PROMETIDOS (Concluída)

Capítulo 50 - "Realidade"

A batalha tinha terminado, o mal havia sido derrotado. Sobretudo, segredos ainda se mantinham escondidos de Angelina, e pelo que ela pode entender, Gabriel também não sabia de toda a história que os cercava.

Depois de todos se recuperarem e recordarem o que havia acontecido, o Arcanjo Gabriel chamou Angelina e Gabriel para conversarem.

Cainharam por entre a floresta e se distanciaram dos demais.

– Porque tudo isso? – perguntou ela depois de um longo período de silencio.

O Arcanjo levitou até a beira do rio de água cristalina que corria próximo a eles e, pela primeira vez, tocou o chão com seus pés. O anjo ficou em silencio apreciando o lago que corria por entre a floresta, quase escondido pelas copas das árvores.

– Existe uma história muito maior que não sabemos, não existe irmão? – disse Gabriel ao lado de Angelina.

A pergunta ficou sem resposta, mas o Arcanjo logo começou a falar:

– "A cada 100 anos um casal se ama verdadeiramente, renovando o amor no mundo. Quando morrem, um homem e uma mulher são PROMETIDOS, para daqui a 100 anos se amarem. Dando continuidade a eterna renovação do amor" – ele fez uma pausa. – Sabem qual foi o casal que iniciou essa profecia? Adão e Eva. Depois deles centenas e centenas de novos amantes surgiram. Até vocês surgirem e uma nova batalha começar.

Angelina ouvia com atenção, mas não conseguiu entender o que o Arcanjo quis dizer com "nova batalha".

– Porque nova batalha? – perguntou.

– Porque os amantes sempre trazem o bem. Assim o mal acaba vindo tentar derrotar o bem, na tentativa de fazerem as trevas dominarem os mundos. – O Arcanjo abaixou-se e tocou a água com suas mãos claras e luminosas. – Contudo, tudo foi diferente dessa vez.

– Como diferente? O mal foi derrotado novamente – falou Gabriel.

– O mal nunca é derrotado – corrigiu o Arcanjo. – E dessa vez ele se entranhou lá no fundo e criou raízes muito profundas.

– O que quer dizer com essas palavras?

– Durante todo esse tempo Lúcifer, ou, Lúcios, conspiraram contra o bem, conspiraram para atingir a origem da renovação, do amor. Até chegar em você Lucy, a fazer sofrer e a transformar em um instrumento das trevas. A transformar nesse ser do escuro. – Contou o Anjo se voltando para ela com olhos pensativos. – Você foi o nosso maior fracasso. Se tivéssemos visto antes o que você realmente era, se tivéssemos acreditado em Gabriel. Muito teria sido evitado.

Por mais descobertas que fizesse em sua vida, muitas sempre surgiam do lugar menos esperado. Nunca imaginou que lá de cima, alguns dos seres mais poderosos estivessem a observando. Jamais imaginou que estava servindo de peça para um jogo.

– Tudo o que os Perpétuos fizeram com a minha família, comigo e todos os que já amei foi parte de um jogo?! Você está me dizendo que tudo seria diferente se eu não fosse parte da Profecia dos Prometidos?! – Concluiu ela quando caiu em si.

Não pode deixar de sentir raiva por pensar que sua vida poderia ter sido muito mais feliz e sem todo esse sangue derramado. Se ela não fizesse parte de uma maldita profecia, ou se seres de outra dimensão tivessem acreditado em alguém, tudo poderia ter sido melhor. Essa ideia a fez se sentir muito mal.

Um mal capaz de inibir sua raiva, capaz de trazer um grande pesar para seu coração. Sim, pois a ideia de pensar que poderia ter seus pais e seu irmão vivos com ela, a ideia de não ter "aquilo" dentro dela, a derrubaram de uma forma surpreendente.

– Sim – confirmou o Arcanjo sem rodeio. – Você sempre esteve no lugar que o Mal quis. Todos os passos dolorosos que deu sempre foram manipulados. Até...

– Até...?! – falou com a pouca voz que a restava.

– Até nós descobrirmos o que você realmente era.

– E o que eu realmente sou? Um brinquedo? – disse indignada, inconformada em pensar que nada em sua vida foi um mero capricho do destino, mas sim um plano maquiavélico criado para a diversão de poucos.

O Arcanjo voltou a caminho por entre ela e Gabriel, parou pouco atrás deles e os esperou se virar.

– Quando Lúcifer a transformou numa experiência maligna, "aquilo" nasceu dentro de você – falou o Arcanjo olhando no fundo dos olhos dela, como se fosse capaz de ver "aquilo". – "Aquilo" nunca deixou de ser você mesma, sobretudo, "aquilo" sempre foi o mal. O seu lado mal. E foi justamente isso que nos impediu de ver o seu lado bom. Pois, o mal é mais visível do que o bem.

– Como não conseguiram ver isso? – questionou Gabriel. – Vocês são Arcanjos de Deus, são os seres mais poderosos de todos. Como não viram isso?! – Era notável o inconformismo em sua voz e semblante.

– Disse bem Gabriel, somos Arcanjos de Deus. Não somos Deus. Apenas Ele sabe de tudo e vê tudo. Se fossemos igual a Ele, Lúcifer não seria o Rei do Inferno – defendeu-se o Arcanjo.

Os pássaros cantarolaram ao redor deles e o pesar dentro de Angelina amenizou-se misteriosamente.

– E como descobriram o que eu realmente sou? – ela perguntou, curiosa e com uma pontada de esperança em ouvir que nem tudo sempre esteve perdido, ou que o futuro ainda poderia ser salvo.

– Não descobrimos. Nunca descobrimos. Gabriel quem descobriu.

– Como? – indagou Gabriel sem entender.

– Você sempre fez de tudo por ela. Você nunca deixou de acreditar nela. – Surpreendeu o Anjo. – Por mais que o mal a dominasse, você sempre esteve do lado dela – ele fez uma pausa. – Como agora pouco quando deixou todos e correu em direção a morte por ela, quando correu atrás de Lúcios para ajudá-la a se livrar do mal. – Fez outra pausa. – Foi olhando esses detalhes que e eu abri os olhos e enxerguei a verdade por trás de tudo. Dessa forma, cheguei a tempo de impedir o pior. A tempo de impedir que o mal vence-se.

Custava encaixar todas as peças em sua cabeça, por mais que cada uma se encaixasse perfeitamente. A ideia de nada nunca ter sido uma escolha dela não parava de martelar em sua mente.

"Porque eu?" – se perguntou.

– Porque tinha que ser eu? – libertou a grande questão de sua mente.

– Não sei. – Respondeu o Arcanjo com a maior simplicidade.

– Como não sabe?

– Nem tudo pode ser explicado – falou o Arcanjo caminhando de volta beira de rio. – Como eu sei que não faço parte do mesmo dilema que você? – perguntou olhando para seu reflexo na água. – Eu não sei, porque a questões que simplesmente são inexplicáveis.

O silencio cobriu o lugar.

– E o que vai acontecer a partir de agora? – perguntou Gabriel.

(Nem tudo é como achamos ser)

Desculpe os meus erros. Muito obrigado pelo apoio, faltam pouquíssimos capítulos para o dia da despedida. Mas continue votando e comentando. OK.

Até daqui a pouco!