Capítulo 38

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Gabriel.

Saí de casa, tirei a minha blusa preta e amarrei no rosto. Joguei a minha fuzil no ombro e peguei o meu radinho, chamando por Caio.

- Tá aonde, viado?
- Porra! Estão invadindo.
- E tu acha que eu não sei? Convoca a tropa! Todos na atividade, fé para nós irmão.
- Fé!

Corri para o outro lado da rua e logo tratei de agaixar atrás de uma caixa d'água. Vi alguns soldados de facção desconhecida circulando, suspirei e destravei a minha fuzil. Mirei na cabeça. Um eu consegui acertar mas acabei chamando a atenção do outro.

Ele disparou na minha direção e eu corri por um beco, olhei para trás e ele me seguia, atirei mais uma vez acertando a sua perna o fazendo cair. Corri para o outro lado da calça e entrei no beco que dava na boca principal, olhei para os lados e haviam algumas crianças na rua.

- Corre para dentro, menózada! - Gritei e eles arregalaram os olhos correndo para dentro de casa.

Entrei na boca principal e peguei todo o dinheiro que tinha lá. Corri para o mini quintal que tinha na mesma, peguei uma pá e cavei, jogando lá todas as sacolas tudo que tínhamos de mais importante, joguei a terra de volta. Quando me virei, meu coração acelerou. Meu peito subia e descia rapidamente. Ricardo estava ali. Ele me encarava com diversão.

- Está assustadinho? - RR sorriu malicioso arqueando a sobrancelha.- Gabriel, Gabriel...Você sempre com medo de perder os seu bens. - Balançou a cabeça. - Não muda nunca?

- Eu estou guardando o que é meu. - Respondi.

- Você é hilário.

- Tu é muito filha da puta, ô RR! Tu faz essas putarias depois de toda a parceria que eu tive contigo, depois de toda a minha ajuda. - Gritei nervoso.

- Está me zoando, caralho? Tu sabe bem que eu não desviei porra nenhuma. - Ele passou às mãos no cabelo nervoso. - Tu me julgou atoa, fizeram uma enrascada para mim e me fuderam. - Olhou no fundo dos meus olhos.

- Não vou dar papo para tu, ô verme, mas tenha certeza de uma coisa, tu não saí vivo, não dessa vez. - Eu disse e senti um pano sendo posto contra o meu nariz. Tratei de dar um soco em quem estava por trás de mim.

Olhei para tudo à minha volta e cambaliei. RR sorriu. Me ajoelhei. Os meus olhos se fecharam e eu perdi todos os meus sentidos.

Camila.

Eu estava mais nervosa do que nunca. Era hoje que eu teria o meu amor só para mim, o primeiro dia de muitos ao seu lado. A felicidade tomava conta de mim, eu não sentia um pingo de repulsa ou arrependimento. Fiz tudo por amor! E faria outra vez, ninguém entende o que passei e o quanto eu sofri apenas por amá-lo.

Gabriel iria me amar também e me agradeceria por tudo que fiz por ele.

E eu espero que ocorra tudo conforme o planejado. Que daqui a cinco horas eu esteja bem longe daqui com Gabriel, planejando uma vida prazerosa e de paz ao seu lado. Só nos dois. Sem Jade, sem filha. Só eu e ele.

- RR está chegando! - Juninho sussurra e eu engulo seco assentindo.

Estávamos em mais um dos barracos do RR. Era um lugar vazio, não possuía piso e as paredes não eram rebocadas. Possuía apenas uma lâmpada no centro, não existiam janelas o que impedia de qualquer ar circular ali dentro.

Lá era quente, dava agonia e por mais que fosse um lugar normal, me dava calafrios. Podia imaginar todas as atrocidades que aconteceram nesse local.

Ouvimos vozes masculinas e logo depois a porta foi aberta. Três soldados seguravam Gabriel. Ele estava desacordado. Meus olhos se encheram de lágrimas, eu não me contive e corri até ele. Segurei em seu rosto e o acariciei.

- Você matou ele, seu babaca? - Perguntei para RR.

- Lógico que não patricinha, só apaguei. - Apertei os lábios.

Ele dormia tranquilamente. Suas feições estavam tranquilas. Suspirei fundo e beijei sua testa. Eu me apaixonava por esse homem todos os dias da minha vida. Não deixei de o amar nem por um segundo.

Eu precisava cuida-lo.

- Deixa ele dormindo aqui até amanhã. - RR disse para os soldados, que assentiram. - Estou louco para começar com as surpresas. - Eu espremi os olhos confusa.

RR não me deu detalhes de nada. Eu não fazia ideia do que eles estava falando.

- Surpresas?! - Juninho e RR se entreolharam soltando uma risada diabólica.

- Ah patricinha... - RR segurou meu rosto e chegou perto, falando perto do meu ouvido. - Você é muita ingênua, meu anjo.

Jade.

Assustada. Era essa a palavra certa.

Os tiros não davam uma pausa se quer, foi um dia inteiro de confronto. Laura estava assustada e manhosa. Parecia que ela sabia de alguma forma que seu pai estava lá fora, correndo perigo.

Meus pensamentos estavam em Gabriel. Eu tenho medo, muito medo. De ser o último beijo, o último abraço e o último toque. Não suportaria passar por mais uma perda nessa vida.

Meus pais, Rosa e agora... Gabriel? Eu não conseguiria me reerguer novamente. Aquilo já era demais.

Eu precisava dele. Não era qualquer um, era apenas ele. O homem que eu amava, que apesar de ter me feito sofrer, também me fez muito feliz.

Laura precisa dele, do seu amor, do seu cuidado e afeto. Era a primeira vez em tanto tempo que ela possuía amor da parte do pai. Eles passaram tantos anos separados, o destino resolve fazer isso justamente agora? Não era justo com nenhum dos dois.

Agora minha filha tinha uma figura paterna ao seu lado, para ajudá-la nas coisas em que eu não consigo.

A única coisa que fiz foi clamar a Deus, pedindo para que ele guardasse Gabriel onde quer que ele estivesse naquele momento. Que impedisse que qualquer coisa ruim acontecesse com ele, por mais impossível que fosse.

Eu queria tirar ele dessa vida mas já não dependia mais de mim. Não adianta eu querer o melhor para mim se o melhor para ele seja a vida do crime.

Traficante. Where stories live. Discover now