Capítulo 35 - Caçados

9 2 1
                                    

– Eladar! Eladar!

El sentiu duas mãos delicadas sacudirem seus ombros. Não ousou abrir os olhos; a cabeça ainda estava muito leve. Todo o seu corpo formigava. Sentia cheiro de grama.

Onde é que ele estava mesmo?

– Garoto! Fale comigo! Pelo amor da Lua!

Ele forçou as pálpebras e começou a enxergar uma figura esguia. Era uma moça de cabelos cor de pérola e pele azulada. Os olhos eram prateados e o encaravam, assustados.

– Foi alguma coisa que você comeu? Pela Deusa, o que te fez mal deste jeito?

O clérigo tentou articular uma palavra. Seu corpo ainda não o obedecia direito, então, tudo o que conseguiu foi murmurar algo parecido com ugh.

– Deusa... – a moça murmurou, colocando a mão nos lábios. – O que foi que aconteceu?

Eladar sentiu gosto de sangue. Ergueu a mão, desajeitado, e limpou a espuma que escorria da boca. Ah, sim... é isso. Uma crise. 

A moça era Faena... estavam indo para Afeldhun.

– Faena...

Ela se voltou para ele, trêmula. Eladar piscou.

Minha visão... está aberta...

A iluminação tênue que ele começara a enxergar na noite anterior agora era uma poderosa aura prateada, que pulsava no ritmo do coração acelerado de Faena. Do peito dela saia um fio de luz rosa claro, que se estendia até o clérigo e crescia, envolvendo-o como um casulo. Eladar já vira algo parecido muitas vezes; sabia do que se tratava.

Ela... ela...

Faena, nesse momento, passou um dos braços por debaixo dos ombros do garoto e o ergueu. Parecia achar que Eladar não a estava escutando ou enxergando. O fio rosado tremeluzia, agitado.

– Consegue ficar sentado? Consegue me ouvir?

Ela se afeiçoou. Pelo menos um pouco. O fio está fino, mas está ali.

– Faena... – Eladar conseguiu dizer, com uma voz arrastada. – O que... aconteceu?

Graças a Deusa, a dokalfar pensou. Ela mordeu os lábios e procurou evitar que os olhos demonstrassem seu alívio. Nunca me senti tão ridícula em toda a minha vida.

– Sou eu que pergunto, clérigo. – Ela ralhou. – Que diabos aconteceu com você? Se debateu como um peixe fora d'água, espumou como um cão raivoso e ficou mais azulado do que eu. Achei que ia morrer.

El tentou rir.

– Então... foi isso mesmo... – ele murmurou. – Não se preocupe. Eu tenho esse problema desde pequeno... é feio... mas não é nada.

Ela respirou fundo. Ainda apoiava as costas dele com as mãos.

– Por que não me contou, garoto? Não parece "nada". Você vai ficar bem?

Ele sacudiu a cabeça, assentindo.

– Vou. Prometo.

Eladar fechou os olhos. Estava mesmo aberto, e muito. A luz, os cheiros e os sons faziam uma verdadeira festa com seus sentidos. Sua cabeça parecia prestes a explodir. O que foi que eu vi antes? Não consigo me lembrar... mas... sei que alguém está chegando aqui...

Alguém hostil.

– Temos que sair daqui. – Eladar balbuciou. – Tem alguém vindo.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora