Capítulo 11

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"Não vamos nos iludir, tudo isso é apenas a expressão de meus desejos mais primitivos. Na realidade estamos tão longe quanto o céu do mar."

Para ser sincero dizer que dormir, talvez não seja a melhor expressão do que ocorreu, ou simplesmente talvez fosse. Tudo era um mistério enorme que muito lentamente eu dia descobrindo a cada nova experiência vivida ali. O maior mistério era porque estando em um lugar onde podia ter tudo que desejasse ainda me sentia não tendo nada. Os sentimentos, as sensações, tudo ali parecia ter uma pitada de superficialismo que me incomodava. Eu tinha a garota que queria, mas ela era apenas a materialização de meu desejo, e por mais que em muitos momentos se comportasse exatamente como a verdadeira, eu sentia falta do frescor das palavras de Valentina, a pitada de ironia, e por mais incrível que possa parecer, sentia falta das negativas, a insistência de ser o melhor para ela mesma. Aquela Valentina que estava no quarto a frente do meu, era muito acessível, muito servil, pouco Valentina.

Despertei com o som de duas batidas na porta, que aparentemente eu deixei apenas encostada, pois logo vi a cabeça de Valentina surgir pelo vão aberto por ela.

- Trouxe seu café, espero que goste.

- Que horas são?

- Não sei, não tenho relógio- Ela mostrou o pulso – Mas não importa, afinal temos tempo suficiente para fazer tudo que quisermos.

-Acho que sim. Você vai me acompanhar no café?

- Claro, se você quiser.

-Vamos tentar ser mais naturais.

- Claro. Para onde vamos hoje?

-Eu gosto daqui, é meu lugar de paz, se esqueceu?

- Jamais esqueceria.

Tomamos café juntos, e confesso que pensei que talvez fosse uma coisa inútil já que eu duvidava muito da necessidade de alimentação no estado em que estávamos. Quando descemos encontramos a recepção vazia, fiquei um pouco triste, tinha sido ótimo rever a Mari, mas talvez ela tivesse outro rumo a seguir. O restaurante anexo à pousada estava aberto embora não houvesse qualquer cliente, ou funcionário, então não passamos por lá. O mar estava calmo, e de longe podia notar que a água estava tão clara quanto da primeira vez que conheci aquela praia. Fiquei por alguns instantes observando a praia vazia, até notar que bem no meio do caminho entre o mar e eu, tinha um pequeno garoto fazendo castelo de areia, ele não devia ter mais de seis anos, era novo demais para estar ali sozinho, então olhei ao redor a procura de seus pais, ou de alguém mais, no entanto o restante da praia estava complemente vazio.

Sem pensar muito fui me aproximando do garotinho, ele tinha um rosto bonito, e os olhos calmos, estava sem camiseta, e com uma bermuda vermelha. Tentei falar com ele, fiz gracinhas, mas ele apenas sorriu, e convidou com a mãozinha a Valentina a ajuda-lo com o castelo de areia. Ele me parecia muito familiar, mas eu não conseguia me recordar por que. Sentia batidinhas em minha perna, e quando olhei ele estendia seu baldinho para que eu buscasse água do mar para ele. Claramente ele assim como eu não gostava de desperdiçar palavras, então fui buscar a água para ele, e quando voltava olhando para eles, não pode deixar de perceber que linda imagem eles faziam brincando, e rindo juntos. Entrei a água para eles, e resolvi não atrapalhar a brincadeira, por isso disse a Valentina que ia dar uma volta pela praia, para pensar. Comecei a caminhas lentamente pela orla do mar, sentindo a água salgada bater em meu calcanhar, tentando encontrar razão em meio aquilo tudo. Eu devia ter andado cerca de quinhentos metros quando ouvi:

- É difícil né?

- O que? – Eu me assustei ao ver um senhor idoso sentado em uma cadeira de praia, a alguns passos de mim.

Beijo de Outono [Completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora