensação de que não ia dar certo... seus cabelos pretos lisos caiam sobre o olho e a luz do sol gelado de Venice destacava seus músculos expostos.

Uma risadinha maléfica me tirou dos pensamentos e pude ver que Blue me encarava, mas sem dizer uma só palavra.

- Você devia tirar essas roupas, estamos na praia! - ela disse. - E além do mais, preciso da sua ajuda com esses castelos.

Sorri ao ouvir aquilo e perceber que podia estar conquistando a amizade da minha host-sister então fiz o que ela falou. Eu tinha um biquíni vintage florido que caia incrivelmente bem em mim e depois de uma tonelada de protetor sentei-me junto a ela e conversamos sobre a vida no Brasil. Volta e meia não pude resistir e olhar ao mar em busca de Logan e na maioria rezando para minha consciência não encontra-lo.

Não sabendo exatamente quanto tempo que já se tinha passado, Blue tinha encontrado outra amiguinha e me deixado de lado, então resolvi dar uma volta pelo local. Lisa ficou meio receosa de permitir com medo de que eu me perca, mas Jimmy a convenceu, colocando que eu estava com meu telefone e eles estavam bem onde marcava "POSTO 6". Planejei ir conhecer o centro do local, então pus minhas roupas, meus óculos escuros e meu boné Nelore.

Era surpreendente como o lugar me fazia sentir-se em casa, acolhida. Na primeira esquina que andei, parei em meio a um pequeno grupo de pessoas que observava um artista de rua.

- Você realmente não tem medo de se perder? - a voz vinda do meu lado fez meu coração disparar e minha voz emitir um pequeno som de susto não tão estridente. Logan estava parado ao meu lado, agora com uma blusa e tênis Vans, um boné e um skate. Como ele havia se trocado tão rápido? Ou melhor, a quanto tempo ele estava ali?

- Eu só vou dar uma volta, isso não mata ninguém. - disse sendo mais seca que o necessário.

- Desculpa por te assustar, mas você se assusta por nada. - aleatoriamente virei meu rosto fazendo nosso olhar se encontrar e minha expressão era um tanto indignada. Mas como eu podia negar uma verdade tão evidente? - Se você quiser eu posso te mostrar uns lugares da cidade, venho aqui sempre.

Uma amiga dizia que sempre que a voz da nossa consciência dizer "vai dar merda" você deve ouvi-lá. E se sua respiração ficar meio tremulá, corre. Mas indo contra cada osso e cada reação do meu corpo, aceitei o convite.