Capítulo 53 - Violeta

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"Meu querido El,

Pedi a sua irmã que lhe entregasse esta carta no seu aniversário porque não estarei aí para abraçá-lo, filho. Ao menos não fisicamente. Você e Lily sabem que estou com vocês em mente e coração todos os dias, mas creio que estas palavras servirão para deixar essa certeza um pouco mais forte.

El, não vou enfastiá-lo com histórias sobre quando você ainda era um bebê em meu colo, ou sobre quando era uma criança e precisava segurar minha mão e a de seu pai para dormir em noites de tempestade. Seria uma tremenda falta de criatividade da minha parte, embora você seja muito gentil para sequer reclamar da quantidade de vezes em que já relatei o dia do seu nascimento, por exemplo ('um dia de sol, tão iluminado quanto você...'). Então, prometo que hoje será diferente.

Na verdade, meu filho, quero lhe contar de um sonho que tive quando você era um garoto de quatro anos, logo depois daquela febre forte que durou dias, lembra? Eu não sei porque nunca lhe contei, El, mas sempre achei que precisava esperar pelo momento certo. Por algum motivo – e quero que confie no meu coração de mãe – creio que este momento chegou. Ainda assim, eu preciso que você entenda algumas coisas antes de ir direto ao ponto.

Eladar... você sabe que estava no meu ventre quando eu e seu pai fomos para Rodrom enfrentar a pior ameaça que este mundo já viu. Um pouco antes disso, querido, eu sonhei com você (ainda não é o sonho sobre o qual quero falar!), e foi assim que descobri que estava grávida. Você me disse que eu o chamaria de Eladar; depois, pediu que eu não tirasse meu crescente de platina do pescoço (sim, o mesmo que eu dei para sua irmã), e hoje sei que ele realmente nos protegeu, e que a Deusa estava conosco.

Contudo, eu sempre me perguntei se o que passamos naquele dia em Rodrom teria afetado meu bebê... e quando as crises começaram, querido, foi como se meu mundo tivesse ruído. Eu havia escolhido ir até aquele lugar maldito com você. Na minha cabeça, a febre que quase o matou e as convulsões eram produto de alguma energia residual de Rodrom, algo que havia ficado no meu filho. E a culpa... a culpa era minha.

Seu pai tentou me consolar de todas as formas, querido, e esta foi uma das únicas vezes em que as palavras de meu amado Myron não foram suficientes para acalmar meu coração. Eu rezei à Deusa todas as noites, pedindo para que ela extirpasse qualquer coisa que estivesse lhe fazendo mal. Você deve se lembrar dos rituais que fizemos, dos banhos com ervas, dos incensos e orações. Seu pai e eu fechamos sua visão, e Myron me disse que não havia mal em você, que eu precisava parar de ver o que você tinha como algo ruim que eu havia causado. Ao invés disso, precisávamos ensiná-lo a lidar consigo mesmo e a ser forte. Foi isso que seu pai fez e vem fazendo incansavelmente, El, e eu amo Myron ainda mais por sempre ter confiado em você e em seu coração.

Bem, eu não quero que pense que eu também não confio, meu querido. Eu acredito que você e Lily são as melhores e mais preciosas pessoas deste mundo. Mas... ver um filho prostrado não é fácil para uma mãe, El, ainda mais para uma mãe jovem e inexperiente como eu era. A culpa que eu sentia me atrapalhava em tudo... mas então, uma noite, eu tive o sonho que vou lhe contar agora.

Eu estava com você no colo, naquela praia perto de Anderion. No começo, foi bem angustiante. Havia uma sombra sobre nós dois. Você estava muito gelado e eu tentava alcançar o sol, mas não conseguia, porque a sombra não saía de cima de nós. Quanto mais eu corria, mais escuro ficava, e mais lágrimas saíam dos meus olhos. A certa altura, eu desisti, me deitei sobre a areia e o abracei para tentar esquentá-lo. Quando olhei para seu rosto, querido, você estava sorrindo, e me disse: 'mamãe, eu não estou com frio.'

Então, você esticou suas mãos em minha direção. Uma delas segurava o meu velho crescente de platina; na outra, havia uma rosa branca - um símbolo de Nuvara. Eu fiquei olhando para aquela flor, intrigada, lembrando-me da princesa Drimme e dos anos que havíamos passado na ilha dos einar antes de você nascer. A rosa foi, aos poucos, mudando de cor, assumindo um tom violeta vibrante. De repente, você se levantou, e quando olhei para meu filho, ele não era mais um menino. Era um rapaz que me oferecia a mão, um jovem exatamente igual ao que você é hoje, El.

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⏰ Última atualização: May 06, 2017 ⏰

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Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora