Capítulo 06

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"A Vida é assim mesmo, em um dia como outro qualquer ela te tira para dançar, e nunca mais as coisas voltam a ser como antes."

Quando reencontrei Valentina, minhas suspeitas de estar interessado nela, já estavam firmadas em mim, e aquela sensação incomoda de estar diante da pessoa que se descobre gostar se instalou. O que obviamente apenas de minha parte, já que ela parecia muito tranquila em estar junto a mim, talvez como é bem sabido, ela não estava a se apaixonar por mim. Eu era um amigo, a oportunidade de estar junto a alguém que amava extremamente as palavras, e com quem podia ter discussões inteligentes sobre vários assuntos. É claro que mesmo ao dizer isso ainda posso estar supervalorizando minha influencia sobre ela. Talvez eu fosse mesmo apenas um amigo, se já assim pudesse ser considerado.

O encontro se deu na feira livre, eu não estava ali por outra razão, a não ser o pastel, simplesmente amo pastel de feira, na verdade é a única coisa que me interessa neste local. Sei que as frutas, verduras, e legumes fazem bem, sou até assíduo consumidor delas, mas se eu posso escolher, as compro no supermercado, por comodidade, e porque muitas vezes me parecem mais saudáveis quando dispostas em gondolas, uma bobagem minha segundo minha mãe, que insiste que na feira livre esses produtos são extremamente mais frescos, e de melhor proveito. Obstante a essa discussão sem proposito sobre as procedências de frutas e legumes, eu gosto mesmo é de ir até a feira, para deliciar-me com pasteis. E foi estando ali quando ocupava um, dos quatro lugares na mesinha frágil de metal, gentilmente cedida pelo dono da barraca de pastel, que não tinha visivelmente qualquer procedência asiática, que senti o toque suave de uma mão em meu ombro direito, e em seguida tive a visão de Valentina diante de mim. Ela trajava um vestido branco, cheio de pequenas flores azuis, o tecido era simples, e fino, coisa que qualquer garota usaria em uma manhã quente de primavera, mas que tinha uma aura de maior beleza. Um leve vento passava por ali, movimentando o vestido em seu corpo, e por uns segundo desejei que o vento fosse maior, e que assim movimentasse mais seu vestido, e que mostrasse mais do que ela queria realmente. É claro que segundos depois repreendi a mim mesmo por ter esse pensamento adolescente, não era em nada adequado a situação. Mas você caro leitor deve entender, que não há nada mais torturante para homem, do que umas moças de vestido fino sendo balançado ao vento, insinuando formas, que não se sabe se de verdade são, se você for um garoto então me entende, se for uma garota, está a me julgar machista, coisa que não o sou, e nunca quis o ser na verdade, mas é meu dever descrever tudo como se passou. Já disse no começo de tudo, se for incomodo não leia, não tens tal obrigação.

Ela cumprimentou-me gentilmente, sentou-se ao na cadeira ao lado da minha, dando um sorriso, explicando que estava ali com mãe, mas que não tinha gosto por compras em feira, por andar no sol escolhendo produtos em bancas, e que preferia ir ao sacolão, ou no supermercado. E que aquela era a única banca que realmente gostava de frequentar, já que é algo quase impossível resistir a um bom pastel de feira. Eu perguntei sobre sua mãe, e ela respondeu que estava com seu pai andando pela feira, e que eles permitiram que ela ficasse ali comendo pastel. Eu insistir que ela era minha convidada, até que ela aceitou, e fez seu pedido, e ficamos conversando sobre o fato de ambos não gostarmos de compras em feira, mas adorarmos os pasteis.

Como sempre logo a conversa chegou a literatura, e então ao meu livro, e me diverti muito quando sem cerimonia alguma ela me perguntou como podia alguém com tanto jeito com as palavras, ser uma pessoa tão má. Pensei que ela ainda estava mentalmente às voltas com a morte de Gerald Lutz, mas fui surpreendido quando ela disse:

-Não entendo porque a Andressa, não pode ficar com ele, sim, porque já percebi o que você está tramando.

Por um segundo tentei me recordar se havia alguma personagem chamada Andressa, em "Do Outro Lado do Rio", e se eu a tinha esquecido, mas não havia por certo que não, então caiu a ficha, ela estava lendo "Desconexo Amor".

-Ei, você está lendo "Desconexo Amor"?

-Sim, e já quero saber por que vai fazer isso.

-Em qual pagina está?

-Na pagina sessenta e quatro.

-Então abandonou o "Do Outro Lado do Rio"?

- Claro que não, eu terminei ele anteontem, e adorei a história, mesmo odiando que você tenha matado do pobre do Gerald Lutz. E comecei o "Desconexo Amor" no mesmo dia.

- Não sabia que tinha conhecimento dele.

-Como não, se falamos dele algumas vezes, e eu fiquei muito curiosa.

- É verdade...

- Você disse quando nos conhecemos que eu não encontraria seus escritos para comprar, então deve desconhecer que na Livraria Torres, lá no centro, tem seus livros aos montes, o engraçado é que alguns estão até autografados.

- Eu sei disso, afinal eu autografei os livros, a pedido do pai do meu amigo Narciso.

-Ele é dono daquela unidade?

- Sim, de toda a rede de Livrarias Torres. Já te falei dele.

- O que organiza os encontros de autores, é mesmo.

-Sim.

Não tentei explicar porque disse que ela não encontraria meu livro, mesmo eles estando em todas as livrarias do país, afinal foi uma coisa do momento, uma brincadeira por assim dizer, que já tinha passado. A conversa seguiu até ela avistar seus pais vir em nossa direção, e imediatamente se despedir de mim, agradecendo pelos pasteis, e pela conversa.

No fim da tarde enviei uma mensagem de texto para ela:

"Que tal se você sair comigo hoje? Comer alguma coisa, passear?"

"Tudo bem? Pode ser a noite? Não consigo me desligar desse livro agora".

"Claro, às oito?"

"Perfeito... Até!"

Eu tinha exatas três horas para planejar um encontro a altura dela, não era muito tempo, então tive que excluir das opções a banda tocando MPB, e também o passeio de conversível vermelho. Coisas que eu não sabia onde encontrar, mas liguei para o restaurante que eu mais gostava na região da Paulista, e implorei por uma reserva, e graças a Deus consegui após um tempo. Pelos menos ele tinha uma banda que tocava os clássicos, o tipo de musica perfeito para um jantar, bastava esperar que ela concordasse. Isso eu teria que descobrir na hora. Ela ficaria linda em qualquer roupa, mas eu tive que me esforçar muito para ficar no mínimo apresentável. Ou pelo menos tentei.

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Beijo de Outono [Completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora