A Semente de Hitler

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Um sujeito careca está sentado em uma guia com seu suspensório, sua bermuda antiga e uma camisa branca (tipo anos 40 e 50), com um ar que estava arranjando briga. No braço direito tinha uma suástica nazista, no esquerdo tinha o símbolo da SS estampado bem visível, pois, não estava preocupado que as pessoas pensavam. Afinal, o que importava um bando de ignorantes – como ele pensava – achar que ele estava errado sendo ele certo? Quando um moço negro e humilde cruza o seu caminho, como um motivo muito bom para provar a sua lealdade ao livro de Adolf Hitler. Estava na sua mão e foi a arma que usou para dar a primeira pancada, a segunda desloca a mandíbula do homem sem poder reagir.

A respiração do careca aumenta, o ódio em seu coração aumenta. Ele culpa todos os negros pela morte do seu pai, morte essa acometida de um assalto e um só era negro, somente um assaltante era o que, cegamente, odiava e desprezava.  Hitler não sabia que seu ódio contaminariam tantos jovens pelo mundo, ou sabia e até desejaria, mas mesmo com tantos anos da derrota nazifacista, há quem acredite nas suas ideais insanas.

Aquele homem negro, estava no chão todo ensanguentado, nem sabia o que estava acontecendo.  De pé ao lado, com um sorriso satisfeito, estava o careca com as marcas de um sofrimento que não acabará com a morte daquele homem negro e humilde. O homem olha para ele e diz: "Por que fez isso, rapaz? Nunca te fiz nada!". Mas o careca estava cego. Com um porrete de madeira dá um golpe forte na cabeça daquele homem, o sangue escuro jorrava de seu coro cabeludo. Meio zonzo o homem fica grogue e se perde em devaneios e gemidos de dor. Ninguém salva o pobre homem, todos olham com um silêncio mórbido de ver um louco matar um trabalhador e alguns fogem.

Quando não viu mais o homem negro no chão sem se mexer, foge, corre até seu quarto. Na parede era exibida uma bandeira nazista, que tinha conseguido em um leilão entre as gangues de carecas e deitou na sua cama. Nem tinha tirado seu coturno e nada abalaria aquele alívio  e a sensação de dever cumprido.  Mas, para quem? O "Firher" da que ele tanto idolatrava, estava morto e não havia compromisso nenhum com ninguém.  Mas as ideologias são assim, as pessoas acreditam cegamente, as pessoas não tem a capacidade de enxergar o óbvio.  Quer enganar as pessoas? Só jogar o óbvio e elas não irão ver.

Afinal, a verdade é como um cubo de gelo numa bacia de água, pode ser sólido, mas com o tempo diminui e se mistura com o resto da água.  Mas naquele caso o que seria a verdade? Uma doutrina que matou milhares de pessoas e outros bilhões numa guerra insana? Poderíamos dizer, que o careca teria se transformado em um psicopata, um sociopata, uma pessoa que viu um louco ser transformado em um ícone que nada mais queria, provar que não era um fracassado. Mas no fundo, Hitler sabia que era um fracassado  e todos do auto-escalão do Terceiro Reich com suas deficiências, com seus sentimentos de inferioridade, sua covardia de se vingarem de um mundo que os rejeitaria. Mas o que seria normal e o que seria anormal? Há seres humanos superiores dos que os outros? Aquele careca achava que sim, achava que o mundo deveria se curvar a raça branca, sua cegueira não via que ele próprio era mestiço. Afinal, quem não seria mestiço no Brasil? 

Sua revolta teria dado a ele a impressão de ser da raça ariana, mas não era, era mais um mestiço que vive no Brasil. A mãe tentou lhe dizer, mas era violento com sua mãe e sempre com bastante estupides, respondia que era superior a todos e que os membros da raça inferior pela morte do seu pai. Para ele, todos eram culpados de não crescer com o pai, mesmo que a mãe tenha dado tudo do melhor. Mimo ou será, demência? A fronteira da sanidade estava sempre, a loucura. 

O careca liga a TV e assisti a reportagem que não queria assisti, porque encontraram o homem negro no chão, morto a paulada, sem motivo nenhum e o careca sabia o motivo: ódio. Começou a pensar: "como acharam esse cara? Agora vou ter que fugir para outro lugar, porque podem me prender." . Mas aquele homem foi morto por um ódio psicopata: como pode explicar isso para a policia? Como pode explicar para a sociedade suas ideias? Como pode explicar que quem tem que viver no mundo é os brancos arianos? Sua mãe entra no barco e diz: "Você é um pervertido, Eduardo! Como um filho de nordestino pode ser nazista, louco?!". Com ódio e muito enfurecido, dá um tapa na cara da sua mãe, começa a bater nela furiosamente como se ela fosse culpada de algo, mas não era culpada de nada. Era o medo. Era o clamor da consciência. Era sua alma perdida num inferno ideológico. O nazismo era uma desculpa de tudo de ruim foi sua vida e agora, sua vida está péssima, pois, agrediu sua mãe e matou o homem humilde negro. 

A policia estava na porta por reconhecer o video das câmeras de segurança e Eduardo, o careca, e bate na porta.Dentro da casa se ouve um grito "Socorro! " de uma mulher, ferida no chão e uma voz masculina gritando: "Cala a boca!" logo após, deu aos policiais um grande motivo para arrombar a porta e apontar a arma para o careca de cócoras, chorando, desesperado dizendo coisas baixas em alemão que tinha aprendido. Foi preso e condenado tempos depois, porque foi um homicídio e uma tentativa. A mãe não o perdoou e não visitava ele, o careca não tinha ninguém. Não diagnosticaram como psicopata e começou a agredir o pessoal da cadeia e teve um fim trágico. Fizeram uma roda, primeiro arrancaram sua suástica do braço com gritos: "Nazista filho da puta! " e depois começaram a bater, bateram bastante.

Quando os policiais viram e examinaram, seu braço sangrando, seu corpo caído e o ódio, matou que odiava...

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