Capítulo 04: Hope it gives you hell (Espero que isso te infernize) - Bárbara

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When you see my face
(Quando você vir meu rosto)

Hope it gives you hell, hope it gives you hell
(Espero que isso te infernize, espero que te infernize)

When you walk my way
(Quando você passar por mim)

Hope it gives you hell, hope it gives you hell
(Espero que isso te infernize, espero que te infernize)

Hope it Gives You Hell – The All-American Rejects - 2008

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Rafael estava sorrindo sozinho, provavelmente perdido em uma memória. Eu arriscaria minha Prada que só podia ser uma lembrança envolvendo suas garotas da América do Sul. Ninguém abria um sorriso daquele preso em um elevador. Especialmente preso no elevador com a ex-namorada.

O mundo estava mesmo fora de balanço. Provavelmente ele vinha sofrendo algum tipo de distúrbio na órbita e ninguém percebeu. Deve ter começado a dar tudo errado em abril de 2009, quando Rafael teve a cara de pau de terminar comigo e me trocar por aquele varapau. Minha vida amorosa andou desandando desde então, mas muito porque eu não fiz esforço para tentar mantê-la inteira. Encasquetava umas maluquices na cabeça e as seguia, sem analisar se havia mesmo lógica naquilo.

A verdade é que passei muito tempo achando que não havia lógica em mais nada, desde que Rafael veio com aquele papo de "precisamos conversar".

Eu não sabia, na época, que "precisamos conversar" tinha 99% de chances de significar algo ruim, péssimo ou tétrico. Eu realmente achava que ele só precisava falar alguma coisa. Na minha cabeça, as opções eram bem menos horrendas e rodavam em volta dele me convidar para conhecer sua casa no Brasil, perguntar o que eu gostaria de ganhar de presente de aniversário ou questionar qual era minha opinião sobre alianças de compromisso.

Então quando ele disse "eu quero terminar", você pode imaginar meu choque.

Eu tentei contornar, o que foi ainda pior. Foi o momento da minha vida que eu aprendi que não devia me arrastar atrás de nenhum cara. Mentira, eu fiz isso de novo, um ano mais tarde, com outro cara, mas essa é outra história. O aprendizado começou ali, quando tudo destrambelhou e caiu aos pedaços. Parece que eu estou catando os pedaços desde então.

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7 anos antes, mês de Abril – Monterrey, Califórnia

Rafael apareceu de mãos dadas com outra garota no colégio uma semana depois da conversa iniciada com "precisamos conversar". Eu ainda estava enfiada em lenços de papel e chocolates e ele já estava perambulando com outra.

E não era uma outra qualquer. Era Nadja, uma intercambista russa que pelas fofocas que corriam nos corredores de St. Claire já tinha passado nas mãos de quase todos os garotos do colégio. Ela era estupidamente bonita e eu me sentia intimidada perto dela. Inferior. Para ser sincera, acho que todas as garotas se sentiam. Seus cabelos eram curtos, loiros e platinados. Ela tinha a pele mais lisa que eu já tinha visto na face do planeta Terra. Seu rosto era harmônico, com lábios recheados e um nariz delicado. Seus olhos eram azuis, muito mais azuis que os meus – muito mais vivos que os meus. Ela era muito magra e esbelta, mas isso não significava que ela não tinha corpo. Os garotos diziam pelos cantos que ela tinha um balançar de quadris único (e vou poupá-los sobre o resto das coisas que eles falavam sobre os quadris dela).

Enfim, ela era considerada a menina mais bonita da escola e aproveitava sua fama para fazer o que bem entendesse.

Era irônico lembrar disso, porque alguns meses depois, tenho certeza que algumas pessoas usaram a mesma frase para me definir.

Chinelo e Salto AltoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora