5. Meu amigo desaparece em meio à névoa

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Maxon Carter


Se tinha uma coisa que eu não estava era focado em ler aquele livro que Thomas me dera. Eu sei que na tarde seguinte eu tinha que saber qual a diferença entre bruxos, feiticeiros e magos, mas minha cabeça estava pesada, cheia de dúvidas. Não pelo fato de eu ser um feiticeiro, isso eu aceitei facilmente.

Inspirei com força, sentindo o ar preencher meus pulmões, e tentei me concentrar no livro aberto sobre minhas pernas cruzadas.

Feiticeiros são mágicos que podem realizar feitiços.

Como se não fosse óbvio.

Antigamente, nos tempos em que humanos e mágicos viviam em harmonia, feiticeiros utilizavam suas habilidades em confrontos contra seres místicos que ameaçavam a paz no mundo. Por serem pessoas com faculdades mágicas voltadas a manipulação da realidade, também eram comumente convocados para construção de templos e artefatos de poder.

Continuei lendo por mais alguns minutos, tentando absorver o máximo de informações, o que meu cérebro não parecia aceitar. Por quê? Bem, eu era um mágico, tinha um avô fantasma, o que me fez pensar que minha família também era. Thomas mesmo falou que os clãs dos quais eu descendia eram rivais por séculos, ambos com magia no sangue. Isso, para minha perturbação, significava que minha mãe e irmã também podiam ser feiticeiras. Talvez elas não saibam. Melhor ficar calado.

E isso passou a ser a melhor explicação, pois senão nossa mãe teria nos contado sobre isso. Talvez ela soubesse de onde descendia, mas não queria nos envolver no meio. O que faria muito sentido. Isso, por fim, me deu vazão para acreditar que era o principal motivo para minha avó e tios maternos não se importarem conosco.

Suspirei, erguendo-me, e lançando o livro sobre a cama. Estalei as costas e olhei pela janela. O dia estava claro, ótimo para um passeio. Conferi meu celular, marcava 10h13. Eu ainda tinha algumas horas antes de mamãe chegar de sua caça ao trabalho para o almoço.

Coloquei o tênis e desci a escadaria com calma, evitando fazer barulho, caso contrário, a mocreia da minha irmã me torraria a paciência. Antes de descer do último degrau, lancei minha mão para frente, em direção a porta, e murmurei "Abra". Nada aconteceu. Meus ombros murcharam. Se eu consegui antes, haveria de conseguir de novo, não? Teimoso, ergui a mão novamente e, com um pouco mais de ênfase, sussurrei "Abra". Os pelos ao longo do meu braço arrepiaram, me fazendo sentir um estranho formigamento, e a maçaneta girou junto da chave. Com um leve rangido, a porta se abriu, deixando a luz invadir parte da sala. Sorri.

Quando passei em frente a cozinha, vi Vick se aprumando na cadeira, na qual tomava café. Ela me avistou e se empertigou, fazendo menção em me questionar. Sem lhe dar trela, atravessei a entrada rapidamente, mandando um segundo comando: "Feche". A porta bateu, trancando-se. Como eu nunca descobri isso antes?!

Sem saber exatamente para onde ir, segui umas três quadras pela rua Adolfo Tiskoski até chegar em frente ao supermercado que avistara no domingo. Virei à esquerda, na direção norte. Caminhei sem pressa, sentindo o ar me recarregar. Por algum motivo, meu coração estava descompassado e minha respiração, acelerada. Talvez o uso inconsciente de magia provocasse isso. Dei de ombros. Na próxima esquina, havia um centro para menores — o CEAC. Algumas crianças e adolescentes brincavam ou conversavam no pátio entre as construções, numa espécie de recreio. Do outro lado da avenida, um parquinho de diversão para crianças, caindo aos pedaços, dividia espaço com um campo de futebol, logo ao lado, onde vários garotos de diferentes idades jogavam uma partida.

[DEGUSTAÇÃO] Maxon Carter e os Artefatos de Merlin #1Onde histórias criam vida. Descubra agora