3. Faço um novo amigo (após brigar com um desconhecido)

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Maxon Carter


Não faço ideia do que minha mãe e irmã pensaram quando passei correndo por elas na sala, aparentemente conversando sobre a briga que Vick e eu tivemos mais cedo.

— Maxon — alguém chamou, mas não dei atenção.

Eu subi a escada como um foguete até chegar ao meu quarto. Bati a porta atrás de mim e me sentei na cama, as molas rangendo sob meu peso. Minha sanidade não estava em perfeitas condições. Se aquilo fosse mesmo o que eu estava pensando, então...

Espera. Fantasmas não existem! — ou pelo menos não deveriam existir. Eu estava quase tendo um ataque epilético e pela primeira vez sentia medo. Não, medo não, apreensão. Não tanto pelo fantasma em si, eu percebi, mas pelo fato de ele saber quem eu era, afinal, como já mencionei, coisas estranhas aconteciam, e fantasmas e aparições eram a parte mais comum. Então, rapidamente, minha negação se foi embora. É, aquilo é realmente um fantasma. A dúvida que passou a tomar meu cérebro então era: seria ele o tio Alexander?

Fui até a janela, a cabeça tomada por indagações. O sol, abaixando lentamente para o horizonte, não me reconfortava. Era principalmente à noite que as criaturas surgiam no mundo, era após o crepúsculo que surgia a coragem. Então por que eu tive medo? Aonde estaria a coragem que eu sempre cultivei? Como certa vez que vi um lobo sobre duas patas e corpo humanoide e não me assustei. Eu ainda morava em Florianópolis e estava na praia com meus amigos, quando avistei a criatura de longe. Por um minuto achei estar endoidando, como sempre, até o dia em que fui à Fortaleza de São José da Ponta Grossa, única com acesso por terra e que, com outras duas, formava o triângulo defensivo da Baía Norte, idealizado por José da Silva Paes, em 1740. Foi lá que tive meu primeiro contato com um fantasma; na verdade, estava mais para uma sombra do passado, pois não interagia com ninguém. Fardado, o homem andava de um lado para o outro na guarita, sempre conferindo o mar ao norte, como se esperasse um ataque iminente. Eu apontei para ele, mostrando aos meus amigos, e Samanta zombou da minha cara, dizendo que ninguém estava lá. Depois disso, não comentei mais com eles sobre essas aparições, principalmente na fortaleza, que estava cheia delas. Eu queria entender na época o que estava acontecendo, mas acabei deixando isso de lado.

Mas as coisas continuaram a piorar, e, certa vez, me vi na presença de uma bela mulher de cabelos longos e avermelhados. Ela surgira no meu quarto de súbito e me falava algo sobre o destino da Humanidade estar nas mãos daquele que traria as verdades obscuras. Minha mãe bateu à porta ao perceber que eu falava "sozinho" e, quando percebi, a mulher já havia sumido.

Por tanto tempo ignorei essas coisas e até achei ter me livrado delas, porém, a casa nova parecia me dizer que o irreal jamais me abandonaria. Eu já era grande o suficiente para saber que isso não era minha imaginação infantil.

— Maxon! Você está bem? — disse minha mãe batendo na porta.

Suspirei, atravessando o quarto, e a abri. Os olhos vermelhos dela demostravam cansaço ou que chorara. O mais provável era a segunda opção.

— Maxon, você está bem? — repetiu.

Engoli em seco.

— Sim, mãe. Eu... eu só estou cansado — menti.

Seu olhar perscrutador passou por meu quarto antes de pousar em mim.

— Nós precisamos conversar filho. Você e Victória, será que nunca irão parar com as brigas? Vocês são irmãos!

— Eu sei mãe — disse —, mas Vick e eu somos muito diferentes, e ela sempre tá me enchendo a paciência.

— Não estou não! — gritou minha irmã do quarto dela, ao lado do meu.

[DEGUSTAÇÃO] Maxon Carter e os Artefatos de Merlin #1Where stories live. Discover now