Parte 2 - Capítulo 10 - Vinte Minutos

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Beije-me sob o crepúsculo

Leve-me pra fora, no chão iluminado pela lua

Levante sua mão aberta

Faça a banda tocar e faça os vaga-lumes dançarem

A lua prateada está brilhando

Então, me beije

Kiss Me – Sixpence None The Richer

– Vocês tem vinte minutos.

E essa era a Veronica, com o dom de me desesperar.

Olhei uma última vez no espelho para checar. A maquiagem que o Arthur havia feito em mim estava impecável. O cabelo também estava muito bonito: partido de lado, com alguns cachos na ponta. Um batom vermelho que eu mesma passara para completar o visual, e a roupa que eu usaria no primeiro bloco do show: uma pequena saia rodada vermelha, com um cropped preto com muitos brilhantes e uma jaqueta de colegial vermelha por cima. E um All-Stars que eu ainda precisava calçar. Quem abria um show de All-Stars? Seria ao menos divertido.

Pedi que minha mãe me entregasse os tênis, sentei no sofá branco que ficava no camarim ao lado da penteadeira e calcei os tênis. Amarrei bem apertado, para dar sorte. Olhei para minha mãe que estava com lágrimas nos olhos, mas sorri. Agora já sentia nas minhas veias a adrenalina, a ansiedade, a vontade de realizar logo o primeiro show, de cantar as músicas do lado de Phelipe de novo, mas na frente de centenas de pessoa. E estava na hora.

O John, que era o produtor do show entrou no camarim ao lado de um rapaz que eu não conhecia. Era um menino jovem, e talvez eu já tivesse visto-o nos ensaios antes, mas eu não tinha certeza.

– Camila, esse é o seu retorno – o John disse pegando das mãos do rapaz algo parecido com um fone de ouvido, mas um pouco maior e transparente. Ele preenchia toda a parte interna da minha orelha, e além de um protetor auditivo, o pequeno aparelho também fazia com que eu escutasse a minha voz, a do Phelipe e todos os instrumentos da banda. Na verdade, aquilo fazia com que eu escutasse melhor a parte musical do show, bem como a minha própria voz, no meio dos gritos dos fãs.

– Ok... Obrigada – falei, ajeitando o aparelho.

– E isso é a bateria e o receptor – o rapaz falou em inglês, me mostrando uma caixinha preta a qual havia um fio ligado e que ia até o receptor. Ele então passou o fio pelas minhas costas e prendeu a caixinha ao meu cropped, num espaço reservado para ele ali. Era como um mini bolso. – Agora eu preciso que você teste, como nos ensaios. Pode cantar, por favor?

Achei aquilo engraçado – aquilo e o olhar de todos no camarim em mim. Dos meus pais, do Arthur, do Pedro e da Veronica. Cantei algumas notas e fiz algumas firulas vocais no microfone que o rapaz segurava, pouco antes dele me entregar. Era gelado e prateado. Brilhante.

– Conseguiu se ouvir bem?

– Sim – sorri. – Consegui.

O rapaz deu um sorriso simpático, com alguns dentes não alinhados que eram até bem charmosos.

– Ótimo. Está tudo pronto. O Phelipe está esperando lá fora – o rapaz disse de novo, me guiando até a porta do camarim e abrindo-a em seguida. – Está pronta?

– Sim – falei, e ele levou a mão a maçaneta do camarim. – Espera!

Ele parou com a mão no trinco e virou para mim, confuso.

– Acho que ainda não fomos apresentados – eu disse estendendo a mão para cumprimentá-lo. – Camila. Você é?

– Michael – ele disse apertando minha mão brevemente, com um sorriso. – Sou seu técnico de som.

Meu técnico de som – pensei. Não sabia exatamente o que ele era, mas um técnico de som parecia importante. Ele abriu a porta e antes mesmo que eu visse o Phelipe, meu coração palpitou.

Eu estava um passo mais perto do palco.

Agora estávamos lado a lado, de mãos dadas, eu e o Phelipe. Com os microfones nas mãos livres, caminhando pelos corredores escuros que nos levavam até o fundo do palco. Havia uma infinidade de canos e placas com setas, mas a Veronica e o Arthur foram nos guiando até chegamos a um lugar melhor iluminado – a arena – e finalmente vimos o palco de trás.

Dali, os gritos eram muito mais audíveis, e o DJ ainda tocava no palco para animar a plateia. Então a Veronica falou algo num aparelho e de repente, as luzes da arena se apagaram. Imediatamente os gritos ficaram muito mais altos, fazendo com que eu me arrepiasse completamente. O Phelipe apertou mais a minha mão e eu sorri para ele, que usava uma calça jeans com alguns cortes no joelho, um tênis meio social e uma camisa branca por baixo de um blazer cinza.

Sinceramente, ele estava incrível.

A Veronica perguntou se estávamos prontos e, depois de uma oração em grupo, a banda foi se posicionar no palco e eu e o Phelipe seguimos por baixo das estruturas de metal, até o elevador, que estava no chão esperando por nós. A Veronica novamente falou algo no aparelho e algumas luzes se acenderam.

A plateia gritou de novo e ouvi no retorno auditivo um som que eu conhecia do vídeo de introdução do show.

Ouvi mais gritos.

Os primeiros arranjos da banda.

Vi as luzes se acendendo sobre nós, e olhei para o Phelipe uma última vez. Ele sorriu, e eu me senti segura.

Acho que o ouvi dizer alguma coisa, mas não tive certeza. O chão sob nós tremeu e eu sabia que era o elevador subindo. Senti o cheiro da fumaça cênica que cobria o palco, como nos ensaios, e olhei para frente, vendo aos poucos a arena aparecer, lotada de rostos, mãos para o alto e câmeras disparando flashes.

Os fãs ainda gritavam quando chegamos ao topo da escada vermelha. Era hora de começar o show, mas algo ainda ecoava na minha cabeça.

– Me lembre de te dar um beijo depois desse show.

É, acho que foi isso que o Phelipe falou.


Um Amor, Um Café & Nova York 3Where stories live. Discover now