Capítulo VII

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 - Por onde é que começamos?- questionou Daniel.

- Eu não sei, quando estiveram lá viram algo ou encontraram alguma pista que nos leve ao assassino?- disse Ava.

- Isto estava no chão da sala, não sei se é teu.- retorquiu David ao mostrar o anel. A jóia era de ouro e tinha a forma de uma serpente que comia a própria cauda. A rapariga começou a pensar, onde é que já tinha visto aquele anel?

- Não, isto não é meu e definitivamente não pertencia a Isaac. Todavia eu já o vi em algum lado só não me consigo lembrar onde.

- Eu proponho que guardemos o anel, pode ser importante.- afirmou Daniel.- Vamos rever aquilo que já sabemos.

- Sabemos que Isaac foi torturado e que a minha casa foi vasculhada, logo estavam à procura de alguma coisa importante. E se deixaram lá o dinheiro não foi um assalto que correu mal.- especulou a ruiva.

- Ainda assim, não consigo perceber o que é que eles haveriam de querer de Isaac. A mim parece-me que o assassino é um profissional. Mas porque é que alguém haveria de mandar um profissional para tratar de um vagabundo como ele?- interrogou Daniel.

- Ou seja, tu acreditas que ele foi contratado por alguém?- perguntou o irmão.

- Não sei bem, só me veio à cabeça esta ideia.

Pararam todos um pouco para pensar. Aquilo parecia um beco sem saída e a única pista que tinham era um anel. Um anel que Ava já tinha visto em algum lado, contudo não se conseguia lembrar onde. Para além do mais, tinha percebido que não sabia nada sobre Isaac. Num minuto ele era um vagabundo que julgava ser quase analfabeto e no minuto seguinte gostava de literatura e tinha sido assassinado por um profissional.

- Eu não fazia mesmo a menor ideia de quem ele era.- murmurou a rapariga para os seus botões.

- O quê?

- Estava a dizer que afinal não conheço Isaac. Vivi com ele durante tanto tempo e só recentemente é que eu descobri que ele gosta de ler.

- Então podemos começar por aí. Quem era Isaac?- disse David.- Ava, onde é que ele costumava ir?

- Não tenho a certeza, no entanto ele passava grande parte do tempo no pub a três quarteirões daqui.

- Parece um bom sítio por onde começar.

*  **  *

Saíram de casa e dirigiram-se para o pub. O sítio era bastante pequeno e escuro com um balcão de madeira e umas quantas mesas, as janelas tinham todas vitrais o que fazia com que pouca luz entrasse. Quando lá chegaram estavam apenas uns quantos homens com mau aspeto a beber, alguns viraram-se para Ava com uma cara que a assustou enquanto que os outros nem levantaram a cara da bebida.

- As criancinhas não deviam estar na escola em vez de estarem num sítio destes? Não quero saber se pagam mais, fora daqui.- rugiu o barman para o trio.

- Não estamos aqui para beber nada, só queremos saber se conhece um homem chamado Isaac.- declarou a rapariga.

- Isaac... Claro que conheço, já toda a gente sabe o que lhe aconteceu, pobre homem. O que é que uns miúdos como vocês podem querer saber dele?

- Isso só nos diz respeito a nós. Ele vinha cá muitas vezes?

- Sim, era um cliente habitual mas o sacana nunca deixou gorjeta, nem uma vez.

- Ele alguma vez disse alguma coisa sobre si mesmo ou de onde vinha?

- O velho é capaz de ter dito alguma coisa contudo a minha memória já não é o que era. As recordações vão e vêm.

Daniel tirou uma nota de 20£ do bolso e pô-la no balcão.

- Ora, aqui temos alguém que sabe falar. Sabem, ele não falava muito sobre si mas sempre houve algo que não batia certo. O mais estranho foi último dia em que cá veio. Quando tinha acabado de abrir isto apareceu um homem com um sotaque estranho que me pediu para dar um envelope a Isaac.

- Qual foi a reação dele ao abri-lo?

- Parecia que ia cair para o lado, nunca vi tanto pânico na cara de uma pessoa.

- Pode só me dizer como era o homem que lhe pediu para entregar a carta?

- A cara estava tapada por um cachecol e uma boina mas tinha olhos azuis.

De seguida, os três apressaram-se a sair dali.

- Já sei onde vi o anel!- exclamou Ava entusiasmada.- Na quarta-feira, eu atendi um homem bastante estranho no restaurante que pareciam estar a vigiar-me. Ele tinha a cara tapada por um cachecol e uma boina para além de que estava a usar o anel que David encontrou.

- E agora como fazemos? Tentamos encontrar o tal homem?- questionou David.

- Eu acho que devíamos concentrar-nos em coisas mais simples, como por exemplo descobrir o que é que Isaac andava a fazer nos últimos tempos.- opinou Daniel.- E se fossemos até à livraria onde eu o encontrei? Não é um sítio onde esperávamos que ele fosse.

- Tens razão.- concordou a ruiva.- Para além do mais, também devíamos descobrir se o anel tem algum significado.

Desceram mais algumas ruas e entraram na livraria.

- Bom dia, em que posso ser útil?- perguntou o empregado que devia ter por volta de vinte e um anos e com uns óculos demasiado grandes para a sua cara.

- Bom dia, nós queríamos saber se um homem chamado Isaac esteve aqui há uns dias atrás.

- Lamento, não me lembro de ter entrado alguém na loja com esse nome e a minha memória é excelente.

- Então deve-se lembrar de eu ter cá vindo. A pessoa de que estamos à procura saiu da loja quando eu entrei.

- Ah sim, estou a ver! Ele não disse que se chamava Isaac, disse que se chamava Henry quando fez a encomenda.

- Encomenda? Que encomenda?

- Evidentemente, eu não vos posso dizer, vai contra a política deste estabelecimento.

O trio ficou bastante desanimado. Agora que finalmente tinham encontrado alguma pista o caminho tinha sido barrado.

- Só mais uma coisa senhor.... Allen.- disse David ao olhar para o nome na identificação.- Será que nos podia dizer o que significa este anel?- e depositou a jóia em cima da bancada.

- A serpente que come a própria cauda! Acho que temos algo sobre isso, venha comigo.

Quando David e o empregado se afastaram, Ava e Daniel apressaram-se a ir ao computador do balcão. Pesquisaram as encomendas que tinham sido feitas naquela semana e só havia uma em nome de um Henry. Pelos visto Isaac tinha encomendado uma edição antiga de Oliver Twist a uma livraria chama Southside Books.

Logo que David e o empregado começaram a chegar os outros dois fecharam a página e saíram de trás do balcão.

Mal saíram da livraria David relatou o que tinha descoberto.

- Pelos vistos esta serpente chama-se ouroboros e era usada pelos alquimistas e em diversas culturas. Simboliza essencialmente o ciclo da vida, todavia pode significar outras coisas como a eternidade, a renovação e até a criação do universo.

- Isso é capaz de nos ajudar no futuro, contudo nós conseguimos descobrir a encomenda que foi feita por Isaac e adivinha onde fica o sítio para onde vamos.- retorquiu Daniel desafiando o irmão.

- A uns quarteirões daqui?- interrogou o gémeo esperançoso.

- Não, meu caro.- respondeu Daniel com um sorriso.- Nós vamos para Edimburgo. Vais poder dizer que já foste à Escócia, maninho!

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