Cresça!

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Confusa. Magoada. Curiosa. É assim que eu estou me sentindo agora. Depois de anos sem nem falar comigo direito, meu pai resolve falar dela. A mulher que é desconhecida por mim, que até onde eu sei, está morta. Minha mãe.

Será que eu devo chamar ela assim? Será que eu devo chamar de mãe um ser que eu nunca tive nenhum tipo de contato? Eu não sei de mais nada. Nem se ela está realmente morta. Nunca pensei que diria uma coisa dessa, mas eu espero que sim.

Mas por quê? Por que agora ele resolve me falar dela? Todas as vezes que eu perguntei ele me trancava dentro do quarto e me dizia para nunca mais mencionar esse assunto.

Tudo começou hoje de manhã. Exatamente as 7:37 a.m., quando eu cheguei de uma festa. Meu pai estava me esperando na sala, e quando eu ia subir pro meu quarto, ele me puxou pelo braço. Mas não puxou tipo "espera, preciso falar com você". Foi com força, ele apertou o meu braço e me jogou no sofá.

Na hora eu não entendi nada, ainda estava sobre o efeito do álcool. Tentei levantar mas ele me empurrou. E aí começou a gritar comigo.

// Flashback on

- Fica sentada aí porque eu nem comecei ainda. - disse rude. - É assim que você quer passar o resto da sua vida, Lana? Como uma adolescente rebelde, mimada que quer ter o controle de tudo? - consigo sentir o cheiro de whisky saindo da sua boca.

- É sério isso? Bebeu uma garrafa inteira de whisky e criou coragem pra me xingar? - pergunto entre risos. - Me poupe! Eu já sou de maior e sei muito bem me virar sozinha! -

- NÃO! VOCÊ NÃO SABE! NÃO SABE NADA DA SUA VIDA! NÃO SABE QUE ESTÁ NA HORA DE ACEITAR QUE VOCÊ NÃO É MAIS AQUELA ADOLESCENTE FÚTIL! - aponta o dedo na minha cara.- Me diga. Quando é que você vai sair debaixo da minha asa? Quando vai criar vergonha nessa sua cara e procurar um lugar pra você morar? Ou vai querer ser como a sua mãe? Depender do dinheiro dos outros pra se manter viva? -

Ele foi longe demais. Ele poderia me comparar com qualquer pessoa, menos com ela. Eu não sou como ela. Nunca vou ser. Nunca. No impulso, me levanto e empurro ele, fazendo o mesmo cair na poltrona.

- É isso que você quer? Que eu saia de casa? Por que não disse antes? Não precisava de tudo isso. Não precisava me comparar com essa mulher. Eu posso ser tudo, menos como ela. - sinto lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Odeio chorar nessas situações, me sinto vulnerável.

- Eu quero que você cresça, Lana. Que deixe de ser essa garotinha patética. Eu não vou ficar aqui pra sempre. - diz devagar, e essas palavras me fazem pensar se eu sou realmente assim. - A sua mãe era assim, e pelo o que eu vi, só piora. Não quero que seja como ela.- fecho a mão em punho e aperto com toda a minha força.

- Para de fingir que se importa. - depois de dizer isso me viro e saio correndo. Subo pro meu quarto e me tranco lá dentro.

Flashback off//

"A sua mãe era assim, e pelo o que eu vi, só piora"

Essas palavras ecoam na minha cabeça sem parar. Ela está morta, não tem como piorar. A menos que não esteja.

Não, não e não. Ela está totalmente morta, isso é impossível e eu vou parar de pensar besteira.

Fecho o zíper da minha mala e a coloco no chão. Pego minha bolsa, a mala e saio do quarto. Desço as escadas com um pouco de dificuldade.

E lá estava ele. Encostado na pequena adega que tinha na enorme sala. Me olhando como se estivesse procurando algo para falar.

Passo direto pra cozinha, para me despedir de Clotilde e Carminha. Clotilde está escorada na pia chorando como uma condenada. Sorrio fraco e vou até ela, a abraçando forte.

- Oh, menina Lana. Tem certeza que quer ir embora? Você pode ficar no meu quarto. É pequeno mas cabe você e suas coisinhas. - diz entre soluços.

- Eu preciso ir, Clotilde. - acaricio sua costas.- Mas eu prometo que assim que eu conseguir uma casa, você vai pra lá morar comigo, tudo bem? - separo o abraço e a encaro sorrindo.

- Tudo bem. - sorri fraco.

Olho para a bancada e vejo Carminha cortando tomate com lágrimas nos olhos. Me aproximo dela e a abraço. Mesmo que ela não queira, eu vou sentir falta.

- Por que está chorando, Carminha? - pergunto olhando pra ela.

- Não é nada, menina Lana. É que cortar cebola faz a gente chorar. - diz fungando. Rio e a abraço de novo.

- Tudo bem então, até qualquer hora, DONA Carminha. -

Caminho até a porta, mas antes de sair, me viro e mando um beijo para elas. Vou para sala e pego minha mala. Vou sentir falta daqui, mas sabia que essa hora iria chegar.

- Posso saber para onde você vai? - antes que eu pudesse sair daquela casa, meu pai resolve falar comigo.

- Já sou bem grandinha pra te dar satisfações, não acha?- pergunto com sarcasmo na voz.

- As pessoas não amadurecem em menos de uma hora, Lana. Muito menos você. - diz se aproximando.

- Então é melhor deixar eu fazer isso sozinha. - saio de lá sem deixar ele se pronunciar.

Caminho em direção a saída, faço sinal para um segurança que estava na portaria abrir o portão para mim. Assim que ele o faz saio e começo a caminhar para um ponto de táxi.

Talvez ele tenha razão. Talvez eu ainda seja a antiga Lana, que se fazia de forte mas no fundo era fraca e frágil. Me mostrar forte era meu escudo. Não gostava de admitir nada, não ligava para o que podia me acontecer, porque sabia que o papai estaria lá para resolver todos os seus problemas. E não me lembro de ter mudado muito.

Pela primeira vez eu vou seguir o conselho do meu pai. Vou arrumar um emprego, uma casa, e parar de depender dele pra tudo.

Por enquanto eu vou ficar na casa da Mel, vou esclarecer as coisas, e depois correr atrás. Vou crescer, e mostrar pra ele que eu consegui. Porque eu sou Lana Del Rey, e não desisto de nada!

Oioi manas e manos! szsz
Mais uma discórdia, porque eu adoro!
Não revisei esse capítulo, porque comecei a escrever sem parar e já vou publicar. Pra falar a verdade eu nunca reviso, bjbj.

Espero que gostem ❤

Blue JeansWhere stories live. Discover now