Cartas (Steve Rogers)

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"Sinto muito, mas você está só mentindo para si mesma.", ele falou, limpando as marcas de copo sobre o balcão.

Olhei para ele, ainda mantendo a cabeça abaixada em direção a carta. Ele tomou o meu olhar como um sinal para continuar: "Se você achasse que deveria ficar no passado, não estaria bebendo tantos drinques sobre o assunto. Seja lá o que for que esteja escrito aí...", ele apontou para o envelope e depois voltou a me fitar. "Você quer saber. Precisa saber."

"É do meu ex-namorado.", eu comentei. Sabia que agora precisaria conversar com alguém e ninguém melhor que um homem idoso, experiente. "Nós tivemos uma briga feia... eu disse para ele coisas que eu, talvez, não devesse ter dito."

"O que você disse a ele?"

"A verdade.", murmurei, de olhos no envelope.

"Então, minha filha, você fez bem em dizer. A verdade dói, rompe relacionamentos, amizades... mas, ela sempre deve ser dita."

"Mas, talvez... a minha verdade não seja a dele."

"Ainda assim é a verdade.", ele disse, apontando para mim. "A sua verdade. A verdade sob o seu ponto de vista. E todos os pontos de vista estão certos, querida. São as mil e uma possibilidades de interpretar um mesmo quadro, entende?"

Lentamente ergui a cabeça, olhando com maior atenção para o bartender. Ele era um homem tão sábio... parecia um anjo colocado no meu caminho, apenas com a função de me orientar. E fornecer-me álcool. "Obrigada, senhor..."

"Stanley.", ele disse, oferecendo-me a mão em um cumprimento.

Apertei-a. "S/N."

"Espero vê-la novamente, S/N. Em um melhor dia...", Stanley comentou.

"Verá.", eu disse, levantando-me do banco. "Obrigada mesmo.", repeti. Ele assentiu em resposta e eu segui para casa.

Não resistindo mais a curiosidade, abri o envelope. Era uma carta romântica, ao estilo de Rogers, repleta de arrependimento e palavras de saudade. Senti meus olhos marejarem, mas não deixei-me chorar. Eu tinha feito a promessa de não derramar mais nenhuma lágrima por Steve.

Ao chegar em casa, porém, vendo aquela figura alta diante de mim, senti-me como se perdesse o chão sob os meus pés. Ele estava lá, olhando para mim... com todas as cartas que enviara, lacradas. Porém, por um segundo, captei um ar de felicidade naqueles olhos azuis. Ele estava olhando para a carta aberta que eu trazia em mãos.

"Vermelho sempre foi a sua cor favorita.", ele comentou. "Sabia que acabaria por abri-la."

"Usando psicologia para tentar se comunicar com uma mulher, Rogers? Golpe baixo, até mesmo para você."

Ele sorriu. "Um homem, quando realmente ama uma mulher, usa de todos os meios - possíveis e impossíveis - para conquistá-la. Ou, reconquistá-la.", Steve se corrigiu, largando o bolo de cartas na mesa.

"Depois de todo esse tempo... você não veio aqui só para flertar.", eu disse, apoiando as minhas costas contra a parede, pois sentia o mundo girar diante de mim. "O que você quer?"

"Se tivesse lido minhas cartas, saberia.", ele retrucou. "Aliás, pra que guardá-las, se não estivesse interessada em lê-las?"

"Talvez eu gostasse de sua insistência.", eu ri.

Provavelmente estava a fazer papel de boba, mas é isso que o amor e o álcool faz com as pessoas.

"Eu amo a sua risada.", ele disse, se aproximando de mim. "Andou tentando afogar as mágoas?"

"Não é da sua conta."

Ele riu baixinho. "Espero que tenha tido uma boa conversa com o Stanley."

Franzi o cenho. Depois senti meu queixo cair, em câmera lenta. "Você estava lá?"

"Não.", ele respondeu rapidamente. Porém, sob um dos meus olhares, ele cedeu. "Sim..."

Balancei a cabeça, afastando-me de Steve e me sentando em uma cadeira na cozinha.

"Em minha defesa...", ele disse, erguendo as mãos. "Eu estava lá para falar com ele... Stanley é um bom amigo."

"Sei.", ironizei.

"É verdade, S/N... olha...", Steve se sentou em outra cadeira, de frente para mim. "Eu não voltei aqui para brigar. Eu senti sua falta. Eu quero me redimir com você."

Ele segurou a minha mão, fazendo-me carinho com seu polegar.

Senti tanto a falta de seus toques...

"Eu te decepcionei. Eu sei... ultimamente parece que é só o que eu sei fazer. Eu sinto muito.", ele suspirou. "Mas, eu quero que saiba que eu estou disposto a fazer qualquer coisa para tê-la de volta."

"Até mesmo esquecer o Bucky?", perguntei. Ele me fitou em silêncio. "Pois é, achei que não. Você costumava a ser leal assim... comigo."

"Eu ainda sou."

"Eu tenho minhas dúvidas..."

Ele se inclinou sobre a mesa, pousando sua mão livre no meu rosto. Estava tão próximo que eu pude sentir sua respiração. "Como você quer que eu as esclareça para você?", ele perguntou, deslizando seu polegar sobre os meus lábios.

Sem pensar, sussurrei: "Beije-me."

E então o capitão seguiu as minhas ordens.

Seus lábios encaixavam-se perfeitamente nos meus. O calor de suas mãos, pousadas no meu rosto, ainda resultavam na mesma sensação: a de pertencer a alguém. Os arrepios que percorrem o corpo, como descargas de eletricidade. Eu sentia falta disso. Da cor de seus olhos... do seu perfume.

Afastando-se e fitando-me com um doce olhar, ele traduziu em palavras os seus toques: "Eu amo você."

Eu já sabia, mas agora... tinha certeza.

Marvel Imagines [por: Star Sapphire]Where stories live. Discover now