PRÓLOGO

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Como de costume, o povo de Holding estava nos bares comemorando mais uma de suas conquistas em alto mar. Tripulantes que arriscavam a vida, agradeciam por chegarem mais uma vez vivos em seu Reino. O bar principal estava lotado, homens bebendo cercado de mulheres ao redor dançando e sorrindo.

Dill estava sentado cabisbaixo, perdeu seu bem mais precioso, o colar de seu pai. Não precioso de alto valor, mas sim, precioso por ser passado de geração em geração. Seu avô também foi capitão, assim como seu pai, e agora, era a sua vez de carregar esse legado.

Seu pensamento estava longe, até que sua atenção foi tirada a partir do momento em que uma mulher de cabelos negros bateu a porta do bar tirando a atenção e todos. Ela recebeu o olhar de todos os homens daquele estabelecimento. 

Ela era linda e não precisava se enfeitar como as outras. Não usava maquiagem, sequer prendia os cabelos, não usava sapatos, usava apenas um vestido solto azul claro. Era simplesmente uma beleza natural. Ali, aos olhos de todos, ela foi em direção ao dono do bar, sentou na cadeira ao lado de Dill e disse:

— Dei-me a bebida mais forte que tiver. — Todos a olharam espantados. Não era costume ver alguém tomar algo tão forte.

Ela riu.

— Por conta da casa. Não é fácil receber uma jovem tão bela aqui no meu estabelecimento. — Disse o homem. Ela assentiu e sorriu novamente.

Dill a observava da cabeça aos pés. Nunca vira uma jovem mais linda que ela. Até que algo o chama a atenção:

O colar.

Era praticamente impossível ser o mesmo, ele tivera certeza que tinha perdido em pleno alto mar. Ninguém ousaria mergulhar lá, sabendo os tipos e criaturas que se encontra pelo mar afora.

— O que está olhando moço? — A voz da mulher misteriosa era calma e ao mesmo tempo doce. Uma mistura de prazer que fez o Dill demorar a responder.

— O colar. — Falou sem piscar.

Ela olhou para o que leva em seu pescoço e sorri.

— Meu pai me deu de presente. Disse que me traria sorte. — Ele achou que seu pai havia se enganado ao dizer que aquele colar era único, pois como havia de ser, se ela tinha um absolutamente igual. — Me diz seu nome. — A mulher falou num tom de voz ingênuo.

— Dill. — Disse rapidamente. — E o seu?

— Pinopia. — Respondeu a moça bebendo um pouco da cachaça forte. Seu nome era um tanto diferente, assim como a bela jovem que tinha se materializado a sua frente. Todos continuavam a olhar e isso a incomodava. — Porque todos estão me olhando assim? — Perguntou.

— Voltem a dançar. — Ele ordenou.

Para sua felicidade, todos o obedeceram. Voltaram a festejar com as dançarinas do bar e finalmente, ela só tinha a atenção de um único homem. Dill. Eles conversavam sobre diversas coisas mas a única que a fascinava era a ligação dele com o mar.

— Você gosta tanto do mar assim? — Os olhos curiosos passava a reparar nos trajes do Capitão.

— Sim. Meus pais me criaram em uma embarcação, meu pai era capitão e para seguir meu legado ele me deu um colar, um igual a este que você tem em seu pescoço. — Ele apontou.

Ela olhou para o mesmo a sorriu. Seu sorriso era um tanto malicioso que o fez pensar em coisas absurdas. Ela era misteriosa, sem chance para se descrever com clareza, o olhar que colocou em Dill era um tanto enigmático incapaz de obter nenhuma forma de raciocínio lógico. Ela se levantou e saiu do bar, o deixando absolutamente sozinho. Ele sem entender o que tinha acontecido, vai atrás da moça que anda solitariamente pelo Porto.

— Onde a senhorita vai? — Perguntava Dill a segurando pelo braço. Ela olhava estranhamente para seu rosto e depois para seu braço, deixando evidente que não gostou de seu ato. — Desculpe é que...

— A lua. Vim ver a lua. — Ela o interrompeu.

Era lua cheia, mas neste dia estava maior do que todas as outras noites, o mar estava de alguma forma contemplando-a. Pois via todo o seu reflexo nele.

— A lua está realmente linda. Mas onde vais?

— Já disse, ver a lua. — Ela o ignorou completamente e iniciou sua caminhada até a areia da praia. Ela sentou num tronco de árvore e ficou ali observando o reflexo da lua. Depois de longos minutos, alguém que ela estava esperando aparece:

— Então este é o seu esconderijo? — Perguntou Dill sentando próximo a ela.

— Eu gosto de vim aqui quando a lua esta de encontro ao mar.

— Sabia que aqui é um dos meus lugares favoritos? Como nunca a vejo?

— Segredo. — Falou misteriosamente.

Ambos se calam. Eles apenas observavam o mar calmo, ouvira o barulho das ondas, tudo absolutamente tranquilo. Ela se levantou e foi em direção ao mar. Sorrindo ele a observava, aquela jovem morena era linda. E ali brincando com a água, era a coisa mais perfeita de todas. Colocou um pé depois o outro e foi guiada pelo mar adentro. Mergulhava e demorava alguns segundos para depois retornava a superfície. Porém no terceiro mergulho, algo aconteceu:

— Socorro! — A jovem chamou desesperadamente.

Dill se apressou em ajudar a jovem, retira a camisa e correu para ajuda-la. Dando dois passos dentro do mar ele ouviu.

— DILL! — Gritou Zara, sua amiga desde a infância. E isso faz olha-la.

— Dill não faça isso. — A mulher corria em sua direção enquanto Dill se mantinha petrificado. Ele estava sem reação, de um lado uma jovem que estava se afogando e pedindo desesperadamente ajuda, do outro sua amiga fiel implorando para que não entrasse ao mar.

— Socorro! — A jovem afundou. Ele não prestava atenção no que a outra dizia. Ele tentou correr para ajudar a pobre moça mas acabou impedido por Zara.

— QUE MERDA VOCÊ ESTÁ FAZENDO? ME DEIXA AJUDA-LA! — Gritou.

— Não vê. Ela não é quem tu pensas. Que Deus nos proteja desta criatura, mas ela é não uma de nós.

Logo ele caiu em si quando a mulher subiu a superfície. Seu sorriso era maligno, sua face bastante irritada. Daí ele percebeu que estava sendo manipulado.

— Se não fosse por essa humana você seria meu. Vocês homens não raciocinam direito, acha que as mulheres foram feitas para seu único e exclusivo prazer. Mas nós somos a prova viva que não é exatamente assim. Vocês comem na palma das nossas mãos e se não fosse por ela, você me daria a prova de amor mais maravilhosa e todas. Seu coração. E eu iria devora-lo com todo o prazer. — Ela gargalhou.

— Você é um monstro. — Dill mal podia acreditar no que acabará de ouvir.

Ela dava um último olhar para aquele que iria ser seu homem. Por fim, deu um pulo tão alto fazendo um arco de noventa graus certeiro no ar. Fazendo com que sua calda ficasse a mostra para que quem pudesse vê-la.

Assim, ela mergulhou para nunca mais voltar, e foi a partir desse dia que ele passou a odiá-las e prometeu a si mesmo que nunca mais iria se deixar levar por essas criaturas marinhas conhecidas como Sereias.

SERENA - O segredo das águas [HIATUS]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora