Minha canção

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Eu continuo voltando lá todos os dias na mesma hora.

Eu levo o café da manhã para eles e, agora, deixo algumas guloseimas para mais tarde, para que possam aproveitar.

Eu não sei que tipo de doces ele gosta, então eu vario nos bolos e biscoitos. Para o Ghost é bem mais fácil. A caça que meu pai trás para casa, eu escolho algumas peças e embalo em papel para trazer para ele.

Eu decorei o caminho depois das primeiras vezes e agora não precisava mais da supervisão do Ghost, mas ele ainda vinha algumas vezes, como se certificando que eu não me esquecesse de ir até eles.

A postura do seu companheiro ainda era a mesma. Ele me ignorava na maioria do tempo que eu estava lá. Mas tinha pequenos momentos em que ele deixava sua teimosia um pouco de lado e interagia mais.

Certo dia eu cheguei e não vendo o Ghost e nem ele em nenhum lugar, chamei-os para eles saberem que eu havia chegado. Eu não gostava de surpreende-los com minha presença e sabia que eles também não gostavam disso. Eles estavam sempre alertas sobre pessoas invadindo suas terras e qualquer erro meu poderia ser algo muito ruim.

—Snow,cheguei.—Ele ainda não havia dito seu nome e, por causa de sua pele clara e o jeito frio que ele me tratava, eu achei esse nome bastante apropriado.

—Quem é Snow?—Perguntou ele como se estivesse apenas esperando eu me anunciar para poder aparecer e passou por mim carregando a lenha.

—Você.—Digo quando cumprimento o Ghost. Ele para e me dá um olhar gelado, justificando mais uma vez o nome que eu lhe havia atribuído.

—Meu nome não é Snow.—diz ele com os dentes cerrados e eu o olho dando de ombros e me virando para arrumar as coisas na mesa.

—Eu não sei disso. A boa educação diz que você deve se apresentar quando as pessoas perguntam. Eu já perguntei e você não me disse, então eu o batizei de Snow.

Eu realmente tinha perguntando a ele seu nome uma dúzia de vezes, mas ele apenas me olhava com aquele olhar irritado sem parar de comer, ou então se levantava e se distanciava de mim. O que ele queria? que eu continuasse chamando ele dos nomes que as outras pessoas o chamavam? Eu tenho certeza que ele não ia gostar.

Eu não gostava.

—A boa educação também diz para você ir embora quando uma pessoa manda você ir.—diz ele cruzando seus braços e me dando aquele olhar sabe tudo dele.— Quantas vezes eu já mandei mesmo?

As palavras dele me magoam e eu tenho que lutar para manter o tom leve em minha voz.

—Eu não fico por você e sim, pelo Ghost.—declaro e isso parece fazer com que ele se irrite ainda mais.

—A casa é minha.—diz ele de forma rude e mais uma vez, aquela pontada de dor acerta em cheio em mim ao perceber que ele ainda é resistente a minha presença.

Eu já tinha me acostumado com a presença dele e , a noite eu ansiava que o sol se levantasse logo só para eu poder vir vê-lo. Eu pensei que, com o tempo, ele se tornaria menos rígido e mais receptivo para com as minhas atitudes. Mas ao que parece, eu havia me enganado.

Eu cerro os punhos, me levantando e cravando minhas unhas em minha pele enquanto olho para ele e digo com convicção.

—Me mande ir então.

Por um momento muito longo ele fica me olhando, mas não diz nada. Eu não relaxo em minha posição, esperando para ver o que ele vai dizer.

Eu sei que se ele me mandar ir, eu não voltarei, pois eu já disse que tenho meu orgulho e isso me machucaria muito mas era algo que eu superaria, eu sabia disso.

Mas por dentro, eu estava rezando para que ele não fizesse isso. Eu não queria ter que me afastar dele.

Ele se levanta bruscamente, ainda me olhando e se aproxima de mim ficando a centímetros de meu rosto. Eu não recuo, mas sinto meu coração acelerar em meu peito e prendo a respiração esperando.

Ele parece que está memorizando meu rosto, me capturando neste momento. Ele até mesmo respira profundamente como se estivesse se abastecendo do meu perfume. Ou é isso que parece para mim.

Eu estou absorvendo tudo dele, seu rosto, o tom de sua pele, a cor de seus olhos, a forma como seus lábios se abrem para dizer a sua próxima palavra.

—É JungKook.

Por eu estar tão absorta olhando para seu rosto, eu não posso entender o que ele diz então eu pergunto um pouco insegura.

—O...O quê?

—Meu nome,é JungKook.

Eu levo um minuto para entender que ele tinha acabado de me dizer seu nome e não me mandado ir embora como eu estava esperando. Eu sinto meus olhos e alargarem em meu rosto quando a implicação disso me atinge e eu não posso conter o sorriso que começa a se abrir em meus lábios.

De perto assim, eu vejo que suas bochechas ganham um tom mais rosado quando ele vê o meu sorriso e ele parece mais lindo ainda para mim.

Ele dá alguns passos para trás e pega um pão na mesa sem me olhar. O sorriso em meu rosto se torna cada vez maior e eu não posso me ajudar com isso. Ele me olha uma ultima vez enquanto

morde o pão e eu posso jurar que seus lábios estão curvados para cima, em um meio sorriso.Um formigamento de calor dispara sobre mim e se aloja em meu estomago enquanto permaneço olhando ele assim. Eu nunca senti isso então não posso dizer o que é, só posso dizer que é bom e parece certo. Então ele se vira e se funde com a escuridão. Pelo momento em que eu dou um passo, a forma dele está completamente fundida com as sombras mais escuras.Meu coração, que antes parecia ter parado, dispara e martela em meu peito e minha respiração sai difícil por um longo tempo depois que ele se foi.

—JungKook.—Repito seu nome e o som soa bem saindo de meus lábios.

Quero chamá-lo, hoje e amanhã e depois disso, mas sei que não devo fazer ainda.

Eu termino de arrumar tudo e deixo o que eu precisava ali mesmo, sabendo que ele acharia quando voltasse. Me despeço do Ghost e me preparo para ir. Olho para a direção que ele foi , mas não consigo ver nada. Suspiro e dou alguns passos para a floresta, o Ghost hoje não me acompanha. Paro quando noto uma sombra a poucos metros a frente.

Ele está parado lá, me encarando.Eu ando até ele e me despeço com um movimento simples de minha mão, pois a minha voz está presa em minha garganta.Ele faz um movimento sutil com sua cabeça que, se eu não estivesse prestando atenção, eu teria perdido e eu sorrio. Ele permanece parado me observando ir e a escuridão da floresta se fecha em torno de mim enquanto caminho para casa repetindo o seu nome como se fosse uma linda canção.

Uma canção feita só para mim

A sombra do LoboWhere stories live. Discover now