Capítulo 01: Elevator Love Letter

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I'm so hard for a rich girl
my heels are high, my eyes cast low
'cause I don't know how to love

[i get too tired after midday, maybe]

(...)

i'm so hard for the rich girl
her heels so high and my hopes so low
'cause i don't know how to love you

(Elevator Love Letter – Stars) 

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Bárbara

Nunca na minha vida eu tive um dia tão ruim.

Praticamente rosnei para o porteiro quando ele abriu o portão de ferro pesado para mim e nem tive a decência de me sentir mal por isso. Arrastei-me pelo longo corredor da portaria, em direção ao elevador que iria, finalmente, me levar para casa.

Senti vontade de arrancar meus sapatos bicudos ali mesmo, enquanto esperava o elevador chegar. Será que ficaria muito feio? Eu não entendia muito bem o protocolo social do Brasil, onde as pessoas achavam ok andar com aquelas sandálias horrendas e os pés sujos, de areia, mas provavelmente andar descalço não era chique. E imagina se eu pego alguma doença tropical muito louca? Contraí meus dedinhos, choramingando por dentro.

Meu celular começou a tocar, interrompendo minhas lamúrias e eu me distraí, procurando-o na minha bolsa gigantesca. Muito em breve eu também pararia de andar com essa bolsa gigantesca. Cada vez mais parecia uma péssima ideia ostentar minha Prada nas ruas brasileiras. Vou ter que substituir por uma menor, talvez da Chanel. Meu celular parou de tocar, mas eu o alcancei no momento que ele começou a tocar de novo

— O QUÊ? — Praticamente gritei, levando-o ao ouvido.

Nem sequer vi quem estava ligando. Fiquei arrependida por alguns segundos, afinal, podia ser qualquer pessoa. E existia uma série de pessoas que tinham aquele número e eu não queria falar. Só me tranquilizei quando ouvi a voz de Ruth, minha melhor amiga, do outro lado.

— Eu não entendi nada — disse ela, em inglês.

Meu grito havia sido em português, mas ela continuava morando em Monterrey, na Califórnia, nossa terra natal e, obviamente, não tinha entendido uma palavra do meu escarcéu. Eu estava longe de saber falar português, mas estava aprendendo na marra. É isso que acontece quando você é jogada no meio de uma cidade como o Rio de Janeiro e precisa se virar. Andei ao lado de um interprete, nas primeiras semanas, mas meu pai fez questão de contratar um professor particular para mim e para minha mãe logo depois.

Eu suspirei, irritada.

— Aconteceu alguma coisa? — Ruth tentou de novo.

— Aconteceu sim. Tudo e mais um pouco! — eu mudei a chave, para dizer tudo em inglês. — Tive um dia horrível e não estou nem um pouco a fim de falar sobre isso.

Meus dias horríveis começaram naquele jantar, três meses atrás. Meu pai reuniu a família e seus sócios para dar um "anúncio especial". Eu achei que ele ia anunciar uma aposentadoria adiantada, sinceramente. Mas não. O que ele queria anunciar mesmo era a abertura de uma nova sede da empresa no Brasil e dizer que ele mesmo seria o responsável por tocar essa nova empreitada. Eu deveria ter berrado, no meio da mesa mesmo. Deveria ter gritado initerruptamente até ele mudar de ideia. Mas nãããão... Fui fazer a lady! Pedi licença para os convidados e saí andando na direção do banheiro do hotel onde se realizava o jantar. Por conta disso nem consegui ouvir o final do discurso, afinal, estava ocupada demais gritando feito uma maluca e vomitando todos os frutos do mar do jantar.

Chinelo e Salto AltoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora