No Hospital

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Essa seria uma das histórias mais difíceis de ser contadas e que ninguém poderia acreditar. Quem iria acreditar em uma pessoa que viu isso num hospital com alguém muito importante para morrer? Quem iria acreditar que um anjo viera falar comigo naquela ocasião? Foi o que aconteceu naquele instante.

Era uma tarde chuvosa e eu estava a caminho do hospital, onde meu tio estava internado por causa de um câncer, então vi um homem com vestes simples que estava pedindo algo para comer. Mal sabia eu que aquele homem era na verdade, um homem de posses e estava ali para testar a bondade alheia que, de alguma maneira, tocou meu coração. E dei uma quantia razoável para aquele homem que disse:

-- Obrigado menino, pois, graças a esta quantia, poderei comer bem.

-- Não foi nada! - eu disse com um sorriso - Não posso ver um homem passar o que está passando e não fazer a minha parte.

O homem sorriu com um sorriso de um homem aliviado e ao mesmo tempo, esperançoso com algo que esperava encontrar. Então, com muito sossego e suavidade, ele me disse:

—Você menino me fez renascer a esperança no ser humano, pois, vi muitas coisas que me fizeram desacreditar do ser humano. Afinal, o que é um ser humano?

Sorri, pois naquele momento, eu achava que o homem era apenas um mendigo que tinha sofrido com sua pobreza. Nem desconfiava, em meus remotos sonhos, que aquele homem era dono de um vasto império financeiro e me contou sua história.

— Garoto, eu não sou um mendigo – disse o homem caminhando comigo na calçada – sou um homem bem rico e seu gesto me fez acreditar em uma humanidade que tem jeito. Des que bandidos mataram meu filho com um sequestro insignificante, venho procurando um sentido para minha vida. Entende? – Fiz um aceno com a cabeça – Então, o que está fazendo aqui?

—Venho visitar meu tio que está naquele hospital – apontei para o prédio que estava algumas distancias dali, enquanto isso, os seus empregados lhe davam uma toalha – ele tem câncer e está muito ruim, porque mostra muita fraqueza. Essa doença é a doença mais maldita que a humanidade já passou, acho que deve ter tido algum fator que desencadeou ela.

—Qual o seu nome, rapaz? – Respondi que era Daniel – Ora, Daniel como o profeta que estava na cova dos leões e foi salvo por Deus por ter fé. Parece um menino muito inteligente, perspicaz e que vê longe as coisas e sabe muito bem que s coisas não vem do nada. Há muitos fatores que levam a esta doença, como coisas sentimentais, rejeição de você mesmo, testes nucleares que a anos fazem – diz um rosto assustado – Não se assuste, na guerra fria quando houve a grande corrida atômica dos americanos, houve vários testes e os ventos vieram para todas as direções e aqui, a culpa francesa é eminente.

Depois dessa conversa com esse homem, nunca fui o mesmo. Será que as pessoas seriam tão gananciosas que não mediam a morte de milhares? Será que várias doenças teriam cura e a indústria farmacêutica não esconderia essa cura? O homem se compadeceu de meu tio e pediu meu telefone e onde meu tio se encontrava, onde morava e de onde eu vinha. Confesso que desconfiei, pois, as coisas hoje em dia, não estão tão fáceis para temos confiança com qualquer um por aí. Assim, relutei um pouco, mas acabei dando o número e o nome do meu tio.

Fui visitar o meu tio e ele estava intubado com uma sonda em sua boca e então, comecei a pensar: "Será mesmo que aquele homem teria falado a verdade e que estamos mesmo, num surto de câncer por causa dos testes nucleares? Será que se tem a cura e não se fala dela por causa que a indústria farmacêutica ganha milhões de dólares com essa doença? Acho que faz sentido, afinal, como se acabaria com algo se esse mesmo algo teria a ver com seu lucro? ". Aquilo ficou na minha cabeça pelo resto do dia, pois, eram questões interessantes e não tinham só a ver com meu tio, mas milhões de pessoas pelo mundo.

No outro dia, um telefonema do hospital, pedia autorização para transferência do meu tio a um hospital muito caro e que tudo seria pago por um desconhecido, não quis divulgar seu nome. Eu sabia quem era e autorizei a transferência, pois, meu tio não tem mais ninguém além de mim para cuidar dele. Que mal, afinal, teria? Que mal, poderia um cara que já está nas ultimas? Eu não acreditava mais, que meu tio sairia dessa e dei a autorização para ele morrer dignamente. O mundo muda e com ele mudamos com algumas atitudes que nos dão uma outra visão do mundo e o mundo não mais, é uma noite sombria. O mundo não é sombrio, as pessoas assim o são.

Algum tempo depois desse ato puramente de bondade, meu tio veio a falecer, mas de maneira mais amena e o homem, assim pensei, não iria mais me procurar. Talvez, aquele ato deliberado de bondade, seria apenas uma lembrança agora que o meu tio tinha falecido e pensei: "Acho que aquele homem fez muito por mim cuidando um pouco o meu tio dando uma morte digna". Então, segui minha vida como se fosse apenas uma lembrança e segui em frente.

O que me enganei em pensar isso, pois, logo após ele me ligou e disse que queria me ver mais uma vez. Não sei o que queria, mas tenho certeza que era algo com que fez com meu tio, pois, o único vínculo que temos. Mas me enganei novamente, que comprovei no diálogo que tive com ele logo depois.

—Tudo bem? – assim cumprimentei o homem – acho que o senhor lembra de mim. Então, o que o senhor deseja?

— Daniel, em toda a minha vida e não é pouco, venho pensado o quanto o ser humano é um ser muito ruim, às vezes. Claro que com seu gesto de boa vontade e respeito ao próximo, isso mudou drasticamente e já estou com uma nova visão sem muito generalizar a questão. Mas não tenho ninguém no qual me apoiar ou conversar comigo, porque sou filho único e sendo filho único não tenho uma família, minha esposa já falecida. Meu filho, bem sabe, morreu em um sequestro e o outro está por aí no mundo. Quem posso desabafar as agonias do mundo? Como posso achar uma pessoa digna de meus pensamentos? As pessoas, em sua maioria, quando sabem de algo, sempre acham maneiras de nos atacar por aquilo que sabem e pensei, pensei e resolvi te contratar para ser, o meu secretário. A pessoa que posso confiar, claro, se quiser.

Como aquele homem poderia ter sabido que não tenho nenhum emprego e não poderia bancar o hospital do meu tio? Como pode as pessoas estarem no momento certo e no período certo?

—Eu estou desempregado e preciso de um emprego, portanto, eu aceito. Tem certeza que não é um anjo? – ele me olhou com um sorriso e um silencio que só as mentes mais propicias podem entender e eu entendi, porque muitas vezes, um gesto vale muito mais do que as palavras. Quem será aquele homem? Quem será aquele ser que me transformou num homem poderoso que sou hoje?



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