4. Ganho um professor fantasma

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Maxon Carter


— Aonde você vai? — indagou Vick, parada na porta lateral da cozinha.

— E te interessa? — retorqui, seco.

Quando fiz menção de continuar, ela me impediu, segurando meu braço.

— Olhe, eu sei que você não gosta muito de mim, mas se mamãe descobrir que você saiu sozinho, ela vai te matar e me matar.

Pisquei.

— Ó, é incrível o fato de você estar preocupada comigo...

— Não estou preocupada, não!

— ... mas não há o que temer — continuei. — Não vou longe, mamãe nem vai saber. Encontrei um... um, umas pedras para adicionar a minha coleção, sabe? Posso demorar um pouco, mas prometo que nada de mais irá acontecer. Ok?

Minha irmã abriu a boca para retrucar quando lancei:

— Aliás, nós não fizemos um acordo? Não se meta na minha vida que não me meterei na sua.

Vick me lançou um olhar interrogativo e suspirou, por fim. Não consegui sequer imaginar o que estaria pensando, mas parecia descobrir meus pensamentos — o que só a ideia já era perturbadora o suficiente. No fim, ela fez uma careta e permitiu que eu saísse, sem mais protestar.

— Você e essa sua coleção de pedras — resmungou enquanto me dava as costas.

Fechei a porta atrás de mim e segui, tomando o cuidado para que minha irmã não visse, para o porão. Eu esperava que aquilo ainda estivesse lá.

Como mamãe saiu para fazer compras no mercado para abastecer nosso armário e comprar algumas coisas para a casa, eu teria tempo de sobra para descobrir o que acontecera no dia anterior.

Quando cheguei à porta dupla do porão, senti um frio percorrer toda a extensão da minha coluna. Não era frio e muito menos medo, mas algum tipo de presença, como se naquele lugar existisse algo que não deveria estar ali. Era o que eu vinha sentindo desde que nos mudamos no sábado, e agora, talvez, eu poderia desvendar o motivo daquilo estar presente.

Hesitei, confesso, mas respirei fundo, toquei no cadeado e, com um comando verbal, se abriu, soltando a corrente que prendia a porta. Sem mais delongas, desci a escadaria, sentindo uma fina névoa acariciar minhas pernas desnudas pela bermuda.

Esfreguei meus olhos quando desci do último degrau. Eu não acreditava no que estava vendo, só podia estar doente da cabeça. O porão estava tomado por uma bruma fantasmagórica e assustadora, que se retorcia em espirais, ganhando forma e cor. A temperatura ali em baixo estava muito baixa e as luzes não paravam de piscar.

— Não tenha medo, Maxon — fez-se ouvir uma voz, distante, vinda do coração da neblina pulsante.

— O que está acontecendo? — consegui soltar.

A bruma que se espalhava pelo porão se amontoou em um único ponto, dando forma ao que parecia o corpo de um homem. Não demorou muito para que lentamente ganhasse cor.

— Ah... você está grande, minha criança — ouvi.

— O que está acontecendo? — repeti com mais ênfase. Minhas pernas tremiam, meu coração disparou. A ansiedade por uma resposta direta quase me fez arrancar os cabelos.

O ar gélido amornou. Um homem tomou forma em meio à névoa esbranquiçada, aparentava ter uns cinquenta anos, cabelos grisalhos, não era muito e vestia (se é que posso dizer assim) uma camisa branca por dentro da calça azul.

[DEGUSTAÇÃO] Maxon Carter e os Artefatos de Merlin #1Where stories live. Discover now