Capítulo 6: Destination Unknown (Destinação desconhecida) - Bárbara

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And let's go
(e vamos)

To the place where we belong
(para um lugar onde nós pertencemos)
And leave our troubles at home
(e deixemos nossos problemas em casa)

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(venha comigo)
We can go
(nós podemos ir)

To a paradise of love and joy
(para um paraíso de amor e alegria)
A destination unknown
(uma destinação desconhecida)

(Destination Calabria - Alex Gaudino feat Crystal Waters – 2008)

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Pelo jeito Rafael tinha desenvolvido algum tipo de bipolaridade. Minutos antes estava sorrindo sozinho, mas agora sua expressão denunciava algum tipo de dor interna. Eu só esperava imensamente que essa dor não se se tornasse externa, especialmente se ela envolver problemas gastrointestinais. O elevador é pequeno demais para aguentar isso...

Pelo menos sentar tinha sido uma boa ideia. Quer dizer, dentro do possível. O chão do elevador com certeza era sujo e não tinha uma posição no universo na qual eu conseguisse sentar sem deixar as minhas pernas em contato direto com ele. Meu vestido era curto demais para fazer o intermédio perfeito, mas era exatamente a roupa perfeita para perambular no calor desgraçado que fazia no Rio de Janeiro. Prioridades, não é mesmo? Era uma roupa muito funcional para uma tarde de verão na cidade mais perto do inferno que você pode imaginar, mas uma roupa pouco útil no que diz respeito à proteção da sujeira dentro de um elevador quebrado... Se eu soubesse que o elevador pararia, para início de conversa, eu nem teria saído de casa.

Se eu soubesse que o elevador pararia com Rafael dentro dele, aí eu teria evitado sair de casa por toda semana – só por via das dúvidas.

Não fazia sentido ele estar ali, ocupando quase todo espaço daquele elevador minúsculo. Quando ele tinha voltado para o Brasil? E por que precisava morar logo no prédio para o qual minha família resolveu se mudar? Parecia uma piada. E de muito mau gosto. Eu não conseguia nem ligar para Ruth, ou mandar mensagem... Não tinha sinal nenhum. Pelo jeito tinha sido... como Rafael tinha chamado mesmo? Um blecaute geral. Realmente, não dava para acreditar. Passei todos esses anos olhando por cima do ombro para qualquer mísero sinal do garoto e, quando menos espero, quando minha guarda está lá no chão, ele aparece. Seria cômico se, na verdade, não fosse imensamente trágico.

Eu devia suspeitar que alguma coisa de ruim aconteceria quando ele começou a bater o pé no chão. Mas ao invés de prestar atenção no ritmo, me distraí ao observar que ele ainda estava cheio de areia, enfiado naquelas havaianas horrendas que todo mundo tinha o hábito de usar nessa terra esquisita. Só me dei conta de qual era a música quando ele começou a assobiar.

Arremessei a bolsa na cara dele.

Ele falou um palavrão, mas o assobio parou.

— O que eu fiz dessa vez? — ele perguntou, empurrando a bolsa de volta com o dedo, como se ela fosse algo nojento.

Nojento estava aquele chão, no qual ele estava arrastando uma bolsa que provavelmente valia mais do que qualquer peça de roupa que ele tinha no armário.

— Acho que precisamos estabelecer algumas regras de convivência nesse elevador — eu comecei a dizer, salvando minha bolsa do martírio ao puxá-la de volta para meu colo.

— Eu prometo que não vou te tocar — Rafael revirou os olhos, como se esse fosse o problema.

Bem, esse era um dos problemas. O problema era ele existir. Respirar o mesmo ar que o meu. Estar imundo de areia e sujando um ambiente já nada agradável. O problema era a falta de luz que me fazia conviver com a pessoa que eu mais odeio na face do planeta, ainda que também tenha sido a pessoa que eu mais amei. Esse era o problema. O principal deles.

Chinelo e Salto AltoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora