Capítulo 10 - Revelação

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Após caminhar pelo porto, Dill sentiu um breve arrepio passear pelo seu corpo. Os barcos que vinham da grande embarcação chegaram com estoques de rum e mantas para se aquecer naquela noite fria. Dividiram-se em grandes grupos para dar estabilidade aos hospedes de Kane. 

O capitão não tinha com o que preocupar. Seus marujos aproveitavam a noite no bar, enquanto ele se deitara numa rede olhando as estrelas. O que era estranho, visto que Dill nunca recusava um bom rum, mas justo naquela noite, ele não queria beber, apenas desejava ter uma noite de sossego. E não demorou muito para ele escutar um barulho. Pensou ser mais um grupo de marinheiros voltando com as cargas, mas nada vinha dali.

Levantou da rede que tinha amarrado entre as árvores, e foi de encontro ao barulho. Caminhando lentamente pela beira mar e com os pés descalços, ele usava o tempo ao seu favor. Pois quem quer que estivesse se escondendo, estava fazendo isso de modo errado.

O barulho vinha atrás de uma grande pedra, chegou um pouco mais próximo, e retirou com cuidado o punhal que sempre carregava consigo. Atravessou a rocha e apontou para o ser que estava por trás dela. Seus olhos não quiseram acreditar, mas a jovem que estava em sua frente, com o medo em sua face era Serena. Era visível o pavor que ela tinha ao ver a espada, aquilo lembrava Jeff e a dor que sentiu ao ser cravada em suas costas. 

- Serena?

- Não machuca Serena. - Sua voz estava um tanto amedrontada.

Dill imediatamente soltou o punhal que estava em suas mãos e correu para abraça-la. Por instinto, Serena se encolheu formando uma espécie de concha com seu próprio corpo. Queria se proteger de qualquer coisa que pudesse lhe fazer mal. Mas quando sentiu as mãos do capitão em sua pele, sua tensão suavizou e logo o deixou abraça-la. 

- Serena, me diga o que aconteceu. Porque esta aqui?

- Serena sem calda - Ela falou triste.

- Você já tentou voltar para a água hoje?

Ela fez que não com a cabeça.

- Então tente. - Pediu ele. - Quem sabe foi só um desgaste físico.

Ela acenou. Retirou sua roupa e correu para a água. Mal se importou com a pele queimando em contato com a água gélida. E Dill se pegou mais uma vez, observando Serena. Entre mergulhos e pulos dentro da água, sua calda finalmente apareceu, mas ela parecia um pouco diferente. Antes, elas eram esverdeadas, agora puxava mais para um azul com pequenos traços cinzas em sua barbatana. Um pulo alto, e ela deu um grito agudo capaz de afastar a água. Serena se chocou ao chão.

- SERENA! - Ele grita.

Após retirar a criatura do mar, ele a olhou da cabeça até a ponta de sua calda. Ficou impressionado do quão diferente ela estava, não parecia sequer a sereia que viu a minutos atrás. Ele a chamava mas a mesma não o ouvia, até que na quarta tentativa de faze-la acordar, ela abriu os olhos.

- SERENA, O QUE ACONTECEU? - Estava tão preocupado que não percebia que estava gritando.

Serena tapou seus ouvidos com as mãos. Não suportava ouvir gritos, eles eram sensíveis demais e isso a fazia sentir desprotegida. Ele pediu desculpas e retomou a sua voz já normalizada.

- Você está bem? - Perguntou.

- Eu não sei. - Sua voz era sussurrada.

- Eu? - Perguntou intrigado. - Você acabou de se citar assim? - Dill estava confuso.

- Ora, estou aprendendo Dill. Ou você acha que nunca conseguiria seguir o ritmo de vocês?

Era estranho. Ele sabia que ela poderia muito bem, aprender suas falas. Mas foi tudo tão rápido. Ainda mais com o que aconteceu, e sua calda era tão... impressionante.

Ela fechou os olhos e respirou fundo. Era óbvio que ela estava mudada, mas o quanto ele não sabia. Ele a observava. Olhou para sua calda, que já estava a se transformar em pernas e prendeu a respiração. Os olhos de Serena capturaram o de Dill, que por sua vez ficou imóvel. Ela estava nua a sua frente, novamente. Mas não como antes, agora, ela se mostrava uma mulher. Madura e decidida.

Serena sorria maliciosamente, fazendo com que o capitão perdesse o ar. Ela se arrastava lentamente para o colo de Dill, seus olhos estavam mais vibrantes, mais indecifráveis. Por um momento, ele perdeu a lucidez.

- Você é tão másculo. - Posicionou sua boca perto do ouvido de Dill. - Um ótimo capitão. - Sua voz era assustadoramente sexy.

- Serena, você precisa vestir uma roupa. Ande, saia de cima de mim. 

Ele estava visivelmente desconcertado. Ela só conseguiu exibir um sorrir maléfico para toda aquela situação. Ela não se importou, tampouco saiu de seu lugar, apenas colocou um dedo nos lábios do mesmo.

- Dill! Você pensa demais. Vamos, pare de pensar e me beije. - Ele pediu sedutoramente.

Ele estava caindo em seu jogo, visto que aquela voz sedutora fazia ele pensar absurdos. Era quase impossível não responder aos chamados daquela criatura, ela clamava seu nome com tanto prazer. Respirou fundo e por um segundo ele cometeria loucuras, a maior delas, mas mesmo assim, conseguiu se desprender dos olhos de cor azul vívido.

- NÃO!

- O que? - Ela perguntou incrédula. Era a sua primeira tentativa, e esta havia falhado.

- Não. Saia de cima de mim. - Ele ordenou e ela o olhou raivosa.  - AGORA!

Ela piscava várias vezes. Seus olhos parecia brasas em chamas de puro ódio, não acreditara no que tinha acabado de acontecer, ela fora rejeitada. Passou a respirar com dificuldade, como se seu corpo tivesse entrado em combustão e em um gesto impetuoso ela saiu do colo do capitão sentindo a cabeça latejar, colocou as duas mãos nela e segurou sua cabeça em forma de se proteger, parecia que seu crânio iria explodir a qualquer momento. As vozes aborrecidas que habitavam seu interior estavam esbravejando palavras desconexas a fim de perturbar a doce criatura, a recusa era o pior pesadelo de uma sereia em transição. E os ruídos incessantes estavam a condenando e ela precisava controlá-los antes que fosse tarde demais. Quando deu por si, seus olhos haviam mudado novamente. Estavam normais. Não aquele tom vibrante que ele tinha visto segundos antes.

- Serena? - Perguntou.

- O que Serena fez? 

Agora sim a criatura parecia normal. Dill se apressou em fazer com que ela vestisse sua roupa e seguiu quase que com desespero para dentro da casa. Deixou a sereia novamente com Zara, que cuidava dela agora que constantemente. Ele precisava falar com Kane, pois tinha quase que certeza que a capitã saberia o que estava acontecendo com Serena.


SERENA - O segredo das águas [HIATUS]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora