Capítulo XX

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O quê? Novo capítulo de A Demanda? Devo ter clicado mal. Não, estão no sítio certo. Como é Natal decidi dar-vos uma prenda e aqui está um capítulo extra. Feliz Natal!

*  **  *

Ping, ping

Aquele quarto encontrava-se, agora, na escuridão total, embora quando a tinham despejado para lá, a luz do teto ainda brilhasse inseguramente. Por isso sabia que havia um colchão sujo num canto e um lavatório imundo cuja torneira não parava de pingar.

Ping, ping

Ava nunca se sentira tão desesperada como naquele momento. Perdera a esperança muitas vezes, contudo percebia que daquela vez não havia volta a dar. Ela não percebia totalmente o que vira naquela sala, mas entendia que era o fim do mundo e não havia nada que o parasse.

A única coisa que rivalizava com a sua sensação de impotência era o arrependimento. Ela sentia-se tão ridícula por ter tentado seduzir Zach, na tentativa de conseguir fugir do Refúgio. Os comportamentos dele demonstravam que o jovem devia sofrer de algum tipo de psicopatia, mesmo que passassem a vedação juntos ele nunca iria deixá-la escapar.

Se ela nunca tivesse tido aquela ideia, estaria agora com Heidi a aproveitar os seus últimos dia fora daquela cela escura e húmida. Ou se ela nunca tivesse ajudado aquela idosa, estaria agora com os gémeos a aproveitar a sua ignorância.

*  **  *

Na Antuérpia, há uns dias atrás.

- Deixem-me ver se entendi bem. Vocês são menores de idade e têm andado a viajar pela Europa para conseguir encontrar a pessoa que matou um sem-abrigo. Descobriram que foi uma seita ou organização maligna quem ordenou o assassinato e acreditam que a vossa amiga foi raptada por eles. Disse alguma coisa de errado?- questionou a agente Kessel da esquadra da polícia.

- É exatamente isso.- confirmou Daniel.- Eu sei que parece uma história de loucos, mas têm de a encontrar. Eles podem tê-la morto ou ter feito uma lavagem cerebral.

- Eu não estou a questionar a vossa sanidade, apenas o vosso discernimento. Depois de fazerem o teste do balão, eu deixo-vos reportar o desaparecimento da vossa amiga.

- Não há tempo a perder, têm de começar a procura-la!- reclamou David.

Nesse momento, passou uma senhora loira com uma farda da polícia e óculos de garrafa.

- Tu aí.- chamou a agente Kessel para a colega.- Leva estes dois aqui para fazer o teste do balão.

A senhora loira fez um gesto com a mão para que os rapazes a seguissem e encaminhou-os pelos corredores. Os gémeos tentavam fazer conversa com a agente, mas esta insistia em ignorá-los. O seu espanto foi quando a senhora em vez de abrir uma porta para uma sala, abriu uma porta para o exterior, onde estava estacionado um carro.

- Eu não entro aí!- replicou Daniel. Em resposta, a loira pousou a mão em cima da arma.

- Nós entramos, claro que sim.- disse David empurrando o irmão.

O carro seguiu pela estrada até fora da cidade e só parou numa zona completamente deserta. Os três saíram da viatura e só pararam quando já não se conseguia ver a estrada. Foi nessa altura que os dois rapazes se ajoelharam e começaram a implorar pela sua vida.

- Levantem-se.- ordenou a mulher, mostrando pela primeira vez a sua voz. De seguida, tirou a peruca e os óculos revelando a sua verdadeira identidade.

- Ava?!- exclamou Daniel.

- Claro que não. Ava é quase da nossa altura, esta mulher é muito mais baixa.- corrigiu o irmão.

- Então se não é ela só pode ser...

*  **  *

Subitamente a porta do quarto em que a ruiva estava encarcerada abriu-se. Entrou na cela um homem pequeno com a típica farda da Altum. Este subiu à cadeira que trazia e mudou a lâmpada fundida. Quando a luz voltou àquele espaço, revelou Mlle. Girard parada no corredor. O homenzinho desceu da cadeira, limpou o assento com um pano e saiu, fazendo uma vénia à Dirigente.

- O que quer de mim?

- Apenas uma conversa sobre aquilo que observaste naquela sala.- explicou Mlle. Girard enquanto se sentava na cadeira.- O que é que viste exatamente?

- Vários monitores com imagens de várias cidades.- começou a relatar a jovem após alguns segundos.- Mapas dos subterrâneos dessas cidades. Havia também desenhos e esquemas de bombas nucleares parece-me.

- E para que é que achas que isso tudo serve? És uma rapariga inteligente, já deves ter percebido.

- Eu acho que plantaram bombas nucleares nos subterrâneos de várias cidades por todo o mundo e que planeiam rebentá-las. Afinal, é isso que é o Propósito, acabar com o mundo?

- Bem, a primeira parte está certa, mas a segunda está um pouco incompleta. Eu já te expliquei que este mundo é a origem de todos os nossos males e que aqueles que fizerem as orações e obtiverem o bom conhecimento estão destinados a voltar ao Paraíso.

- Sim, já me disse isso tudo.

- Pensa nos cristãos, para tentares compreender. Eles acreditam que um dia o Deus deles há-de voltar à Terra para os levar para o Seu reino. Nos nossos textos sagrados, está escrito que devemos todos trabalhar para alcançar o Propósito. Ou seja, o momento em que os conhecedores serão elevados e os infiéis serão castigados. Mas nós não ficamos à espera que alguém nos venha buscar, nós sabemos que temos de o fazer pelas nossas próprias mãos.

- Vocês são completamente loucos. Não vão só acabar com a raça humana, como vão deixar o planeta completamente inabitável para qualquer espécie.

- Não ouviste aquilo que eu te tenho andado a dizer este tempo todo? Este é mundo é a origem de todos os nossos males. Basta ligares a televisão para veres as guerras, as secas e todas as mortes. E quanto aos teus preciosos animais, quantas pessoas morreram por causa deles?- quando acabou a frase, a Dirigente levantou-se e encaminhou-se para a saída.

- Espere! Se a minha morte é inevitável, porque é que se incomodou em trazer-me até aqui quando já estamos tão perto do fim?

- Porque nós as duas estamos interligadas há muito tempo, de uma maneira que não imaginas.- e assim a mulher fechou a porta, deixando Ava sozinha com o som da torneira a pingar.

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